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27/11/2005 - 09h49

Tchetchênia elege hoje Legislativo para "legitimar" paz armada russa

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MÁRCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo

A Tchetchênia, república caucasiana russa de maioria muçulmana, terá hoje sua primeira eleição legislativa desde que o então premiê Vladimir Putin ordenou uma invasão militar para pôr fim à insurgência separatista, em 1999.

Para analistas ouvidos pela Folha, contudo, o pleito só servirá para consolidar o poder dos líderes locais ligados ao Kremlin e a campanha de propaganda oficial segundo a qual a normalidade voltou à república após mais de dez anos de sangrentos conflitos. A primeira guerra recente entre separatistas tchetchenos e forças russas ocorreu de 1994 a 1996.

"A votação será puramente ritualística, com o objetivo de passar a idéia de que a situação está se estabilizando na Tchetchênia. O esforço eleitoral é uma dissimulação. As tropas russas controlam grande parte Tchetchênia, mas isso já é um fato há seis anos. E os lugares que escapam ao controle oficial continuam intratáveis", analisou Mark Kramer, diretor do Projeto de Estudos da Guerra Fria da Universidade Harvard (EUA).

No centro do problema, segundo Lilia Shevtsova, autora de "Putin's Russia" (a Rússia de Putin), está a determinação do Kremlin de não admitir nenhuma negociação com a insurgência tchetchena, que, com efeito, se envolveu com terroristas nos últimos anos.

"Como não tem interlocutores palatáveis, Moscou delegou a tarefa de pôr fim aos conflitos a um clã dominado por Ramzan Kadyrov, filho de Ahmad Kadyrov, governador da Tchetchênia assassinado num atentado cometido há dois anos", avaliou Shevtsova.

Ramzan Kadyrov, secretário do Interior, tem a seu dispor um pequeno Exército cujos homens são acusados por organizações de defesa dos direitos humanos, como a Federação Internacional Helsinki para os Direitos Humanos, de abusos e de tortura e fogem cada vez mais ao controle do Kremlin.

"Os vencedores da eleição serão as elites fiéis a Moscou e a Ramzan Kadyrov, que é um psicopata brutal. Ele é pior que seu pai, que era um senhor da guerra sanguinário, e continuará a amedrontar a população, enquanto busca enriquecimento pessoal", disse Kramer.

Embora sua campanha de intimidação tenha resultado num arrefecimento do conflito, que causou dezenas de milhares de mortes nos últimos 11 anos, permitindo ao Kremlin propalar sua "vitória militar sobre os terroristas", os enfrentamentos e as ações terroristas da insurgência têm-se espalhado por repúblicas vizinhas.

"A votação não terá nenhum impacto no conflito. A tendência agora é a expansão do extremismo para outras áreas do norte do Cáucaso. O Daguestão, a Inguchétia, Kabardino-Balkária e Karatchaiev-Tcherkássia já são palco de atividades dos rebeldes tchetchenos, muitas vezes de cunho terrorista", apontou Kramer.

Há oito partidos na disputa por cadeiras na Assembléia Legislativa, mas nenhum candidato independentista. Segundo pesquisa do instituto SK-Strategia, a Rússia Unida, partido do presidente Putin --cuja lista de candidatos ficou a cargo de Ramzan Kadyrov--, ficará com 34% dos votos. O Partido Comunista terá 12%.

Questionados sobre quem definiria o desfecho da eleição, 72% apontaram Ramzan Kadyrov, enquanto 9% disseram Putin e apenas 2% citaram os eleitores locais.

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