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11/11/2004 - 15h24

Análise: Era pós-Arafat fica com oferta linha-dura de Israel

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NEWTON CARLOS
especialmente para a Folha Online

O que acontecerá daqui por diante? Talvez se encaixe nessa pergunta a manifestação que mais se ajusta às realidades pós-Arafat [Iasser, líder palestino morto nesta quinta-feira]. E a resposta é: ninguém sabe.

Analistas dizem que se colocam duas opções para os palestinos. Negociar com Israel em busca de acordo "razoável" ou continuar lutando sem nenhuma perspectiva de realizar o "grande sonho" por meio da violência. Israel tem a força. A direita que assumiu o poder, deixando os trabalhistas dos acordos de Oslo, de 1993, prevendo a criação de um Estado palestino, em condições políticas subalternas, só não procura impor submissão absoluta porque ainda sente constrangimentos.

O grande mérito de Arafat foi colocar a causa palestina na agenda internacional.

Fala-se em opções palestinas pós-Arafat, mas não se fala em opções de Israel. Há uma trágica vacuidade nas declarações sobre virada histórica, novas chances de paz e momento significativo. Bush [George W., presidente dos Estados Unidos] se recusou a receber Arafat na Casa Branca. Clinton recebeu-o várias vezes, sem macular o seu pró-Israel, com o argumento subtendido, nunca exposto claramente, de que é com o inimigo que se negocia.

Em discurso no Congresso americano, Bush pediu que Arafat fosse isolado e durante a fase hospitalar chegou a sugerir, sem nenhuma piedade cristã, que sem Arafat seria melhor.

Morto o presidente palestino, ele [Bush] manifesta esperanças de caminho livre para negociações. Mas com ressalvas. É preciso que os novos interlocutores palestinos tenham legitimidade. Por meio de eleições? Pesquisa feita pelo "Palestinian Center for Survey and Research" constatou, sem nenhuma surpresa, que um dos "cabeças" do Hamas tem o segundo maior índice de popularidade, por volta dos 15%, só superado pelos 35% de Arafat.

Não é preciso ser profeta para prever que Israel, com cobertura americana, não permitirá que o Hamas [grupo extremista palestino]participe, direta ou indiretamente, de qualquer eleição nos territórios palestinos.

O Hamas, para Sharon [Ariel, premiê israelense] e a Casa Branca, não passa de uma organização terrorista. Não pegou entre os dois o ensinamento de Clinton de que é com o inimigo que se negocia. Com os amigos se toma chá. A expectativa de "novas chances" recairia em lideranças desfibradas, sem condições de falar em nome do povo palestino, fáceis de serem colocadas contra a parede.

O primeiro-ministro e o ex-primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina (ANP) --Ahmed Korei e Mahmoud Abbas [conhecido com Abu Mazen], respectivamente--, figurões da "transição", talvez objetos do novo visual de boa vontade de Sharon e Bush, tiveram na pesquisa popularidade de 2% a 3%. Difícil conseguir legitimidade com isso.

Ficou em terceiro lugar, atrás de Arafat e de um dos cabeças do Hamas, um dirigente cumprindo prisão perpétua em Israel. Sharon entraria em negociações jogando com um leque de opções? Ele assumiu o poder disposto a transformar em cinzas os acordos e Oslo.

O golpe final é o plano, aplicado unilateralmente, de retirada de Gaza e manutenção do status quo na Cisjordânia. Será reforçada uma geografia de colônias judaicas que fará do território ocupado uma reprodução dos enclaves de negros da África do Sul do Apartheid. Bush topa, quebrando o discurso diplomático dos EUA antiexpansão das colônias.

A causa palestina ficaria congelada. A bandeja de ofertas de Sharon se limitará, é praticamente certo, ao seu plano. É pegar ou largar. As novas chances, a virada histórica, devem ser isso.

Newton Carlos é jornalista e analista de questões internacionais

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