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06/02/2006 - 22h54

Manifestações contra charges de Maomé deixam quatro mortos

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da France Presse, em Jalalabad (Afeganistão)

Três pessoas morreram nesta segunda-feira na região leste do Afeganistão e outra na Somália durante manifestações contra a publicação de caricaturas do profeta Maomé, informaram autoridades locais.

Vinte afegãos ficaram feridos nas manifestações que explodiram nos quatro cantos do país.

Já um grupo de manifestantes iranianos entrou à força brevemente nesta segunda-feira na sede da embaixada dinamarquesa em Teerã, sendo expulso pela polícia com gás lacrimogêneo, constatou um jornalista da France Presse.

Antes, centenas de manifestantes atacaram a embaixada dinamarquesa em Teerã com coquetéis molotov e pedras, em meio à escalada de protestos contra a publicação das charges do profeta Maomé.

Diversas bombas artesanais foram vistas sendo atiradas por cima dos muros da embaixada, incendiando uma árvore. Pedras também foram lançadas no teto do edifício.

No leste da África os protestos contra a publicação das caricaturas de Maomé ganharam amplitude, sobretudo na Somália, onde um manifestante foi morto nesta segunda-feira e em Djibuti, onde o governo proibiu as importações dinamarquesas em sinal de represália.

No Quênia, vizinho da Somália, a principal organização muçulmana, o Conselho Supremo dos Muçulmanos do Quênia (Supkem), convocou uma manifestação para sexta-feira na capital, Nairóbi.

"Para nós, qualquer insulto contra o profeta é a última coisa que podemos aceitar", declarou à imprensa o secretário-geral do Supkem, Adan Wachu.

Por sua vez, a embaixada da Dinamarca em Nairóbi anunciou em comunicado esperar que a violência seja contida no Quênia e pediu para os muçulmanos se manifestarem "pacífica" e "dignamente".

Uma minoria importante de quenianos é muçulmana e está localizada principalmente na costa do oceano Índico, um dos principais pontos turísticos do país.

Na Somália, onde uma primeira manifestação pacífica ocorreu na sexta-feira (3) na capital Mogadíscio, houve confrontos nesta segunda-feira entre manifestantes e policiais em Bossaso (nordeste).

A polícia atirou contra os manifestantes, que atiravam pedras, informou um policial sob anonimato. De acordo com a fonte, um manifestante foi morto e vários ficaram feridos.

Segundo outros depoimentos, várias centenas de manifestantes ocuparam as ruas da cidade gritando slogans antiocidentais, sobretudo contra a Dinamarca, após a publicação das caricaturas do profeta por um jornal dinamarquês.

A Somália, país muçulmano pobre do chifre da África, é palco de uma guerra civil que deixou de 300 mil a 500 mil mortos desde 1991.

Em Djibuti, país vizinho da Somália onde 96% da população é muçulmana, os estudantes se manifestaram durante o fim de semana contra as charges. Os incidentes com as forças da polícia deixaram pelo menos três feridos.

Segundo fontes hospitalares, um deles, gravemente atingido por uma granada de gás lacrimogêneo, teve um braço amputado.

Djibuti proibiu as importações de produtos dinamarqueses assim como sua comercialização, segundo um comunicado do Ministério do Comércio e da Indústria.

Líbano

Ontem, os protestos violentos de muçulmanos no mundo pela publicação na Europa das caricaturas chegaram ao Líbano, onde o consulado da Dinamarca foi incendiado e 28 pessoas ficaram feridas, um dia depois dos ataques às embaixadas dinamarquesa e norueguesa.

No Cairo, milhares de estudantes egípcios, comandados pelo xeque Al Azhar, a máxima autoridade do islã sunita, se manifestaram nesta segunda-feira, contra as caricaturas.

"O boicote de todos os países que atacaram o profeta é um dever de toda a nação muçulmana", afirmou o xeque ante os manifestantes.

Os estudantes, reunidos no campus universitário, lançaram palavras hostis contra os países que publicaram as charges de Maomé.

Crime na Turquia

Em Ancara, as autoridades turcas estão investigando o assassinato no domingo de um padre italiano no nordeste do país, em meio a um clima de provocação e violência causado pela publicação de caricaturas ofensivas do profeta Maomé na Europa. O papa Bento 16 condenou imediatamente o crime.

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, igualmente condenou o ocorrido e afirmou que "não se pode aceitar que um padre seja morto a tiros em um templo durante um ofício religioso".

"Estamos acompanhando de perto este caso", declarou na noite de domingo, em Istambul.

O Ministério do Interior informou que seu responsável, Abülkadir Aksu, adiou uma visita ao Vietnã para acompanhar a investigação.

As câmeras de segurança de uma loja filmaram o assassino do padre e a polícia local dispõe de importantes indícios para localizá-lo, segundo declararam fontes dos serviços de segurança ao canal de notícias NTV.

O assassino foi filmado enquanto fugia e o proprietário da loja advertiu a polícia, que, a partir das imagens feitas, elaborou um retrato falado que foi publicado pela imprensa.

Andrea Santoro, 59, originário de Piverno, perto de Roma, foi morto no domingo depois da missa, na porta da igreja Santa Maria, em Trebisonda, às margens do mar Negro. Ele foi atingido por tiros no peito.

Em comunicado divulgado no sábado (4), o Vaticano recorda que a liberdade de expressão não autoriza "ferir os sentimentos dos crentes" e lamenta a violência das manifestações de protesto.

Repúdio aos europeus

Centenas de iranianos jogaram pedras e ovos nesta segunda-feira contra a embaixada da Áustria em Teerã e quebraram os vidros das janelas do prédio durante manifestação para protestar contra a publicação de caricaturas de Maomé na imprensa européia.

A Áustria ocupa atualmente a presidência rotativa da União Européia.

Os quase 300 manifestantes, em maioria membros de milícias islâmicas, queimaram bandeiras de países europeus e exigiram o fechamento das representações diplomáticas dos Estados em que a imprensa publicou as charges consideradas ofensivas.

O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ordenou no sábado (4) a ruptura dos contratos financeiros de seu país com a Dinamarca e os países que publicaram as caricaturas.

O Irã, além disso, chamou para consultas o embaixador da Dinamarca, segundo o Ministério das Relações Exteriores.

Em Bangcoc, mais de 200 pessoas protestaram nesta segunda-feira diante da embaixada da Dinamarca, exigindo desculpas de Copenhague depois da publicação das caricaturas que mostravam o profeta Maomé como um terrorista, informou um diplomata.

Um representante da embaixada qualificou a manifestação, que durou duas horas, de pacífica. Quarenta policiais tailandeses foram enviados ao local para proteger o edifício.

"Boicotem os produtos dinamarqueses", "o governo dinamarquês e a UE devem pedir desculpas", afirmavam alguns manifestantes.

A Tailândia é um país de maioria budista, com 5% de muçulmanos.

A maioria dos muçulmanos vivem nas províncias meridionais do país, perto da Malásia. Há dois anos, esta região é cenário de atos de violência separatista.

Centenas de pessoas também se reuniram nesta segunda-feira diante da embaixada da Dinamarca na Indonésia, o país muçulmano mais populoso do planeta, para manifestar oposição à publicação da caricaturas de Maomé pela imprensa dinamarquesa e alguns jornais europeus.

Trezentos membros do Partido da Justiça e Prosperidade, a formação política muçulmana moderada, se reuniram diante da representação diplomática com cartazes que afirmavam: "O governo dinamarquês deve pedir perdão por difamar o profeta Maomé" e "a liberdade não pede para insultar a religião".

"Em nome do Islã, estamos dispostos a lutar contra todo aquele que insulte o mensageiro de Alá", afirmou um dos líderes do partido, que tem forte apoio nas áreas urbanas do país e que geralmente organiza manifestações pacíficas.

Dezenas de policiais armados protegiam a embaixada, que na sexta-feira foi atacada por membros de um grupo radical. Os manifestantes da semana passada quebraram lâmpadas e jogaram ovos no edifício.

O presidente indonésio, Susilo Bambang Yudhoyono, criticou a publicação das caricaturas por considerá-las um insulto aos muçulmanos de todo o mundo.

No entanto, o governante pediu calma à população e acrescentou que o governo de Jacarta aceitou as desculpas públicas apresentadas pelo primeiro-ministro dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen, e pelos editores do "Jyllands-Posten", o primeiro jornal a publicar os desenhos, em setembro de 2005.

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