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14/12/2004 - 13h39

Controle israelense de palestinos funciona como "reality show"

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LIGIA BRASLAUSKAS
editora de Mundo da Folha Online

Não é só a tal cerca --cuja construção em arame representa cerca de 95% do "muro de proteção" israelense construído na Cisjordânia-- que limita o tráfego de palestinos. Um moderno sistema de câmeras, mapas e rastreamento complementam o controle israelense para evitar a entrada de terroristas palestinos em Israel.

Polêmica, a cerca, que tem sua extensão final indeterminada, já causou mal-estar para israelenses, que são acusados de separatismo por palestinos e pela comunidade internacional. Israel alega que o muro visa apenas resguardar a segurança do país contra ataques terroristas.

Como um sistema de controle de trânsito, que se utiliza de câmeras para fiscalizar ruas das cidades, Israel implantou um moderníssimo sistema de "olhos" para controlar a cerca, com o qual é possível identificar qualquer objeto ou pessoa que se aproxime do "muro de proteção".

A Folha Online, junto a um grupo de jornalistas brasileiros que viajou para a região, teve acesso ao centro de controle do Exército de Israel na cidade palestina de Qalqilya, dividida entre Israel e Cisjordânia, onde uma equipe de militares observa 24 horas por dia um trecho da cerca e os vários "gates" [portões] que dão acesso a Israel.

Ligia Braslauskas/Folha Online
Soldado israelense checa documentação de palestino em posto na região de Qalqilya
Nesses locais, todos os palestinos, mesmo os com autorização para trabalhar em Israel, têm de passar pelo rigoroso controle de segurança israelense. Qalqilya, com cerca de 45 mil habitantes, é um centro de cultivo de laranja cuja produção ajuda vizinhos que dependem da cidade.

Questionado sobre a quantidade de câmeras que foram espalhadas ao longo da cerca, o vice-comandante da 411 Batalhão de Artilharia na região de Kfar Saba-Qalqilya, Zoar, 26, [que não permitiu a divulgação completa de seu nome] disse apenas que era uma quantidade suficiente, sem dar números exatos.

O local inspira tanta segurança que nenhuma imagem ou gravação de áudio pôde ser feita na sala de controle, chamada de "operation room" [sala de operações]. Lá, soldados --jovens com idades entre 18 e 21 anos, em sua maioria-- vigiam ininterruptamente cada passo palestino perto da cerca.

Caso alguém se aproxime de um determinado ponto da cerca, seja notado pelas câmeras e não haja um carro militar próximo ao local, imediatamente o ponto identificado é localizado em um mapa --também projetado em um grande tela-- e, por rádio ou telefone, uma equipe é convocada para checar a presença na área.

Revista

O que acontece exatamente quando um palestino quer passar para o lado de Israel? Eles são revistados fisicamente, seus carros vasculhados e suas bolsas devem ser apresentadas a militares israelenses, além de terem de mostrar uma autorização que permita sua entrada no país.

Tanto cuidado pode até parecer exagero, mas, segundo Zoar, desde a implantação do "muro de proteção", houve uma redução de 82% nas ações terroristas de palestinos contra Israel.

"A cerca não tem a intenção de impedir a passagem de nenhum palestino, apenas garantir a segurança dos cidadãos israelenses e evitar a penetração de terroristas", diz Zoar.

Até o inicio da Intifada, em setembro de 2000, a passagem de palestinos para o território israelenses era livre.

Paradoxo

Mas enquanto cercas de arame e muros de concreto acentuam a revolta entre israelenses e povos árabes, uma curiosa cidade, situada no norte de Israel, causa desconforto por apresentar uma situação totalmente adversa ao que se costuma ver na região.

Ligia Braslauskas/Folha Online
Rua central que divide os dois lados de Hajar, o libanês [à esq.] e o israelense
Em Hajar, por onde passa um dos "braços" do rio Jordão, os 1.800 habitantes da cidade, divididos entre israelenses e libaneses, convivem em harmonia [apesar de o local também abrigar um posto do grupo extremista islâmico libanês Hizbollah] e andam livremente pela cidade --dividida em territórios israelense e libanês por uma pequena rua que atravessa a cidade.

O único posto de controle fica na entrada da cidade, para evitar que supostos terroristas entrem ou saiam do local armados, segundo a porta-voz do Exército de Israel para a região, Avital [que também não permitiu a divulgação completa de seu nome].

Avital disse que a situação em Hajar é tão estranha que eles próprios [soldados israelenses] não entendem muito bem como isso [a harmonia entre os dois lados] acontece. Realmente é curioso. Uma cidade localizada em uma região de conflito, que abriga dois povos, duas línguas, duas religiões e nenhum registro de choque.

O posto de saúde do lado libanês, por exemplo, além de ter como equipe médica de atendimento profissionais israelenses, abriga em seu teto duas bandeiras: a da cidade de Hajar (Líbano) e a de Israel.

Ligia Braslauskas/Folha Online
A major Avital, porta-voz do Exército de Israel
De acordo com Avital, a proposta de Israel é realizar um trabalho humanitário na região e fazer com que os libaneses da cidade possam ter uma vida melhor. "Há conflito, mas há intenção de ajuda. Nós levamos água para 13 cidades libanesas na região", diz.

Para não dizer que nenhum tipo de incidente ocorre no local, a porta-voz do Exército disse que algumas ocorrências de apreensão de pequenas armas ou artefatos explosivos caseiros já foram registradas. Segundo ela, a principal causa de ataques na região é o tráfico de drogas.

A jornalista Ligia Braslauskas viajou a convite do governo de Israel e da Conib (Confederação Israelita do Brasil)

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o Exército de Israel
  • Leia o que já foi publicado sobre a cidade palestina de Qalqilya
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