06/04/2005 - 19h53

Polícia fecha fila para ver o papa no Vaticano

RICARDO FELTRIN
Enviado especial da Folha Online a Roma

Exatamente às 23h desta quarta (18h de Brasília), um grupo de 20 policiais italianos cercou o trecho final da fila dos peregrinos que iriam, a partir daquele momento, caminhar por três quilômetros e esperar outras 18 horas até dar o último adeus nesta quinta ao papa João Paulo 2º.

O velório público deve ser encerrado nesta quinta assim que o último da fila passar pelo corpo do sumo pontífice.

Mais cedo, autoridades italianas pediram aos peregrinos que se dirigem a Roma para o funeral do papa que se mantenham fora da região central da cidade. O chefe do Departamento da Defesa Civil da cidade, Guido Bertolaso, disse que a região já está "saturada".

"Sortudos"

Os minutos finais foram marcados por falta de informação, muita correria, tumulto e bate-boca entre fiéis e policiais. Alguns dos peregrinos duvidavam que a fila seria mesmo interrompida até que seis policiais bloquearam com seus corpos o acesso ao local.

Lourenço de Fiore/Folha Imagem

Os italianos Geanni e Velia Carmona, últimos da fila

Logo atrás dos policiais estava um casal vindo de Caserta, cidade 200 quilômetros ao sul de Roma. O eletricista Geanni Luca Carlona, 33, e sua mulher, a secretária Velia Carlona, 29, dirigiram na tarde desta quarta por três horas em meio a um pesado trânsito até chegarem a Roma.

"Nunca pensei que ficaria tão feliz por ser a última em alguma coisa", disse Velia Carlona. "Não posso acreditar que deu tempo. Saímos correndo, e é uma benção sermos tão sortudos", disse o marido.

Fura-fila

A polonesa Malgoriata Wieczorkouwsky, 58, foi também uma das últimas a entrar, mas conseguiu furar a fila. Quando a polícia tentou impedir a contravenção, foi protegida pelos demais peregrinos. Ela mora em Nova York e conta que visitou o Brasil em novembro do ano passado, quando estava em férias. Foi à Amazônia e ao Rio.

Lourenço de Fiore/Folha Imagem

Malgoriata Wieczorkouwsky, a polonesa que furou a fila

"Eu sabia que ia conseguir por causa disso", disse enquanto apontava para um crucifixo de ouro. "Foi benzido no Vaticano", afirmou.

Pelo menos 6.000 voluntários da Proteção Civil, uma espécie de guarda nacional para momentos de emergência, fizeram a segurança dos quatro quilômetros de filas formadas pelos fiéis.

Centro de Roma

As autoridades italianas se preocupam com o afluxo de peregrinos a Roma. "O centro da cidade não comporta a chegada de mais fiéis", disse o chefe do Departamento da Defesa Civil da cidade. "Qualquer pessoa que chegue hoje à noite ou amanhã não conseguirá seguir o funeral".

De acordo com o chefe da polícia de Roma, Achille Serra, "a cidade normalmente tem uma população de 3 milhões de pessoas, mas cerca de 4 milhões de visitantes já apareceram desde a morte de João Paulo 2º no sábado (2)".

Lixo

Os peregrinos também trouxeram muita sujeira a Roma. Os trabalhos de limpeza se intensificaram sempre por volta da meia-noite. Ao longo do dia, no entanto, o lixo vai se acumulando. Aparentemente, os peregrinos não ligam para isso.

Nas imediações do Vaticano, permanecem nas ruas milhares de garrafinhas vazias de água mineral com gás distribuídas pela prefeitura. Por todos os lados, aparecem sacos de biscoitos, restos de lanches e frutas, latinhas de refrigerantes, além de jornais já lidos e até cobertores esquecidos.

Quanto mais longe da praça São Pedro, que permanece limpa a maior parte do tempo (o lixo é recolhido a todo minuto), maior a sujeira feita pelos peregrinos e não recolhida pela prefeitura.

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