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16/08/2005 - 17h48

Imprensa britânica questiona versão oficial da morte de brasileiro

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da Folha Online

A imprensa britânica questiona a versão oficial da morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto por engano no dia 22 de julho com sete tiros na cabeça por policiais à paisana na estação de metrô de Stockwell (sul de Londres), após ser supostamente confundido com um terrorista.

Uma reportagem do "Observer", reproduzida nesta segunda-feira no jornal britânico "The Guardian", levanta uma série de perguntas a respeito das circunstâncias do erro policial.

O "Observer" descobriu uma série de novos dados sobre as circunstâncias da morte de Menezes --que está sendo investigada pela Comissão Independente de Queixas sobre a Polícia (IPCC, na sigla em inglês.

Um dos fatores principais é um suposto atraso na chegada de uma equipe armada para prender Menezes --o que significaria que o brasileiro já estava dentro da estação quando os policiais chegaram ao local.

O atraso é um fator fundamental já que, se a polícia acreditava que Menezes era perigoso --talvez um suicida -- o fato de ele já estar dentro da estação aumentaria a tensão e as chances de que algo saísse errado.

Imagens

Evidências do atraso poderiam ser obtidas por meio de imagens das dezenas de câmeras do circuito interno de segurança do metrô que vigiavam o saguão, as escadas, plataformas e vagões. No entanto, a polícia afirma que a maior parte das câmeras não estava funcionando no dia da morte.

Na ausência das imagens do circuito interno de segurança, o inquérito policial terá que ser baseado no relato de testemunhas, embora muitos que afirmam ter presenciado o fato dêem versões contraditórias do ocorrido.

Outro fato questionado pelo "Observer" é a versão de que Menezes estaria vestindo um casaco pesado de inverno, que poderia esconder explosivos, como foi inicialmente relatado pela polícia.

Além disso, segundo o jornal, ele teria utilizado um bilhete eletrônico para entrar na estação de metrô e não pulado uma roleta, como afirma a polícia.

Endereço

Após os atentados fracassados de 21 de julho, policiais examinaram informações encontradas na bomba que não explodiu deixada no ônibus número 26, na região de Hackney.

Segundo o "Observer", informações contidas na sacola onde estava a bomba apontavam para um endereço em Tulse Hill, mas não deixavam claro se era uma pista falsa ou se poderia ser o endereço de um dos terroristas.

O endereço era o mesmo do bloco de apartamentos onde Menezes morava com os primos. No mesmo dia, o bloco já estava sob a vigilância de um especialista e de policiais desarmados.

Por volta das 10h do dia seguinte, uma sexta-feira, policiais que vigiavam o endereço viram Menezes deixar o condomínio. Ele havia recebido um telefonema para que consertasse um alarme de incêndio em uma casa em Kilburn, no norte de Londres. No entanto, a polícia acreditou que ele poderia ser um terrorista.

Menezes foi seguido por cerca de cinco minutos até um ponto de ônibus, onde tomou o ônibus número 2. Policiais à paisana o acompanhavam. Quinze minutos depois, ele desceu do ônibus em um ponto próximo à estação de Stockwell.

Os policiais tinham ordens expressas de não permitir que o brasileiro entrasse em uma estação de metrô e tomaram uma rápida decisão de prendê-lo utilizando agentes armados. Como a equipe não portava armas, foi substituída por policiais da SO19, unidade armada da Polícia Metropolitana.

No momento em que os policiais armados chegaram, Menezes já estava dentro da estação, após ter usado um bilhete eletrônico para entrar, e descia as escadas em direção à plataforma.

Tragédia

O telejornal "Channel Four News", do Channel Four da Inglaterra, que foi ao ar no Reino Unido às 19h desta terça-feira (15h de Brasília) no Reino Unido, descreveu a morte do brasileiro como "uma tragédia coberta de confusões".

Assim como o "Observer", a rede de TV também afirma que Menezes utilizou um bilhete eletrônico para passar pela roleta e pegou um jornal gratuito antes de descer ao saguão.

Em seguida, ele teria começado a correr, provavelmente para pegar um trem que estava se aproximando da plataforma, ao mesmo tempo em que policiais armados receberam a identificação positiva de seu alvo e a autorização de "atirar para matar". Segundo a rede de TV, Menezes não chegou nem a perceber que estava sendo perseguido.

As fotos da perícia policial, exibidas pelos telejornais ingleses, sugerem que Jean Charles foi morto dentro do trem do metrô, onde já estava sentado em um dos bancos diante de outros passageiros.

Harriet Wistrich, uma das advogadas da família Menezes, disse ao jornal "Channel Four News" que as últimas revelações são absolutamente "chocantes e aterrorizadoras".

Para Harriet, as informações disponibilizadas inicialmente pela polícia são falsas em vários aspectos e completou: "a família de Menezes pode, agora, ter certeza absoluta de que não apenas ele era inteiramente inocente como não estava fazendo nada que pudesse justificar a reação da polícia".

Com "The Guardian"

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