Publicidade
Publicidade
02/10/2005
-
09h15
DANIELA LORETO
da Folha Online
A reunificação das duas Alemanhas, em 1990, marcada pela queda do muro de Berlim, não acabou com as diferenças entre as antigas Alemanhas Oriental e Ocidental, na opinião do professor de Ciências da Religião da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, Frank Usarski.
Alemão, Frank nasceu em 1953 em Hannover --cidade que, na época, fazia parte da Alemanha Ocidental. Em 1992, após a reunificação, ele se mudou para a Alemanha Oriental, onde trabalhou em Erfurt de 1992 a 1997. Em 1998, veio para o Brasil.
"O muro ainda existe na cabeça das pessoas. Até hoje, você identifica perfeitamente uma pessoa que mora no antigo lado oriental e outra que mora no lado ocidental. O modo de falar, de se vestir, tudo é diferente", diz.
"Estou há oito anos no Brasil, mas acredito que essas diferenças ainda vão durar uma ou duas gerações", afirma
Segundo o professor, até hoje vários ocidentais conhecem muito pouco o lado oriental do país. "Eu fiquei surpreso quando fui contratado para dar aulas em uma universidade alemã em Bonn, ex-capital da Alemanha Ocidental, e os responsáveis não sabiam onde ficava a cidade onde eu morava na época, na ex-Alemanha Oriental. Não há a menor curiosidade em conhecer o outro lado", diz.
Surpresa
De acordo com Usarski, a queda do muro foi uma "grande surpresa" para a maioria dos alemães.
"O muro foi criado em 1961, no primeiro ano da minha vida escolar. Minha geração viveu grande parte de sua vida convivendo com duas Alemanhas. Para nós, a reunificação foi uma grande surpresa. A nossa realidade sempre foi a Alemanha Ocidental, era como se o mundo acabasse na fronteira com a Alemanha Oriental", diz.
Além disso, segundo o professor, os protestos populares que precederam a queda do muro não exigiam, a princípio, a reunificação. Ele conta que as manifestações pediam um Estado mais democrático, mas que os protestos mudaram o rumo das reivindicações.
Para ele, a divisão era usada pelo governo ocidental para legitimar indiretamente o capitalismo. "A falta de liberdade dos orientais servia de modelo para desarmar as ideologias de esquerda. A Alemanha era a cristalização da Guerra Fria."
Antes da reunificação, Usarski esteve na Alemanha Oriental apenas uma vez, seis meses antes da queda do muro. Ele foi a Leipzig para realizar uma pesquisa acadêmica sobre comunidades budistas na Alemanha. "Ninguém ali tinha idéia do que aconteceria seis meses depois".
Velocidade
Na opinião do professor, as desigualdades perduram até os dias de hoje devido à rapidez com que as mudanças aconteceram.
"Existem possibilidades de intercâmbio cultural mas, até hoje, isto é muito problemático, até mesmo pela velocidade com que a mudança ocorreu. Se analisarmos, por exemplo, a integração de Hong Kong à China, eles tiveram cinco anos para se adaptar. Na Alemanha, a mudança foi muito brusca, muito radical, sem preparação. Em 24 horas, mudou a moeda, a ideologia e governo", diz.
O professor conta que as diferenças não ficam apenas no aspecto cultural, mas também econômico. Ele argumenta que atualmente vários profissionais ainda recebem salários mais baixos que outros que exercem a mesma função. "Até mesmo no Exército", diz.
Leia mais
Erramos: "Muro ainda existe na cabeça das pessoas", diz professor alemão
Especial
Leia cobertura sobre os 15 anos da reunificação alemã
Veja galeria de imagens sobre a reunificação alemã
Leia o que já foi publicado sobre a antiga Alemanha Oriental
Leia o que já foi publicado sobre a antiga Alemanha Ocidental
Leia o que já foi publicado sobre o Muro de Berlim
"Muro ainda existe na cabeça das pessoas", diz professor alemão
Publicidade
da Folha Online
A reunificação das duas Alemanhas, em 1990, marcada pela queda do muro de Berlim, não acabou com as diferenças entre as antigas Alemanhas Oriental e Ocidental, na opinião do professor de Ciências da Religião da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, Frank Usarski.
Alemão, Frank nasceu em 1953 em Hannover --cidade que, na época, fazia parte da Alemanha Ocidental. Em 1992, após a reunificação, ele se mudou para a Alemanha Oriental, onde trabalhou em Erfurt de 1992 a 1997. Em 1998, veio para o Brasil.
"O muro ainda existe na cabeça das pessoas. Até hoje, você identifica perfeitamente uma pessoa que mora no antigo lado oriental e outra que mora no lado ocidental. O modo de falar, de se vestir, tudo é diferente", diz.
"Estou há oito anos no Brasil, mas acredito que essas diferenças ainda vão durar uma ou duas gerações", afirma
Segundo o professor, até hoje vários ocidentais conhecem muito pouco o lado oriental do país. "Eu fiquei surpreso quando fui contratado para dar aulas em uma universidade alemã em Bonn, ex-capital da Alemanha Ocidental, e os responsáveis não sabiam onde ficava a cidade onde eu morava na época, na ex-Alemanha Oriental. Não há a menor curiosidade em conhecer o outro lado", diz.
Surpresa
De acordo com Usarski, a queda do muro foi uma "grande surpresa" para a maioria dos alemães.
"O muro foi criado em 1961, no primeiro ano da minha vida escolar. Minha geração viveu grande parte de sua vida convivendo com duas Alemanhas. Para nós, a reunificação foi uma grande surpresa. A nossa realidade sempre foi a Alemanha Ocidental, era como se o mundo acabasse na fronteira com a Alemanha Oriental", diz.
Além disso, segundo o professor, os protestos populares que precederam a queda do muro não exigiam, a princípio, a reunificação. Ele conta que as manifestações pediam um Estado mais democrático, mas que os protestos mudaram o rumo das reivindicações.
Para ele, a divisão era usada pelo governo ocidental para legitimar indiretamente o capitalismo. "A falta de liberdade dos orientais servia de modelo para desarmar as ideologias de esquerda. A Alemanha era a cristalização da Guerra Fria."
Antes da reunificação, Usarski esteve na Alemanha Oriental apenas uma vez, seis meses antes da queda do muro. Ele foi a Leipzig para realizar uma pesquisa acadêmica sobre comunidades budistas na Alemanha. "Ninguém ali tinha idéia do que aconteceria seis meses depois".
Velocidade
Na opinião do professor, as desigualdades perduram até os dias de hoje devido à rapidez com que as mudanças aconteceram.
"Existem possibilidades de intercâmbio cultural mas, até hoje, isto é muito problemático, até mesmo pela velocidade com que a mudança ocorreu. Se analisarmos, por exemplo, a integração de Hong Kong à China, eles tiveram cinco anos para se adaptar. Na Alemanha, a mudança foi muito brusca, muito radical, sem preparação. Em 24 horas, mudou a moeda, a ideologia e governo", diz.
O professor conta que as diferenças não ficam apenas no aspecto cultural, mas também econômico. Ele argumenta que atualmente vários profissionais ainda recebem salários mais baixos que outros que exercem a mesma função. "Até mesmo no Exército", diz.
Leia mais
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alvo de piadas, Barron Trump se adapta à vida de filho do presidente
- Facções terroristas recrutam jovens em campos de refugiados
- Trabalhadores impulsionam oposição do setor de tecnologia a Donald Trump
- Atentado contra Suprema Corte do Afeganistão mata 19 e fere 41
- Regime sírio enforcou até 13 mil oponentes em prisão, diz ONG
+ Comentadas
- Parlamento de Israel regulariza assentamentos ilegais na Cisjordânia
- Após difamação por foto com Merkel, refugiado sírio processa Facebook
+ EnviadasÍndice