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21/12/2003 - 14h42

Governo argentino vai investigar autoria de explosão

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ELAINE COTTA
da Folha Online

O governo argentino quer descobrir os autores da explosão provocada por uma bomba colocada numa lata de lixo e que deixou 25 feridos ontem, em Buenos Aires.

O incidente ocorreu durante manifestação que reuniu mais de 15 mil pessoas na praça de Maio, na frente da Casa Rosada, sede do governo, para lembrar o segundo aniversário da queda do ex-presidente Fernando de La Rúa (1999-2001).

A decisão de intensificar as investigações veio depois que o líder de um grupo de manifestantes, o aposentado Raúl Castells, acusou o governo de ser responsável pela explosão.

"Não sei se [os integrantes do governo] foram os autores materiais [do atentado], mas sim os intelectuais", disse em entrevista ao jornal "Clarín".

O coordenador nacional do grupo de desocupados da CCC (Corrente Classista Combativa), Juan Carlos Alderete, evitou culpar o governo, mas também cobrou mais "seriedade" no rumo das investigações.

"As causas das explosões do dia 19 e 20 de dezembro (de 2001) permanecem desconhecidas, enquanto o povo continua reclamando soluções firmes para que haja paz e justiça em uma pátria livre", disse Alderete.

O chefe da Polícia Federal, comissário Eduardo Prados, negou que a explosão do artefato tenha sido um atentado. "Acreditamos que foi um acidente, mas devemos esperar o informe dos peritos", disse enquanto percorria o local do incidente.

A manifestação pretendia ser pacífica. Ao todo, foram realizados três atos em locais diferentes da cidade, que reúniram mais de 40 mil pessoas.

O protesto foi organizado por grupos de desempregados e aposentados, sindicatos e ONGs como a associação das Mães da Praça de Maio.

As duas primeiras manifestações aconteceram com tranquilidade depois da decisão do governo de montar uma operação discreta de segurança com cerca de 300 policiais.

O objetivo era demonstrar que o governo não estava interessado em reprimir os manifestantes, apesar das reclamações de alguns setores sobre os transtornos causados pela interrupção frequente do tráfego em estradas e avenidas da capital argentina.

Desde a posse, em maio deste ano, o presidente argentino, Néstor Kirchner, tem procurado se aproximar de grupos de desempregados e piqueteiros. O presidente culpa a falta de diálogo entre o governo e essas associações pela violência vivida no país no ano de 2001.

Cerca de 10 mil manifestantes aderiram ao primeiro protesto do dia na Praça de Maio, que terminou com a leitura de um documento que classificou como "ato histórico" o movimento que forçou a renúncia do ex-presidente De la Rúa.

Memória

O objetivo da manifestação era lembrar a violência dos protestos que, há exatos dois anos, mataram 30 e deixaram mais de 300 feridos e que levaram à renúncia do então presidente, em 21 de dezembro de 2001. Ele fugiu de helicóptero temendo a fúria dos "panelaços" que ecoavam por toda Buenos Aires.

A saída de De la Rúa aprofundou ainda mais a crise econômica pela qual passava o país --uma recessão que já durava três anos. Entre 1999 e 2002, o PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas pelo país) caiu quase 20%. Só em 2002, a retração foi de 10,9%.

O ano de 2002 também foi o auge da crise social. A taxa de desemprego atingiu o recorde de 21,5% em maio, empresas fecharam as portas e o crédito praticamente deixou de existir.

Os reflexos são sentidos até hoje: mais de metade da população ainda vive abaixo da linha da pobreza, sendo que mais de 25% são consideradas indigentes. As crianças são as mais afetadas pela fome e pelas más condições de sobrevivência.

Auge da crise

O auge da explosão social argentina foi em dezembro de 2001, quando a população, insatisfeita com os rumos que o governo dava à economia --como ajuste fiscal e confisco de contas bancárias, com a criação do chamado "corralito"- foi às ruas pedir a renúncia de De la Rúa.

Os dias mais violentos dos protestos foram 19 e 20 de dezembro. O presidente De la Rúa decretou estado de sítio. Antes de terminar seu pronunciamento televisivo a todo o país, milhares de argentinos já saíam às ruas batendo panelas. Até o final do dia o ministro da Economia, Domingo Cavallo, havia se demitido.

Após a renúncia, a Argentina teve cinco presidentes em 13 dias. Nesse período, o país decretou moratória com os credores privados e anunciou o fim da conversibilidade cambial que atrelou o peso ao dólar norte-americano por 10 anos.

O fim do troca-troca veio com a posse de Eduardo Duhalde, em janeiro. Foi ele quem conduziu a transição para uma nova eleição e retomou as negociações com credores privados e FMI (Fundo Monetário Internacional).

Néstor Kirchner tomou posse em maio deste ano, com 22% dos votos depois que o ex-presidente Carlos Menem desistiu de disputar o segundo turno das eleições. Menem teve 35% dos votos no primeiro turno.

Dívida

Em setembro, o país conseguiu fechar um novo acordo com o FMI no valor de US$ 12 bilhões. O anúncio veio um dia depois de o país ter decretado moratória de uma dívida de US$ 2,9 bilhões com o Fundo.

O acordo foi considerado uma vitória do governo argentino, que conseguiu fixar uma meta de superávit primário de 3% do PIB --o FMI queria 4%-- e incluir metas sociais no programa de financiamento.

Agora, o país negocia com os credores privados a reestruturação de uma dívida de quase US$ 90 bilhões que está em moratória desde janeiro.

O governo quer pagar apenas 25% do total, mas tem enfrentado resistência entre os credores. Alguns já optaram por processar o país e tentar receber o valor integral da dívida.
 

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