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02/09/2005 - 18h09

Jornalista alertou sobre desastre do Katrina três meses antes

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SHIN OLIVA SUZUKI
da Folha Online

Em 23 de maio último, mais de três meses antes do desastre do Katrina, o jornalista americano Chris Mooney escreveu artigo para a revista "The American Prospect" sinalizando uma possível tragédia.

Sob o título "Pensando grande sobre furacões - é hora de encarar com seriedade o tema da salvação de Nova Orleans", o texto falava sobre prevenção contra furacões devastadores.

Antes de fazer qualquer exercício de futurologia, Mooney, 27, baseou-se no alerta de diversos especialistas sobre a vulnerabilidade da cidade aos furacões.

Em seu artigo [disponível na internet], Mooney cita um informe do NOAA [o programa nacional de administração oceânica e atmosférica dos EUA], datado de 16 de maio deste ano, que previa um furacão de grandes proporções no oceano Atlântico a partir do começo de junho.

Divulgação
Chris Mooney, que escreveu sobre a trágédia três meses antes
O jornalista [que nasceu no Arizona e cresceu em Nova Orleans] diz que o governo federal deveria ter agido para ao menos reduzir os danos causados pelo Katrina.

Na opinião dele, se fosse usada em projetos de prevenção uma fração do prejuízo financeiro deixado pela tragédia, avaliado até o momento em US$ 26 bilhões, seria possível evitar ao menos a destruição de lugares históricos.

Mas as "previsões" de Mooney não foram totalmente em vão: sua cunhada, a brasileira Angela Mooney, deu atenção aos avisos dele e deixou a cidade antes da catástrofe devastar Nova Orleans. Até agora ela e o marido não puderam voltar à cidade, mas já sabem que a casa em que viviam está submersa.

Mooney, que lança neste mês o livro "The Republican War on Science" ["A Guerra Republicana contra a Ciência"] --sobre como o partido de George W. Bush encara a pesquisa científica--, já atuou em importantes meios de comunicação, como o jornal "The Washington Post" e a revista "Wired". Atualmente, além de ser correspondente das revistas "Seed" e "American Prospect", ele é um dos blogueiros que escrevem sobre o furacão Katrina.

Leia íntegra da entrevista que Mooney concedeu à Folha Online, por telefone, de Washington, nesta sexta-feira.

Folha Online - Algo poderia ter sido feito para evitar o desastre em Nova Orleans?

Chris Mooney -Eu acabei de ver uma reportagem na [rede de TV] CNN dizendo que os prejuízos do furacão podem ser de mais de US$ 100 bilhões. Suponha que os Estados Unidos tivessem investido US$ 10 bilhões para evitar o desastre. Isso poderia ter evitado boa parte dos efeitos das enchentes. Não estou dizendo que tudo poderia ter sido salvo, mas uma grande parte sim. Pense a respeito disso. Essas ações teriam um valor alto, sim, mas acabou sendo dez vezes mais caro.

Folha Online -De quem é a responsabilidade por não terem sido feitas ações de prevenção?

Mooney - Do governo federal. Mas eu acho que as autoridades de Louisiana deveriam ter se esforçado mais para convencer o governo federal. Ninguém falava de um possível desastre. Ninguém. Não era um tema aberto e amplamente discutido. Os cientistas avisavam sobre essa possibilidade. E o fato é que ninguém chegou a discordar deles, simplesmente os ignoraram. Isso é inaceitável.

Folha Online - E por que isso ocorreu?

Mooney - Porque as pessoas estavam sendo racionais. Furacões chegam e vão embora, e eles nunca viram um deles atingir tão fortemente a cidade. As pessoas deixavam a cidade e depois voltavam sem nada ter acontecido. Então foi inércia. É o que sempre acontece em desastres como esse, todos ignoram, e algumas pessoas dizem "eu avisei..."

Folha Online - Sim, mas as autoridades estavam avisadas e por que não houve ações efetivas?

Mooney - Olha, eu não sei se reuniões foram feitas ou não, mas o fato é que as ações não foram suficientes. Não há uma só pessoa para jogar a culpa, e sim em muitas.

Folha Online - O sr. acha que George W. Bush [presidente dos EUA] não estava dando muita atenção aos problemas domésticos e sim aos de fora, como a Guerra do Iraque?

Mooney - Vamos dizer que a Guerra do Iraque possivelmente desviou recursos e atenção. Eu não quero dizer que Bush não se importa com os problemas domésticos, mas, bem, há duas coisas: a questão do furacão era conhecida há muitos anos, houve tempo suficiente para proteger melhor a cidade de Nova Orleans. Uma fração dos prejuízos do desastre poderia ter evitado a destruição dos lugares históricos. Segundo, quando apareceu essa tempestade em particular, muitos dias atrás, quando ainda estava fora do litoral da Flórida, já era claro que iria chegar a Nova Orleans. Não há desculpa para não juntar esforços com dias de antecedência.

No meu blog, no dia 4 de agosto deste ano --e eu ainda nem sabia o nome do furacão-- eu digo que "a depressão tropical 12 descreve uma trajetória que pode atingir diretamente o lago Ponchartrain, levando uma tempestade em direção a Nova Orleans. Provavelmente não era hora ainda para começar a arrumar as malas e deixar a casa, mas era uma séria indicação de que um furacão estava a caminho. Agora, se você é um responsável pela defesa civil, você sabe, ou deveria saber, que há uma tempestade de grandes proporções a caminho do litoral da Flórida. Você não vai começar a se preparar para isso? É ultrajante. Não há desculpa. Não usamos informações que tínhamos.

Folha Online - Como o sr. avalia o futuro de Nova Orleans?

Mooney - Estão dizendo que Nova Orleans pode ser reconstruída. OK. Mas não é racional reconstruir a cidade sem protegê-la. Sem um plano de proteção, para que reconstruí-la?


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