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29/01/2004 - 10h51

Vaticano condena como genocídio atitude da indústria farmacêutica

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da France Presse, no Vaticano

O Vaticano fez um ataque sem precedentes contra a indústria farmacêutica mundial hoje, acusando-a de cometer um "genocídio" contra os doentes de Aids nos países pobres. Além disso, pediu uma pressão internacional para obter a redução dos preços dos medicamentos para a doença.

"Mais de 400 pessoas morrem todos os dias no Quênia em decorrência da Aids. A ação dos cartéis das empresas farmacêuticas, que se recusam a tornar acessíveis os preços dos medicamentos de combate a Aids na África, ao mesmo tempo em que tiveram um faturamento de US$ 517 bilhões em 2002, é genocida", declarou o jesuíta americano Angelo D'Agostino durante uma entrevista coletiva no Vaticano.

"É um problema moral que demonstra a falta de consciência social das empresas capitalistas, que poderiam salvar 25 milhões de pessoas soropositivas que vivem na África e que correm o risco de morrer por causa da Aids", afirmou D'Agostino, médico de profissão e que mora no Quênia.

O ataque do Vaticano, considerado agressivo e pouco comum, coincidiu com a apresentação oficial da mensagem do papa João Paulo 2º para a Quaresma, dedicada neste ano às crianças profundamente feridas pela violência dos adultos.

O arcebispo Paul Josef Cordes, presidente do Conselho Pontifício "Cor Unum", entidade responsável pela caridade na Igreja Católica, também criticou a indústria farmacêutica mundial e pediu maiores pressões da comunidade internacional para forçar uma redução dos preços dos medicamentos de combate a Aids.

"Esses meninos [infectados com a Aids] morrem porque não recebem os remédios. É preciso fazer uma verdadeira pressão pública para convencer as empresas farmacêuticas a reduzir o preço dos medicamentos para curar as vítimas da Aids", afirmou.

Cordes lembrou que existem 2,5 milhões de crianças afetadas pela doença no mundo e que quase 500 mil morreram no ano passado por causa da Aids, a maioria delas na África.

Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 11 milhões de crianças africanas ficaram órfãs por causa da epidemia.

Um estudo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e do Unaids (Programa das Nações Unidas para a Aids) calcula que mais de 2 milhões de pessoas são portadoras do vírus HIV na América Latina e no Caribe, e que a região precisa investir nos próximos quatro anos mais de US$ 1,5 bilhão em prevenção e tratamento.

O ataque do Vaticano à indústria farmacêutica mundial não modifica a posição oficial da Igreja Católica sobre a Aids. A igreja continua considerando a abstinência sexual o melhor remédio contra a doença e condena o uso do preservativo, o que já lhe valeu várias críticas, inclusive da OMS.

João Paulo 2º também denunciou as violências cometidas contra as crianças, como os abusos sexuais, a iniciação à prostituição, a utilização em tráficos ilegais e no consumo de drogas.

O papa também mencionou os meninos soldados que são recrutados para combater, as crianças abaladas pela desagregação familiar e as que são usadas para o "horrendo tráfico de órgãos de seres humanos".

João Paulo 2º pediu a todos os católicos que durante a Quaresma, os 40 dias de penitência e oração que antecedem a Páscoa, que neste ano começa no dia 25 de fevereiro, dêem mais atenção às crianças, que são o futuro da humanidade.
 

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