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07/12/2003 - 08h58

Rússia vai às urnas para fortalecer Putin

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MÁRCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, busca hoje consolidar seu poder por meio de uma clara vitória de seu partido --Rússia Unida-- e das formações que o apóiam na eleição legislativa do país, que escolherá os 450 novos integrantes da Duma (a Câmara Baixa do Parlamento).

Até anteontem, todos os ventos favoreciam a embarcação oficial e a intenção de Putin de obter uma maioria folgada na Duma. Seu partido aparecia com quase 30% das intenções de voto, segundo o instituto de pesquisas russo VTsIOM-A, oito pontos percentuais acima das intenções de voto favoráveis ao Partido Comunista, de Gennady Zyuganov, um dos maiores rivais do presidente.

"O desafio de Putin é conter um avanço dos comunistas, enquanto fortalece a posição de seu partido, que só foi criado em 1999. Tudo indica que ele atingirá seu objetivo no pleito legislativo, já que, decepcionada com a transição político-econômica, boa parte do eleitorado acredita que o país ainda precise de um líder forte", explicou à Folha Mark Kramer, da Universidade Harvard (EUA).

Sua cruzada contra os chamados "oligarcas", que enriqueceram na década de 90 com o controverso processo de privatização aprovado pelo ex-presidente Boris Ieltsin, também lhe rendeu frutos, e sua popularidade atinge estratosféricos 82%, de acordo com pesquisas de opinião recentes.

Para Vladimir Kramnik, da Universidade Pública de São Petersburgo, a espetacular prisão do então presidente do gigante do setor petrolífero Yukos, Mikhail Khodorkovsky, foi providencial nesse sentido, pois mostrou aos russos a "determinação do Kremlin em sua luta contra os megaempresários corruptos".

Vale lembrar, contudo, que, disputa eleitoral à parte, a perseguição aos "oligarcas" se insere numa disputa pelo poder no Kremlin. Saem os empresários que eram próximos a Ieltsin e, sobretudo no caso de Boris Berezovsky (mídia), ajudaram a eleger Putin presidente, e entram seus ex-colegas de FSB (ex-KGB, a polícia secreta soviética). Putin dirigiu o órgão entre 1998 e 1999.

Embora os níveis de desigualdade socioeconômica da sociedade russa sejam comparáveis aos da brasileira, a economia também joga a favor do presidente. Nos últimos cinco anos, a média anual de crescimento do país foi de 6,6%, segundo a agência de notícias Bloomberg. "Além disso, o país recebeu investimentos diretos externos no valor de US$ 54 bilhões desde o colapso da União Soviética [1991]", ressaltou Fiona Hill, do Instituto Brookings (EUA).

Questão tchetchena

Ao lado do crescimento econômico e da cruzada contra os "oligarcas", considerados responsáveis pelo empobrecimento geral por 70% da população russa, a firmeza de Putin em relação aos rebeldes secessionistas tchetchenos é uma das bandeiras de sua campanha. Até o terrível atentado de anteontem --que matou dezenas de pessoas--, o presidente vinha, desde julho, conseguindo manter sua promessa de que o "problema tchetcheno estava resolvido".

Mais uma vez, o ressurgimento do terrorismo tchetcheno maculou, todavia, o quadro de sucesso que Putin buscava "vender" à sua população. O fato é que a questão da república separatista caucasiana está longe de ser resolvida, sobretudo porque a estratégia utilizada pelo Kremlin --pôr fim à insurgência manu militari a qualquer custo-- não funciona.

"Por mais que tente convencer a população de que a crise está solucionada, Putin não consegue refutar fatos tão marcantes quanto atentados sangrentos. Com isso, corre o risco de perder capital político, já que as pessoas não mais acreditam em suas promessas. Ademais, sua tentativa de ligar os tchetchenos a terroristas internacionais também não convence o eleitorado", analisou Kramnik.

Para os eleitores, questões mais prosaicas como a pobreza generalizada --20% da população russa vive com menos de US$ 70 por mês--, a corrupção na administração pública, a reforma do sistema habitacional --que pode garantir acesso mais fácil à calefação-- e a segurança parecem, por ora, ser mais importantes.

Falta de alternativas

Mesmo assim, o partido de Putin e seus aliados deverão assegurar a maioria na Duma na eleição de hoje. De acordo com Kramer, a principal razão dessa constatação é a falta de alternativas atraentes na cena política russa.

"Não há verdadeira renovação nos quadros políticos russos desde o surgimento de Putin. Os comunistas ainda são liderados por Zyuganov, que já perdeu duas eleições presidenciais. As forças da direita unida têm como comandantes os ex-vice-premiês Boris Nemtsov e Anatoly Tchubais, que não deixaram saudades. E [o ultranacionalista Vladimir] Jirinovsky ainda controla o Partido Liberal-Democrático da Rússia. Não há, portanto, renovação", avaliou Kramer.

Com tudo isso, segundo os analistas, há grandes chances de Putin vencer não apenas a eleição de hoje --por meio de seus aliados políticos--, mas também o pleito presidencial de março de 2004. Afinal, a disputa legislativa é somente uma etapa de seu projeto de manter um forte controle sobre a sociedade russa.

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