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27/04/2010 - 09h32

Irã lança plano para corrigir mau uso do véu muçulmano desde creches

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JAVIER MARTIN
da Efe, em Teerã (Irã)

O regime iraniano iniciou um plano para acabar com o que denomina o uso errado do hijab, véu muçulmano que cobre a cabeça, deixando o rosto a mostra. A estratégia inclui medidas para corrigir e estender sua utilização inclusive nas creches.

Uma plataforma cidadã será encarregada de fazer a norma ser cumprida, apoiada por clérigos jovens que já iniciaram uma campanha para informar as mulheres como se vestir, explicou o ministro do Interior, Mustafa Mohamad Najjar, citado pelo jornal pró- reformista "Armam".

J.J. Guillén-20abr.10/Efe
Meninas espanholas usam véu hijab para ir à escola; Irã quer corrigir o "mau uso" da vestimenta em seu país desde a creche
Meninas espanholas usam véu hijab para ir à escola; Irã quer corrigir o "mau uso" da vestimenta em seu país desde a creche

Najjar, que foi ministro da Defesa durante o primeiro mandato de Mahmoud Ahmadinejad (2005-2009), reuniu ontem à noite os diretores dos escritórios de assuntos da mulher das Províncias para detalhar a estratégia.

"A melhor forma para lutar contra o mau uso do véu são a educação cultural e um fortalecimento da sociedade que a torne invulnerável (à invasão cultural estrangeira)", argumentou o ministro. "A questão do uso do véu é preocupante até nas creches. Esperamos que com a colaboração dos instrutores possamos introduzir a cultura muçulmana nos jardins de infância".

O ministro destacou ainda a importância da família na educação sobre o uso do hijab e ressaltou que a mídia iraniana está comprometida em desempenhar também um papel muito importante.

Desde a Revolução Islâmica, que em 1979 derrubou o regime pró-ocidental do último Xá de Pérsia, Mohamad Reza Pahlevi, nenhuma mulher, seja iraniana ou estrangeira, pode sair às ruas do país sem cobrir seu cabelo com um lenço e seu corpo com uma capa que o oculte.

A observação do código começou a relaxar no final da década de 1990, durante o primeiro mandato do presidente reformista Mohamad Khatami (1997-2001).

Menores

No norte de Teerã, mais aberto, muitas mulheres começaram a substituir o negro chador --peça de tela que cobre da cabeça aos pés-- pelo hijab e o mantoo (guarda-pós ou abrigos até os joelhos) primeiro brancos e com o tempo de uma multidão de cores.

No sul da capital, e em geral no resto do país, o chador ainda é a roupa mais utilizada.

Mas nos últimos anos, o mantoo foi ficando mais curto e mais justo, e o véu diminuindo, permitindo a visão das franjas pela frente e do cabelo comprido atrás, o que gerou uma onda de reprovação dos setores mais radicais da sociedade e do clero.

Na semana passada, o clérigo Kazem Sedighi denunciou que essa "forma indecente de vestir das mulheres" é a causa das desgraças naturais que o mundo sofre, e em particular da onda de terremotos.

"Muitas mulheres que não se vestem com decoro induzem os homens ao extravio, corrompem sua castidade e propalam o adultério na sociedade, o que aumenta os terremotos", disse o clérigo.

Na mesma linha se expressou a plataforma ultraconservadora Ansar Hisbolá (os seguidores do partido de Deus), que em comunicado divulgado hoje pelo jornal "Armam" adverte que as desgraças são consequência da imoralidade ao vestir.

"O descumprimento das normas da vestimenta islâmica foi tão claro nos últimos meses que o presidente iraniano teve que advertir que pode causar castigos celestiais como terremotos", destaca a nota.

O ministro do Interior admitiu que o respeito ao código de vestuário diminuiu no último ano e vinculou o fato aos distúrbios pós-eleitorais que tomaram o Irã na pior crise política e social que o país viveu desde a fundação da República Islâmica.

Em junho, logo o anúncio da reeleição de Ahmadinejad, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas em apoio à oposição, que denunciou uma fraude maciça.

Visível

A campanha, que coincide com o anuncio do Irã de optar por um posto na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher na ONU, já é visível nas ruas.

Na sexta-feira passada, agentes da polícia se desdobraram em uma das principais avenidas do norte de Teerã, lugar de encontro de jovens iranianos, onde paravam ao acaso carros com mulheres que deixassem entrever seus cabelos.

"Não estamos assustadas, é uma forma de afirmação. Pensar que a forma de vestir das mulheres traz desgraças não é muito lógico", explicou uma jovem iraniana, que preferiu não ser identificada.

As mulheres mais velhas, no entanto, temem e lembram com apreensão os anos imediatos ao triunfo da revolução nos quais, segundo dizem grupos encarregados de preservar a moralidade, utilizavam métodos como colocar a mão das "mal vestidas" em bolsas cheias de baratas.

Editoria de Arte/Folha Imagem
 

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