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05/02/2006
-
08h00
DANIELA LORETO
da Folha Online
As eleições locais que ocorrem nesta quarta-feira no Nepal não devem mudar o cenário político nem levar mais democracia ao país, de acordo com Xenia Dormandy, diretora-executiva de pesquisas do Centro Belfer de Ciências e Assuntos Internacionais da Universidade de Harvard.
Em entrevista à Folha Online, por telefone, Dormandy disse que "as eleições são uma grande "exibição" e um passo superficial. "Não visam trazer mudanças efetivas. Elas não serão justas, não representarão o povo e não haverá mais democracia no Nepal depois delas", afirma.
O pleito desta quarta-feira ocorrem apesar da resistência da população e do "boicote" da principal aliança política do país-- formada por sete partidos.
De acordo com a especialista, as eleições estão sendo realizadas devido à "necessidade de legitimação do rei frente à comunidade internacional e à população do Nepal.
Há pressão da comunidade internacional-- principalmente dos Estados Unidos e da Inglaterra-- que condenam com veemência o golpe de Estado levado a cabo pelo rei Gyanendra em 2005, e exigem que líder do governo se aproxime da democracia.
Segundo Dormandy, Gyanendra também pretende mostrar à população --que também pressiona o governo --que está fazendo uma "tentativa" de impor mais democracia e liberdade, por meio das eleições.
"Os candidatos não são candidatos reais, são pessoas que estão sendo obrigadas pelo rei a concorrer e, por outro lado, correm o risco de morrer nas mãos de rebeldes", diz.
Boicote
Segundo ela, o "boicote" da aliança formada pelos sete maiores partidos do país beneficia o rei. "É muito bom para ele que isso tenha ocorrido. Se eles tivessem optado por concorrer, Gyanendra correria o risco de ver eleitos candidatos que não o apóiam".
Dormandy descarta a possibilidade de que Gyanendra seja deposto devido às pressões que vem sofrendo. para ela "não é provável que o rei seja retirado do poder, e que haja um golpe militar no país, porque o Exército o apóia. "A aliança política de oposição e a população não têm força suficiente para derrubá-lo, pelos menos a curto prazo", diz.
Para a especialista, uma possibilidade de mudança no país seria viável com uma eventual intervenção da comunidade internacional. "No caso de ocorrer muita violência, outros países poderiam intervir, mas ninguém sabe se isso acontecerá".
Rebeldes
Os rebeldes maoístas -- que controlam grande parte do território nepalês-- ameaçam tomar "medidas severas" contra os candidatos, exigindo que todos abandonem a candidatura e ameaçando cometer atos violentos contra aqueles que permanecerem na disputa.
Os grupos rebeldes aumentaram seus ataques nas últimas semanas, depois de anunciarem, em 2 de janeiro último, a retomada da guerrilha, após uma trégua unilateral que durou quatro meses. Os maoístas já foram acusados de matar um dos candidatos e seqüestrar um segundo.
Segundo Dormandy, uma recente mudança nas ações maoístas foi o aumento de ataques na região da capital Katmandu, o que, segundo ela, é uma estratégia dos rebeldes para desestabilizar o governo, que prometeu segurança à população.
"Desde que [Gyanendra] dissolveu o governo, há um ano, alegando um estado de insegurança no país, o rei aumentou o policiamento em Katmandu e na região, que eram consideradas áreas seguras", explica a especialista.
Legitimidade
Para Dormandy, uma maneira de obter maior legitimidade entre os nepaleses seria tentar conquistar o apoio da população, em vez de recorrer a um processo eleitoral que não tem qualquer respaldo popular.
"Gyanendra não compreendeu que deve dar aos nepaleses aquilo que eles precisam. O governo não tentou, em nenhum momento, ganhar as almas e os corações de seu povo", afirma.
Segundo ela, a população também não apóia os maoístas porque eles usam de força, fazem extorsões, entram nas casas e levam jovens à força para serem militantes.
Dormandy diz ainda que, para legitimar seu governo, Gyanendra precisaria abrir mão de parte de seu poder e negociar com outros partidos. "Muito poderia mudar se ele quisesse negociar e dividir o poder, mas ele não parece disposto a fazer isso. O governo deveria trabalhar ao lado dos partidos políticos, isso levaria democracia ao Nepal", diz.
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Eleições não levarão mais democracia ao Nepal, diz especialista
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da Folha Online
As eleições locais que ocorrem nesta quarta-feira no Nepal não devem mudar o cenário político nem levar mais democracia ao país, de acordo com Xenia Dormandy, diretora-executiva de pesquisas do Centro Belfer de Ciências e Assuntos Internacionais da Universidade de Harvard.
Em entrevista à Folha Online, por telefone, Dormandy disse que "as eleições são uma grande "exibição" e um passo superficial. "Não visam trazer mudanças efetivas. Elas não serão justas, não representarão o povo e não haverá mais democracia no Nepal depois delas", afirma.
Divulgação |
Xenia Dormandy, especialista em assuntos internacionais da Universidade de Harvard |
De acordo com a especialista, as eleições estão sendo realizadas devido à "necessidade de legitimação do rei frente à comunidade internacional e à população do Nepal.
Há pressão da comunidade internacional-- principalmente dos Estados Unidos e da Inglaterra-- que condenam com veemência o golpe de Estado levado a cabo pelo rei Gyanendra em 2005, e exigem que líder do governo se aproxime da democracia.
Segundo Dormandy, Gyanendra também pretende mostrar à população --que também pressiona o governo --que está fazendo uma "tentativa" de impor mais democracia e liberdade, por meio das eleições.
"Os candidatos não são candidatos reais, são pessoas que estão sendo obrigadas pelo rei a concorrer e, por outro lado, correm o risco de morrer nas mãos de rebeldes", diz.
Boicote
Segundo ela, o "boicote" da aliança formada pelos sete maiores partidos do país beneficia o rei. "É muito bom para ele que isso tenha ocorrido. Se eles tivessem optado por concorrer, Gyanendra correria o risco de ver eleitos candidatos que não o apóiam".
Dormandy descarta a possibilidade de que Gyanendra seja deposto devido às pressões que vem sofrendo. para ela "não é provável que o rei seja retirado do poder, e que haja um golpe militar no país, porque o Exército o apóia. "A aliança política de oposição e a população não têm força suficiente para derrubá-lo, pelos menos a curto prazo", diz.
Para a especialista, uma possibilidade de mudança no país seria viável com uma eventual intervenção da comunidade internacional. "No caso de ocorrer muita violência, outros países poderiam intervir, mas ninguém sabe se isso acontecerá".
Rebeldes
Os rebeldes maoístas -- que controlam grande parte do território nepalês-- ameaçam tomar "medidas severas" contra os candidatos, exigindo que todos abandonem a candidatura e ameaçando cometer atos violentos contra aqueles que permanecerem na disputa.
Os grupos rebeldes aumentaram seus ataques nas últimas semanas, depois de anunciarem, em 2 de janeiro último, a retomada da guerrilha, após uma trégua unilateral que durou quatro meses. Os maoístas já foram acusados de matar um dos candidatos e seqüestrar um segundo.
Segundo Dormandy, uma recente mudança nas ações maoístas foi o aumento de ataques na região da capital Katmandu, o que, segundo ela, é uma estratégia dos rebeldes para desestabilizar o governo, que prometeu segurança à população.
"Desde que [Gyanendra] dissolveu o governo, há um ano, alegando um estado de insegurança no país, o rei aumentou o policiamento em Katmandu e na região, que eram consideradas áreas seguras", explica a especialista.
Legitimidade
Para Dormandy, uma maneira de obter maior legitimidade entre os nepaleses seria tentar conquistar o apoio da população, em vez de recorrer a um processo eleitoral que não tem qualquer respaldo popular.
"Gyanendra não compreendeu que deve dar aos nepaleses aquilo que eles precisam. O governo não tentou, em nenhum momento, ganhar as almas e os corações de seu povo", afirma.
Segundo ela, a população também não apóia os maoístas porque eles usam de força, fazem extorsões, entram nas casas e levam jovens à força para serem militantes.
Dormandy diz ainda que, para legitimar seu governo, Gyanendra precisaria abrir mão de parte de seu poder e negociar com outros partidos. "Muito poderia mudar se ele quisesse negociar e dividir o poder, mas ele não parece disposto a fazer isso. O governo deveria trabalhar ao lado dos partidos políticos, isso levaria democracia ao Nepal", diz.
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