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05/02/2006 - 11h23

Haiti tem candidatos suspeitos de crimes

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FABIANO MAISONNAVE
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Porto Príncipe

A falta de um Poder Judiciário minimamente funcional e a precária situação da polícia abriram espaço para que as eleições presidenciais e legislativas haitianas da próxima terça-feira incluíssem, sem maiores empecilhos, uma considerável lista de candidatos suspeitos de tráfico de drogas, roubo de carros, assassinato e massacres políticos. Alguns deles estariam envolvidos na recente onda de seqüestros a fim de financiar suas campanhas.

"Acredito na relação entre os seqüestros e o financiamento de campanha, mas, neste momento, não posso dizer qual é o candidato que se beneficia disso", disse à Folha Michael Lufus, diretor da Polícia Judicial, braço encarregado de investigações da pouco eficiente Polícia Nacional Haitiana.

"Há fortes indícios a respeito de diversos membros das organizações políticas", afirmou Lufus, ao ser questionado sobre a ligação entre candidatos e o crime organizado. "Mas não é possível dizer se a participação se refere a apenas um membro ou se é do conhecimento dos dirigentes."

A polícia estima que mais de 1.900 pessoas tenham sido seqüestradas nos últimos dez meses, quase todas em Porto Príncipe. Em todo o ano passado, o Estado de São Paulo registrou 133 crimes desse tipo.

Mais cauteloso, o recém-empossado comandante militar da missão da ONU, o general brasileiro José Elito Carvalho Siqueira, disse na quinta-feira não ter "condições de confirmar, seria imprudente da minha parte. O que eu vi nesses 12 dias em que estou aqui é um decréscimo muito grande dos índices de seqüestro. Mas a impressão é que os seqüestros visam mais a sobrevivência mesmo".

Antecedentes

O histórico de alguns candidatos também assusta. Ao menos 3 dos 34 postulantes à Presidência estão envolvidos com narcotráfico e crimes cometidos no passado, de acordo com os EUA e entidades de direitos humanos, embora nenhum deles tenha chance de vitória.

O caso mais notório é o do ex-rebelde Guy Philippe, candidato a presidente da Frente pela Reconstrução Nacional, com cerca de 4% das intenções de votos, segundo as poucas pesquisas disponíveis. Responsabilizado pela morte de dezenas de pessoas na rebelião que provocou a queda de Jean-Bertrand Aristide, há dois anos, Philippe tem laços com o tráfico internacional de cocaína, segundo os americanos.

O Haiti é a rota de cerca de 8% da cocaína colombiana que chega aos EUA, segundo o governo americano. De acordo com o último relatório anual sobre narcotráfico internacional do Departamento de Estado dos EUA, o fluxo de cocaína ao Haiti ocorre, depois da queda de Aristide, em fevereiro de 2004, "sem barreiras".

As acusações contra Philippe, 37, não se restringem ao narcotráfico. Entidades de direitos humanos também apontam o seu envolvimento em assassinatos na época em que era chefe de polícia no populoso distrito de Delmas, em Porto Príncipe.

Philippe nega todas as acusações, mas, em entrevista ao "Miami Herald", admitiu ter recebido dinheiro do empresário Jean-Claude Louis-Jean, também suspeito de vínculos com o narcotráfico. Além disso, segundo a agência Reuters, trabalha em sua campanha Louis Jodel Chamblain, ex-líder de um grupo de extermínio e condenado duas vezes por homicídio.

Philippe era, até o fim do ano passado, aliado político de Youri Latortue, sobrinho e chefe de segurança e da inteligência do premiê Gérard Latortue e atualmente em campanha por uma vaga no Senado pela região de Gonaives, onde também seria ligado à rede de tráfico de drogas que age no importante porto da cidade.

Conhecido pelo apelido de "Mr. 30%", supostamente pela comissão que cobra em contratos com o governo, Youri teve o visto de entrada recusado pelos EUA, segundo a rede de jornais americana "Knight Ridder". Na época, a embaixada americana informou ao premiê sobre a ligação do sobrinho com o narcotráfico.

Gérard Latortue, no entanto, tem defendido publicamente o seu sobrinho das acusações.

Os outros dois candidatos com suspeitas de atividades ilícitas são Dany Toussaint, um ex-senador ligado a Aristide e também envolvido em tráfico de drogas, segundo os EUA, e Franck Romain, ex-militar ligado ao regime do ditador François "Papa Doc" Duvalier. Em 1988, ele foi acusado de orquestrar o massacre de 13 pessoas dentro de uma igreja onde estava o então padre Aristide.

Até agora, apenas o candidato Willo Joseph, do partido Aliança, foi preso, em 9 de janeiro, quando dirigia um carro roubado. Segundo a Polícia Judicial, Joseph faz parte de uma organização que falsifica documentos para legalizar automóveis. Por não ter sido condenado --a Justiça haitiana está praticamente parada-, Joseph ainda é candidato a deputado.

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