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03/04/2005 - 22h49

"Fator regional" influencia pouco na escolha do novo papa, diz Majella

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LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Salvador

Nomeado cardeal por João Paulo 2º, com quem trabalhou diretamente por quase sete anos e meio, o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Geraldo Majella Agnelo, 71, disse que o fato de o papa ter escolhido a maioria dos cardeais com direito a voto no Conclave não significa que as suas idéias terão continuidade.

Além disso, o cardeal afirmou que o fator regional não tem influência determinante na escolha de um novo papa. Há pelo menos sete religiosos italianos que podem chegar ao papado. Entre os "papáveis" está também o arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, apontado pela mídia internacional como um forte candidato.

Na noite deste domingo, o arcebispo de Salvador e cardeal primaz do Brasil --um dos quatro cardeais brasileiros com direito a voto no Conclave--, segue para Roma, onde vai participar da cerimônia de enterro do papa e da escolha do seu sucessor. Leia a entrevista do cardeal à Agência Folha:

Agência Folha - Qual o legado dos quase 27 anos de papado de João Paulo 2º, o terceiro maior da história?

Dom Geraldo Majella Agnelo - Foi um pontificado muito rico, porque João Paulo 2º teve um exercício de magistério muito grande. O papa escreveu encíclicas importantes para a orientação dos católicos, além de documentos que tocam não apenas a teologia, mas também a filosofia. Pela sua formação, experiência, preparo intelectual e vivência, o papa imprimiu novos rumos à Igreja. Mas, o que eu gosto de destacar é que João Paulo 2º era um homem de muita fé. Então, para a igreja, ele deu um testemunho de fidelidade a Cristo e ao Evangelho. Mas não podemos esquecer que o papa demonstrou um carinho especial pelos pobres e mais necessitados, o que é muito gratificante.

Agência Folha - O que representou o papa João Paulo 2º para os adeptos de outras religiões?

Dom Geraldo - Para o mundo em geral e para os integrantes de outras religiões, o papa foi um sinal de humanidade. Ele sempre demonstrou uma preocupação muito grande com a dignidade humana, com o respeito à vida, com o amor ao próximo. Em seu pontificado, João Paulo 2º mostrou o caminho para todos os homens para um mundo melhor, onde a paz e a harmonia sejam constantes.

Agência Folha - Quando foi o último encontro do senhor com o papa? O que conversaram?

Dom Geraldo - O meu último encontro com o papa aconteceu em janeiro, em seu apartamento, o mesmo local onde ele morreu. Foi um encontro da Pontifícia Comissão para a América Latina. Depois do encontro, nós fomos recebidos pelo papa. Não foi uma audiência, foi um encontro muito rápido, onde todos os integrantes do encontro o saudaram. Eu sempre tive uma excelente convivência com o papa. Foi João Paulo 2º quem me nomeou arcebispo de Salvador e, depois, cardeal. Com ele, no Vaticano, trabalhei por sete anos e meio e aprendi muito nesse período.

Agência Folha - O fato de João Paulo 2º ter nomeado praticamente todos os cardeais com direito a voto significa que as suas idéias serão seguidas pelo seu sucessor?

Dom Geraldo - Nenhum papa reproduz na integridade os pensamentos do seu antecessor. Não é que ele será contra [as idéias], mas não podemos dizer que ele também será o retrato do outro. O que é próprio do ministério, é igual para todos, mas cada cardeal tem a sua formação, origem, cultura, opinião, pensamentos e idéias. E isso é fundamental na parte de contato com outras pessoas. João Paulo 2º, por exemplo, teve muita vontade de ir ao encontro das pessoas, conhecer novas culturas, visitar países, saber os desafios de cada povo, não apenas na evangelização.

Agência Folha - O senhor acha que está na hora de a América Latina ter um papa?

Dom Geraldo - Pode ser, claro, mas não necessariamente. Todos os continentes podem ter um papa. O importante é que os ensinamentos de Jesus sejam bem representados.

Agência Folha - Que desafios terá o sucessor de João Paulo 2º?

Dom Geraldo - Muitos. Entre eles, a própria característica da época em que vivemos. Vivemos em um mundo subjetivista e relativista, um mundo em que cada pessoa quer dizer como quer ser, até mesmo como quer ser católico. Então, essa pessoa toma a palavra de Deus, mas não é aquela palavra de Deus que deve ser igual para todos. Essa pessoa quer dizer o que aceita e o que não aceita, como se fosse um supermercado de religião, onde o "cliente" escolhe o que quer. Mesmo em um mundo onde as comunicações aproximaram tanto as pessoas, o individualismo predomina.

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