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11/07/2004 - 10h12

Muçulmanas brigam por espaço e defendem direito da mulher

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LUCIANA COELHO
da Folha de S.Paulo

Entre a tradição patriarcal vigente em alguns países e o estereótipo negativo que o Ocidente criou e os extremistas ajudaram a propagar, as mulheres muçulmanas estão brigando por espaço e voz. Submissão, fazem questão de dizer, só a Deus, como prega a própria definição do islã.

Essa frase foi ouvida exaustivamente pela reportagem da Folha nas mais de três semanas em que freqüentou mesquitas, conversou com instrutores de islamismo, visitou a casa de muçulmanas, consultou analistas, assistiu a aulas para convertidas e falou com escritoras muçulmanas eminentes.

Azar, Irshad, Saira, Magda e Zineb têm opiniões fortes, falam o que pensam e são unânimes em defender os direitos da mulher muçulmana --condição de todas elas. Dividem-se, no entanto, ao apontar onde está o problema.

Para umas, está no próprio Alcorão, que dá margem para interpretações desfavoráveis à mulher. Para outras, está nos homens, que distorcem as palavras do profeta Muhammed, ou ainda nos regimes que, como disse a escritora iraniana radicada nos EUA Azar Nafisi, fizeram da religião ideologia e a impuseram a quem não quer segui-la. Para todas, a saída é a educação e a capacitação.

Buscar o conhecimento é dever de todo muçulmano e muçulmana, ainda que, em muitos países islâmicos, ele seja negado a boa parte das mulheres. O problema, para Zineb Touimi-Benjelloun, conselheira da Unifem (fundo da ONU para mulheres) para o norte da África, é de interpretação. "Quando o islã surgiu, há 1.400 anos, ele era liberal para as mulheres. Havia nele mais direitos do que qualquer outra mulher tinha. Mas veio o patriarcalismo, e as coisas começaram a ser interpretadas de um modo limitado."

Agora, as mudanças de interpretação começam a tomar o rumo contrário, embora lentamente. A Unifem tem investido para capacitar as mulheres em países islâmicos, por meio de financiamentos e educação, para que elas promovam as mudanças por si.

Boa parte dos empecilhos, como a falta de liberdade de expressão, é imposta pelas teocracias --alvo das maiores críticas das muçulmanas. "Mesmo quando a maior parte da população segue uma religião, nem por isso ela quer que essa religião vire o governo", diz Azar, cujo livro, "Lendo Lolita em Teerã", recém-lançado no Brasil pela editora A Girafa, é o mais vendido nos EUA, segundo o "New York Times".

Como as demais, a iraniana se queixa do estereótipo negativo que o Ocidente criou para as muçulmanas --e que governos opressores ajudaram a fortalecer.

A indumentária que muitos ocidentais vêem como sinônimo de opressão é, para muitas muçulmanas, uma manifestação de fé. A jornalista britânica de origem afegã Saira Shah, autora de "A Filha do Contador de Histórias" (Companhia das Letras), conta que, durante sua passagem pelo Afeganistão, em 1997, era comum mulheres de burca lhe indagarem se as ocidentais não se sentiam oprimidas usando roupas escassas e atraindo olhares masculinos voluptuosos. Mas ela vai ao ponto. "Se elas querem usar véu e só cuidar da casa, ótimo. Mas as pessoas devem ter o direito de escolher."

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