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Ninguém venceu a eleição no Reino Unido, afirma analista
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LEILA CORREIA
da Redação
Para o britânico Mark Blyth, professor da Universidade Brown (EUA), um Parlamento sem maioria não é tão ruim para o Reino Unido como previram analistas e políticos.
Segundo ele, não importa quem governe, os problemas estarão lá. E o principal é o deficit público, que neste ano poderá ser o mais alto na União Europeia, atingindo 12% do PIB.
FOLHA - Como o senhor analisa os resultados das eleições britânicas?
MARK BLYTH - Não foi uma vitória para ninguém. Existem dois partidos majoritários. Um vence e outro perde, e os liberais-democratas geralmente não contam. Tivemos uma eleição na qual o partido do governo, o Trabalhista, é muito impopular, em parte porque é visto como responsável pela crise financeira. Aí você tem o Partido Conservador. Ambos foram afetados pelo escândalo dos gastos parlamentares [em 2009] e por casos de corrupção.
Os liberais-democratas só ganharam proeminência porque os outros dois partidos estão muito deslegitimados. Mas eles não conseguiram transformar isso em um número maior de cadeiras no Parlamento.
Mas, no momento, os liberais são muito pequenos para se juntarem a qualquer um dos partidos e formar uma coalizão efetiva. Há uma sensação de paralisia, e não está claro o que ocorrerá a seguir. Portanto, ninguém venceu.
FOLHA- Antes das eleições, políticos, analistas e economistas disseram que um Parlamento sem maioria seria a pior coisa que poderia acontecer ao país. O sr. concorda?
BLYTH - Não. A pior coisa que pode acontecer é o que ocorrerá independentemente de quem controlar o Parlamento, que é o ajuste do Orçamento de uma maneira muito negativa.
Isso terá um grande impacto sobre os eleitores. Independentemente de quem vencer --conservadores, trabalhistas ou se tivermos um governo de coalizão--, a única coisa com que se preocupar é se serão feitos os cortes para lidar com o deficit e a dívida públicos.
FOLHA - No dia seguinte à eleição, o mercado britânico e a cotação da libra esterlina caíram. Isso foi fruto da crise grega ou também da falta de um resultado claro?
BLYTH - A crise grega e a desvalorização da libra esterlina estão relacionadas. A crise atinge toda a zona do euro e também o Reino Unido, mesmo o país não sendo parte dela.
Um Parlamento sem maioria não ajudará a piorar esse cenário, porque representa apenas 1% do problema. Como não importa quem governará o país. Em última análise, o governo terá de pagar [o deficit público]. E os mercados querem que pague rapidamente.
FOLHA - Uma coalizão entre conservadores e liberais é possível?
BLYTH - É mais provável do que uma coalizão entre liberais e trabalhistas. Os trabalhistas foram rejeitados nas urnas, perderam 91 cadeiras.
Embora os eleitores não tenham votado em peso [na sigla de] Cameron, votaram mais nela que [no partido de] Brown.
FOLHA - E quanto à reforma do sistema eleitoral, bandeira dos liberais-democratas?
BLYTH - O que os liberais-democratas podem conseguir para realmente reformar o sistema é uma questão em aberto.
O que pode acontecer é que [o assunto] seja colocado em referendo, o que é incomum na política britânica, mas uma boa forma de garantir que nada aconteça.
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