07/04/2005 - 10h39

Leia trechos do documento deixado pelo papa João Paulo 2º

da Folha Online

O Vaticano divulgou nesta quinta-feira um documento deixado pelo papa João Paulo 2º, morto no sábado (2), em que ele sugere a possibilidade de renúncia em 2000, devido a seus problemas de saúde.

O texto de 15 páginas, que começou a ser escrito pelo papa em 1979, foi lido pelos cardeais em polonês e italiano [versão traduzida].

Leia a seguir alguns trechos do documento:

Abertura - "Vigiai. pois não sabeis o dia em que o Senhor retornará." Essas são as primeiras palavras, tiradas do Evangelho Segundo São Mateus, que abrem o texto deixado pelo sumo pontífice.

Sobre o documento - "Durante meu exercício espiritual eu refleti sobre o testamento do Santo Padre Paulo 6º. Esse estudo me levou a escrever o presente documento."

AP

Vaticano apresenta original do documento escrito pelo papa João Paulo 2º

Dedicação - "Eu expresso a profunda fé que, apesar de toda a minha fraqueza, o Senhor irá me acudir com toda a graça necessária para que, de acordo com Sua vontade, eu enfrente todas as tarefas, julgamentos e sofrimentos que serão exigidos desse servo, durante o curso de minha vida. Eu também tenho fé que nunca será permitido, por meio de meu comportamento, palavras, atos ou omissões, que eu traia minhas obrigações [enquanto estiver] no lugar de Pedro."

Reflexões sobre a morte - "Hoje quero adicionar apenas isso [ao testamento]: cada um de nós deve manter em mente a perspectiva da morte. E [cada um de nós] deve estar pronto para se apresentar ante ao Senhor e ao Juiz --e ao mesmo tempo ao Salvador e ao Pai. Então eu também tenho que levar isso em consideração continuamente, entrego esse momento decisivo aos cuidados da Mãe de Cristo e da igreja --a mãe de minha esperança." [1979]

Renúncia - "O ano do Jubileu [2000] avança. Dia após dia, encerra-se dentro de nós o século 20, e se inicia o século 21. Segundo os desejos da Providência, é-me dado viver no difícil século que não pertence ao passado, e, quando minha vida chega ao ano 80, é preciso perguntar se já não é tempo de repetir o divino trecho de Simeão 'nunc dimittis' [referindo-se à passagem do Evangelho de Lucas quando Simeão diz: "Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo segundo a tua palavra, porque os meus olhos já viram a tua salvação"]."

Salvo pela Divina Providência - "A Divina Providência me salvou de modo miraculoso da morte. O Senhor prolongou a minha vida e, em um certo sentido, me deu uma nova". (Escreveu em 1981, referindo-se á forma milagrosa que Deus o salvou da morte", quando o turco Mehmet Ali Agca atirou contra ele na praça São Pedro)

Conflito nuclear - "O último decênio do século passado [referindo-se ao século 20] foi liberado de uma tensão precendente; mas isso não significa que não haverá novos problemas e dificuldades. De modo particular, agradeço à Divina Providência por isso, que o período da Guerra Fria terminou sem um violento conflito nuclear, que pesava sobre o mundo no período precedente [na década de 80]."

1982 - O papa considerou a possibilidade que seu funeral fosse realizado na Polônia. Mas em 1985, escreveu que "a decisão deveria ser tomada pelo Colégio dos Cardeais", e pediu para que os poloneses fossem consultados.

Graças ao Espírito Santo pelo Concílio - "Estando na soleira do terceiro milênio, desejo exprimir minha gratidão ao Espírito Santo pelo grande presente, o 2º Concílio do Vaticano, onde estive com toda a igreja --sobretudo com todo o Episcopado-- sinto-me devedor. Estou convencido de que agora, será dado às novas gerações a oportunidade de atingir a riqueza do Concílio do século 20."

Propriedade - "Não deixo nenhuma propriedade da qual seja necessário desfazer-me. Quanto às coisas de uso cotidiano que usei, peço que sejam distribuídos da forma oportuna. Os apontamentos pessoais devem ser queimados. Peço dom Stanislao Dziwisz cuide disso, a quem sou grato pela colaboração, na ajuda prolongada por todos esses anos, assim como pela compreensão."

Encerramento - "A todos, só digo uma coisa: Deus vos recompensará".

A data da última revisão do documento do papa é de 17 de março de 2000.

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