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Justiça exige DNA de filhos de dona do Clarín
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SILVANA ARANTES
da Folha de S. Paulo, em Buenos Aires (Argentina)
A Justiça argentina determinou que os filhos adotivos da proprietária do Grupo Clarín, Ernestina Herrera De Noble, devem ser submetidos "imediatamente e sem mais demoras" a teste de DNA, para verificar se seus pais biológicos são vítimas da ditadura militar (1976-1983), conforme revelou ontem o jornal "Crítica".
Contudo, já que após o feriado de Natal devem ter início as férias forenses, é pouco provável o cumprimento "imediato" da medida, observa o jornal.
No mesmo documento em que dispõem a realização do exame compulsório nos filhos de De Noble --Marcela e Felipe Noble Herrera, que têm ambos 33 anos de idade hoje--, os juízes da Câmara Federal de San Martín Hugo Gurruchaga e Alberto Criscuolo criticam a atuação do juiz responsável pela causa, Conrado Bergesio, e o repreendem por "enredar-se em discussões improdutivas, ao mesmo tempo em que não executa a medida básica, essencial e inadiável de tomar as mostras de DNA [das supostas vítimas]".
O processo em que se investiga se os filhos da proprietária do Grupo Clarín foram subtraídos de vítimas da ditadura e entregues ilegalmente a ela foi aberto há sete anos, por iniciativa das Avós da Praça de Maio.
A suspeita das Avós foi reforçada pela denúncia de um ex-sócio do Grupo Clarín, José Pirillo, que declarou à Justiça que o CEO do grupo, Héctor Magnetto, lhe confessou ter sido o intermediário da "adoção" entre De Noble e o general Jorge Videla, que presidiu a Argentina de 1976 a 1981.
Magnetto e Pirillo foram submetidos a uma acareação anteontem, em que se acusaram mutuamente de mentir, segundo o diário "Crítica".
A presidente das Avós da Praça de Maio, Estela Carlotto, comemorou ontem a decisão da Câmara Federal de San Martín, que classificou de "clara e justa".
"Esses garotos foram adotados de forma duvidosa, e o correto, diante de tantas irregularidades, é que se proceda à obtenção de seu DNA", afirmou.
No mês passado, o Congresso argentino aprovou uma lei reivindicada pelas Avós, com respaldo do governo, que autoriza a Justiça a determinar exames compulsórios de DNA em casos de suspeita de crime contra a humanidade, como é o caso do roubo de bebês durante a ditadura. É uma opção para avançar nos casos de vítimas avessas ao exame, como os De Noble.
A lei foi encarada pela deputada opositora ao kirchnerismo Elisa Carrió como parte das ações coordenadas pela gestão Cristina com o suposto objetivo de lesar o Grupo Clarín, com o qual o governo está em atrito desde meados de 2008.
São citados como itens da "escalada do governo contra o Clarín" a transferência ao Estado do contrato de exclusividade na transmissão de torneios de futebol; a blitz da Receita Federal no diário "Clarín" e em residências de diretores do grupo e a edição da Lei de Serviços Audiovisuais, questionada pelo grupo na Justiça.
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