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10/12/2005 - 10h53

Pinochet fica sem voz e voto nas eleições chilenas

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NELSON SANDOVAL DÍAZ
da Efe, em Santiago do Chile

Transformado em um réu nonagenário e em um cadáver político, Augusto Pinochet, pela primeira vez desde a volta da democracia, estará absolutamente ausente das eleições chilenas de amanhã.

Detido em sua casa após ser processado por nove crimes da Operação Colombo, desaforado por outros 29 e processado por quatro delitos de corrupção, a influência política do ex-governante de fato (1973-1990) se reduz a uma centena de fiéis que o cumprimentaram em seu aniversário de 90 anos, em 25 de novembro.

Em teoria, por não ter sido condenado, o ex-ditador poderia votar, autorizado pelo juiz que ordenou sua detenção. Mas, a 24 horas do pleito, ignorava-se se seus advogados haviam solicitado tal permissão.

Para os analistas, há dúvidas se o general, que se vangloriava de que no Chile não se movimentava uma folha sem que ele o soubesse, tem preferência por um dos quatro candidatos que disputam quem será o próximo presidente do Chile.

Os candidatos da direita, Joaquín Lavín e Sebastián Piñera, assim como disputaram palmo a palmo a votação do setor, com a meta de passar a um eventual segundo turno com a candidata governista Michelle Bachelet, também competiram para mostrar a maior distância possível do nonagenário militar.

Lavín passou de entusiasta defensor da "obra" do general a alguém que declarou que cada vez sente "mais distância" daquele período, enquanto Piñera sublinhou permanentemente seu apoio ao "não" no plebiscito de 1988, quando os chilenos rejeitaram a continuidade do regime.

Em outubro do ano passado, por causa de razões de saúde, Pinochet já não votou nas eleições municipais. De fato, a última vez que votou - no primeiro horário, impecavelmente vestido de civil e rodeado de jornalistas e guarda-costas - foi nas eleições legislativas de 11 de dezembro de 1997.

Na época ainda era o comandante-em-chefe do Exército e sua influência política se tinha feito sentir desde que se viu forçado a deixar o poder, em março de 1990, assumindo a Presidência o democrata-cristão Patricio Aylwin.

Aylwin foi eleito em dezembro de 1989, um ano e dois meses depois do plebiscito de 1988, com o qual Pinochet planejava continuar na Presidência até 1998 e quando, apesar sua derrota, adotou as garantias asseguradas pelo marco constitucional democrático "protegido" que desenhou.

Um marco que lhe assegurava a chefia do Exército até março de 1998 e, após isso, um assento vitalício no Senado.

Ao começar o Governo de Aylwin, Pinochet advertiu que "no dia em que um de meus homens forem tocados, acaba o estado de direito", o que levou à prática, duas vezes nesse período (1990-94), de mobilizações militares que ficaram conhecidas como "o exercício de enlace" e "o boinazo", com tropas na rua.

Claro que tais ações foram simples manobras para tentar frear a investigação do obscuro negócio dos "Pinocheques" --o pagamento de US$ 3 milhões do Exército a Augusto Pinochet Hiriart, filho maior do ex-ditador, como intermediário na compra de uma fábrica de fuzis.

Nas eleições presidenciais de dezembro de 1999, com o segundo turno marcado para 16 de janeiro entre Ricardo Lagos e Joaquín Lavín, Pinochet estava preso em Londres, com seu poder em declive.

Retornou ao Chile em março de 2000, após 17 meses de detenção na capital britânica, a pedido do juiz espanhol Baltasar Garzón, poucos dias antes da posse de Lagos.

Seu retorno marcou um aprofundamento de seu ocaso político, pois as queixas judiciais contra o ex-ditador se multiplicaram até somar mais de 300, foi desaforado e processado pelo juiz Juan Guzmán no caso da Caravana da Morte e, em meio ao descrédito, teve de renunciar a sua cadeira de senador.

O resto é história recente: acossado pela Justiça, sua defesa teve de recorrer a sua "demência subcortical" para libertá-lo dos processos e, com freqüentes idas ao hospital, optou por mudar-se definitivamente para sua residência de inverno.

O desejo de sua vida, de dias plácidos rodeados de netos e saudado em seus aniversários por antigos colaboradores que ainda lhe guardavam devoção, foi abaixo quando, em meados do ano passado, soube-se que apesar sua idade, continuava administrando uma fortuna de origem desconhecida em contas secretas no exterior.

Até os que haviam justificado as piores violações dos direitos humanos de sua ditadura não perdoaram Pinochet por ser corrupto e tomaram rapidamente distância, até deixá-lo na solidão que sofre hoje.
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