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08/04/2005 - 14h31

Interpretação gera polêmica sobre "testamento espiritual" do papa

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EMILIA BERTOLLI
da Folha Online

O tão esperado documento escrito pelo papa João Paulo 2º, o chamado "testamento espiritual" [que reúne reflexões do sumo pontífice e foi aberto após sua morte, no último sábado], gerou uma polêmica em torna da interpretação de algumas das palavras do Santo Padre.

O conteúdo das 15 páginas manuscritas deixadas pelo papa, divulgado nesta quinta-feira pelo Vaticano, trazia três informações que ganharam destaque: o papa expressou seu desejo de ser enterrado na Polônia [mas deixou a cargo dos cardeais a decisão final], pediu para que suas anotações pessoais fossem queimadas e sinalizou vontade de entregar seu destino nas mãos de Deus, em 2000, quando sua saúde piorou por causa do mal de Parkinson.

Este último desejo é apontado no texto com a frase: "É preciso que eu me pergunte se não é hora de seguir o exemplo de Simeão na bíblia, "Nunc dimittis" --expressão em latim que se refere a um trecho da bíblia que conta sobre o encontro de Simeão com o menino Jesus. Ao tomar a criança [Jesus] nos braços, Simeão diz: "Agora, Soberano Senhor, podes dispensar em paz o Teu servo, segundo a Tua palavra, porque meus olhos viram a Tua salvação."

Mídia

O documento foi escrito originariamente em polonês, mas o Vaticano forneceu à imprensa duas versões: em polonês e em italiano.

Imediatamente após a divulgação dos trechos do documento, agências de notícias internacionais reproduziram a informação de que o papa tinha considerado renunciar em 2000. Em todo o mundo, jornais publicaram a suposta confissão de renúncia de João Paulo 2º.

Os sites dos jornais italianos "Corriere della Sera" e "La Repubblica" se referiram ao trecho interpretando-o também como um sinal do desejo de renúncia do papa. Depois, o colunista do "Corriere della Sera" Luigi Accattoli publicou um artigo em que afirmava que a demissão do papa era um "equívoco midiático", dizendo que "os leitores apressados [do documento do papa] interpretaram a palavra em latim "dimittis" como "dimetti" [flexão italiana do verbo dimettere, que significa "demitir-se"]", o que teria gerado a interpretação equivocada.

Em inglês, as agências de notícias Reuters e Associated Press usaram a palavra "resign" [que significa resignar-se, renunciar, conformar-se, submeter, demitir-se, abandonar] para se referir ao possível desejo de renúncia do papa.

Nesta sexta-feira, Accattoli voltou a criticar a falsa interpretação dizendo que os profissionais não souberam interpretar corretamente o texto, e chamaram de renúncia um desejo de morte: "não enxergamos que aquelas duas palavras [referindo-se a 'nunc dimittis'] --nem a intenção do papa-- se referiam à renúncia, mas, sim, à vida após a morte".

Ninguém nunca vai saber

"Nunca ninguém vai saber o que se passava no coração do papa ao falar isso", disse dom Antônio Celso Queirós, 71, vice-presidente da CNBB (Conferência Nacional de Bispos do Brasil). "Se não houver alguém que conviveu com ele, a quem ele tenha feito alguma confidência, ninguém nunca vai saber."

O bispo brasileiro explica que o "testamento espiritual" do papa provavelmente foi redigido durante os retiros espirituais do sumo pontífice, e refletem reflexões feitas durante esse período.

"Essa citação do Evangelho tanto pode ser 'senhor, entrego-me a suas mãos, pois chegou a hora da minha morte', como 'iluminai-me para que eu tome a decisão correta', que, segundo o bispo, significaria a sinalização de uma possível renúncia."

O "nunc dimittis" também é uma oração rezada todas as noites pelos eclesiásticos, que encerram o ofício noturno com as palavras de Simeão, de acordo com dom Antônio.

"Acho natural que o papa, aos 80 anos, fizesse um autoquestionamento a respeito da continuidade de sua missão. Eu, que tenho 71 anos, já me perguntei também se deveria continuar", diz Queirós, explicando que seu questionamento refere-se à continuidade ou não de sua atividade episcopal.

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