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03/11/2003 - 22h12

Humanista paraguaio pede fim de asilo de ex-ditador no Brasil

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da France Presse, em Assunção (Paraguai)

O humanista paraguaio Martín Almada, 66, pediu hoje, em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o governo brasileiro ponha um ponto final no asilo político concedido ao ex-ditador Alfredo Stroessner (1954-89), que vive no Brasil desde sua queda, em 1989.

Na carta, o humanista diz a Lula que um juiz paraguaio decidiu, na semana passada, ordenar a captura de Stroessner via Interpol (polícia internacional) em função da morte de sua esposa sob tortura psicológica, em 1974.

"Pela presente venho solicitar que se ponha um ponto final no asilo político concedido ao ex-ditador paraguaio porque o Brasil, sob seu ilustre governo, não pode continuar sendo o paraíso dos que cometeram crimes contra a humanidade", diz a carta.

O humanista relatou que nos chamados "Arquivos do Terror" --cerca de cinco toneladas de documentos da polícia política de Stroessner descobertos pelo próprio Almada em 1992-- existem dados reveladores sobre os crimes cometidos por Stroessner.

Responsabilidade

Almada acrescentou que nos documentos há referências à responsabilidade de ex-presidentes como João Baptista Figueiredo (1979-1985), do Brasil, Augusto Pinochet (1973-90), do Chile, Jorge Videla, (1976-81) da Argentina, e Hugo Banzer (1971-78), do Uruguai, assim como do próprio Strossner, em relação ao desaparecimento forçado de cidadãos sobre seu regime de terror.

"Também não descarto a possível intervenção de Stroessner nos assuntos internos do Brasil na qualidade de cúmplice, levando a cabo os assassinatos [dos ex-presidentes brasileiros] João Goulart (1961-1964) e Juscelino Kubitschek (1956-1961), dentro do criminoso pacto da 'Operação Condor [sistema de repressão com colaboração mútua entre os regimes militares de Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai, nos anos 70]'", acrescentou.

Em nome das organizações dos direitos humanos do Paraguai, Almada pediu também que Stroessner seja colocado à disposição da Justiça paraguaia através da Interpol.

Almada recebeu ano passado o Prêmio Right Livelihood 2002, considerado o "Nobel alternativo", criado em 1980 pelo sueco-alemão Jakob von Uexkul.

Almada foi premiado por "sua excepcional valentia e seus esforços persistentes para denunciar e processar os culpados, e acompanhar seu país no caminho da democracia, do respeito aos direitos humanos e do desenvolvimento durável".

Preso em 1974 pelos militares quando estava terminando sua tese de doutorado sobre educação e militava em associações e cooperativas, Almada foi torturado pelo "terrorismo intelectual" e só saiu dos calabouços de Stroessner três anos mais tarde.
 

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