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04/02/2010 - 17h44

Novo embaixador dos EUA nega que relação com Irã prejudique Brasil

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RENATA GIRALDI
da Agência Brasil, em Brasília

O embaixador do Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, que assumir o posto hoje, negou que a aproximação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o iraniano Mahmoud Ahmadinejad cause constrangimentos para seu país. Shannon tentou minimizar o mal-estar provocado pela visita de Ahmadinejad ao Brasil no ano passado, mas condenou o programa nuclear e a política de direitos humanos e sociais adotada pelo governo iraniano.

"O Brasil é soberano e vamos respeitar suas posições", disse Shannon, na primeira entrevista no cargo. "O Brasil não precisa pedir licença [para receber Ahmadinejad]. Vamos respeitar as posições do Brasil. Temos um diálogo intenso com o Irã e outros países", disse o diplomata, em um português fluente.

"[Nos preocupa] o programa nuclear do Irã e sua falta de transparência, a política do governo iraniano sobre direitos humanos e maneira como obriga à prática da religião [muçulmana] no país", afirmou. Shannon sugeriu que o governo de Ahmadinejad reveja as suas posições, que, para os EUA, contrariam princípios democráticos. "Todos os países têm de medir a eficiência da sua democracia", afirmou ele. "Todos os países têm de medir suas ações."

Para o embaixador, a aproximação do governo brasileiro com o Irã está de acordo com as orientações do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). "O Brasil está trabalhando de maneira cooperativa com outros países do Conselho de Segurança."

O presidente Lula já afirmou, em mais de uma ocasião, que apoia o programa nuclear do Irã para fins pacíficos. O Brasil desenvolve pesquisas para a área de energia nuclear e integra o grupo de países que assinaram o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Na prática, são países que se comprometem a não fabricar armas nucleares.

No entanto, autoridades estrangeiras especialistas no setor levantam suspeitas sobre o programa nuclear iraniano. Para os especialistas, há ameaças de que usinas iranianas se destinem à fabricação de bombas a partir do urânio enriquecido. Ahmadinejad nega as acusações.

Shannon não mencionou a possibilidade de o governo do Irã negociar com o Brasil um intercâmbio para que o urânio produzido em terras iranianas seja enriquecido em solo brasileiro.

Relações

Depois da sua apresentação a Lula, Shannon elogiou a atuação brasileira no Haiti e também na abertura de diálogo com o Irã. Segundo ele, a tendência é de fortalecer e aprofundar as relações entre o Brasil e os EUA. "É uma relação global. Vamos trabalhar muito mais. É uma relação entre dois governos, de sociedades democráticas, simples e abertas", afirmou.

Mais cedo, o embaixador havia conversado rapidamente com Lula, ao entregar credenciais. Para o norte-americano, o governo do Brasil desempenhou papel ímpar e de destaque nos esforços para reconstrução do Haiti depois do tremor do dia 12. "O Brasil desempenha um papel de liderança no Haiti. Quero expressar meus sentimentos aos brasileiros que morreram. À doutora Zilda Arns, ao senhor Luiz Carlos da Costa [representante brasileiro nas Nações Unidas] e aos militares."

Shannon minimizou os efeitos da demora entre sua indicação e a aprovação de seu nome, período que levou oito meses, ao ser perguntado sobre o assunto. "A relação Brasil-Estados Unidos é demasiadamente importante pra ser afetada pela ausência do embaixador. Mas a ausência não ajudou."

Aprovação

Ex-secretário assistente para Assuntos do hemisfério Ocidental, cargo que ocupou em parte do governo George W. Bush (2001-2009) e nos primeiros meses do governo Barack Obama, Shannon teve o nome bloqueado por três senadores com agendas diferentes e em momentos distintos do processo de aprovação.

O primeiro, Charles Grassley, reclamou do fato de o diplomata ter defendido o fim da taxação ao etanol brasileiro cobrada hoje pelos EUA. O segundo, Jim DeMint, questionou a posição a princípio dura dos EUA em relação ao golpe hondurenho. O último, o novato George LeMieux, representando os interesses da ala mais conservadora da comunidade cubano-americana da Flórida, dizia que Shannon havia sido leniente com o regime castrista em sua gestão.

Com muitas negociações de bastidores, que envolveram telefonemas e mesmo uma visita ao Senado da secretária de Estado, Hillary Clinton, e na qual a Chancelaria americana garantiu aos queixosos que era sensível às preocupações, as resistências foram quebradas.

Diplomata de carreira, Shannon, 51 anos, é considerado hábil negociador e conhecedor do subcontinente e do Brasil, onde ocupou um cargo antes, entre 1989 e 1992. Ele substitui em Brasília o embaixador Clifford Sobel.

Em Brasília, uma das primeiras tarefas de Shannon deverá ser a de organizar a vinda de Hillary Clinton e, ainda neste ano, a do presidente Obama. Na ocasião, os dois presidentes deverão assinar um acordo de cooperação comercial que vai englobar temas polêmicos, como etanol e suco de laranja.

 

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