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20/05/2005 - 10h43

Documento revela tortura e morte de afegãos sob custódia dos EUA

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da Folha Online

Uma reportagem publicada nesta sexta-feira pelo jornal americano "The New York Times" revela detalhes das mortes de dois afegãos que estavam sob custódia das tropas americanas.

A história da morte brutal de um taxista afegão de 22 anos, conhecido apenas como Dilawar, no Centro de Detenção de Bagram (Afeganistão), em dezembro de 2002, veio à tona por meio de um arquivo confidencial de 2.000 páginas da investigação criminal do Exército sobre o caso, e que o "NYT" teve acesso a uma cópia.

O documento também investiga a morte de um outro detento, identificado como Habibullah, que morreu seis dias antes de Dilawar.

Interrogatório

Segundo a reportagem, o taxista foi retirado de sua cela no centro de detenção em Bagram por volta da 2h para responder a um interrogatório sobre um ataque com foguetes a uma base americana.

De acordo com o "NYT", quando ele chegou à sala de interrogatório, suas pernas estavam batendo descontroladamente na cadeira e suas mãos estavam dormentes, segundo relato de um intérprete que estava presente e cuja identidade não foi revelada na reportagem.

Dilawar teria ficado acorrentado pelos pulsos no alto de sua cela durante grande parte dos quatro dias anteriores.

Inocente

De acordo com o intérprete, durante o interrogatório, Dilawar teria pedido um copo de água, o que foi negado. Em seguida, a pedido dos interrogadores, um guarda tentou forçá-lo a ficar de joelhos, mas suas pernas não suportaram o peso de seu corpo.

Segundo o jornal, um dos interrogadores afirmou a Dilawar que ele poderia ver um médico após responder as perguntas. No entanto, depois do interrogatório, ele foi colocado de volta em sua cela, preso pelos pulsos ao teto. Um médico foi chamado somente horas mais tarde, quando Dilawar já estava morto.

Meses depois, os investigadores do Exército descobriram um detalhe aterrorizante: a maioria deles concluiu que Dilawar era inocente e que passara em seu táxi pela base americana na hora errada.

Isolamento

Segundo testemunhas, Habibullah também foi vítima de abusos e torturas. De acordo com soldados, no primeiro dia de prisão, em 1º de dezembro de 2002, ele teria sido mantido amarrado pelos pulsos no teto de uma cela.

Depois, ele foi confinado em um cubículo, procedimento classificado pelo capitão Christopher M. Beiring como "padrão". "Havia uma política em que os detentos eram encapuzados e isolados por 24 horas, às vezes a até 72 horas", disse Beiring aos investigadores.

No dia 2 de dezembro, segundo um dos intérpretes, Habibullah se queixava de tosse e dores no peito. No dia seguinte, acusado de não cooperar, ele foi espancado por soldados. O Exército depois alegou que ele teria sido agredido por tentar fugir.

Segundo o sargento James P. Boland, no dia 3 de dezembro, ainda na cela de isolamento, ele teria sido espancado novamente, pendurado por algemas e acorrentado pelos pulsos. Neste dia, Habibullah foi encontrado morto em sua cela.

De acordo com o documento, nem todos os guardas ficaram indiferentes com as mortes, mas elas não mudaram a maneira como os prisioneiros eram tratados.

Abusos

No documento, testemunhas relatam diversos abusos cometidos no centro de detenção. Em alguns casos, eles seriam usados para extrair informações. Em outros, os abusos teriam sido cometidos por crueldade.

Em depoimento a investigadores do Exército, soldados afirmaram que uma investigadora teria pisado e chutado os órgãos genitais de dois detentos. Em outro relato de abuso, um preso teria sido forçado a rolar no chão da cela e a beijar as botas de dois interrogadores.

Apesar de todos os relatos de abusos em Bagram em 2002, oficiais americanos afirmam que são problemas isolados, que já foram investigados. A maior parte dos oficiais e soldados entrevistados nas investigações disseram que a maioria dos detentos recebia um bom tratamento em Bagram.

"O que nós aprendemos durante essas investigações é que havia pessoas que claramente violavam os direitos humanos", afirmou o porta-voz do Pentágono, Larry Di Rita.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a cidade de Bagram
  • Leia o que já foi publicado sobre o jornal "The New York Times"
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