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07/02/2006 - 16h32

Violência assusta Nepal na véspera das eleições municipais

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DANIELA LORETO
da Folha Online

Cerca de 1,9 milhão de nepaleses irão às urnas nesta quarta-feira (8) para eleger representantes de 58 cidades, em um processo que não conta com o apoio da população nem dos partidos de oposição, que boicotam o pleito.

Além do boicote da maior aliança política [sete partidos], outra dificuldade enfrentada pelo governo para a realização do pleito --o primeiro a ocorrer no Nepal desde 1999-- são os crescentes ataques dos rebeldes.

Em entrevista por e-mail à Folha Online, Giuseppe Pogliari, porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no Nepal, disse que a insurgência maoísta --que controla grande parte do território nepalês-- intensificou seus ataques depois dia 2 de janeiro último, quando suspendeu a trégua unilateral que durou quatro meses.

"Após o final do cessar-fogo, a violência se tornou mais freqüente", diz o porta-voz. "A tensão e a instabilidade cresceram com a proximidade das eleições", acrescenta Pogliari.

No entanto, segundo ele, o CICV "é respeitado tanto pelo governo nepalês quanto pelos rebeldes, e por isso seus membros não enfrentam problemas de segurança".

Reforço

O policiamento foi reforçado às vésperas das eleições, para evitar que a violência dificulte a realização do pleito. No entanto, na madrugada desta terça-feira, sete policiais e um rebelde morreram em dois confrontos, enquanto um taxista foi assassinado pela guerrilha maoísta.

Cinco policiais e um rebelde morreram em Gaighat, no distrito de Udayapur, cerca de 400 quilômetros ao sudeste de Katmandu, enquanto os outros dois agente morreram em Panauti (Havre).

Ataques

Nesta segunda-feira, mais de 300 rebeldes maoístas armados-- muitos deles mulheres--atacaram a cidade de Panauti, 30 km ao leste de Katmandu, matando um soldado e um policial ao disparar contra um posto do Exército.

Segundo o Exército, cinco solados e policiais também morreram nesta segunda-feira quando maoístas atacaram uma patrulha do Exército na vila de Karmagachi, 450 km ao leste de Katmandu. Dois corpos de rebeldes foram encontrados na região.

Os ataques contra os candidatos, que sofreram ameaças dos rebeldes, também cresceram durante a campanha eleitoral. Dois deles foram supostamente assassinados por insurgentes.

Mais de 13 mil pessoas morreram desde que a guerrilha maoísta deu início às suas atividades, em 1996.

Greve

"Os maoístas convocaram uma greve entre os dias 5 e 11 de fevereiro, incluindo o dia das eleições (8), para prejudicar andamento das eleições", relata o porta-voz da Cruz Vermelha. "Antes da greve, muitos protestos aconteceram nas ruas de todo o país, alguns deles violentos", diz Pogliari.

Nesta terça-feira --terceiro dia da greve-- poucos veículos particulares eram vistos circulando pelas ruas de Katmandu. As avenidas mais movimentadas e os distritos comerciais da capital também permaneceram vazios.

O governo nepalês ordenou que os cidadãos ignorassem a greve geral e ameaçou deter os grevistas.

Um taxista foi assassinado por insurgentes quando conduzia seu veículo na região de Lalitpur, perto de Katmandu --aparentemente por desrespeitar a ordem de greve geral.

Uma bomba foi detonada em um posto das forças de segurança em Dhading por supostos rebeldes, sem causar vítimas.

Boicote

Desde 1º de fevereiro de 2005, quando o rei Gyanendra, alegando motivos de segurança, dissolveu o governo, declarou estado de emergência, prendeu líderes de partidos e assumiu praticamente sozinho o poder, o país vive sob as tensões causadas pela pressão da população --que exige mais liberdade e democracia-- e da violência da guerrilha maoísta, que atua desde 1996.

As eleições locais são vistas pelo rei como uma preparação para as eleições gerais de abril de 2007, que diz querer levar o país a uma "democracia multipartidária".

No entanto, a principal aliança política do país --composta pelos sete principais partidos-- boicotou o processo porque o considera uma "farsa", já que Gyanendra detém o poder absoluto há um ano após o golpe de Estado. Candidatos se registraram para menos da metade das 4.146 vagas para os governos locais.

"O Partido Comunista do Nepal (maoísta) decidiu boicotar as eleições convocadas pelo governo. A oposição não deseja que o pleito aconteça sob as atuais circunstâncias, pois não reconhece a legitimidade do atual governo", diz Pogliari.

Embora afirme que deseja trazer democracia ao país, em seu discurso exibido pela TV em 1º de fevereiro--primeiro aniversário do golpe-- Gyanendra deixou claro que continuará exercendo o poder absoluto, e não deu indícios de abrir um diálogo com a oposição que, assim como os rebeldes maoístas, exigem a formação de uma Assembléia Constituinte.

Golpe

Durante um longo período de sua história, o Nepal foi comandado por governos absolutos. Em 1990, o país se tornou uma monarquia constitucional. No entanto, desde 1996, há intensa ação da guerrilha maoísta, que tenta derrubar a monarquia para instituir um regime socialista.

Em junho de 2001, o príncipe Dipendra promoveu um massacre no palácio real, matou seus pais e primos e tentou se matar em seguida. Mesmo internado e em estado de coma, ele foi proclamado rei. Em 4 de junho, após sua morte, seu tio Gyanendra assumiu o trono.

Em outubro de 2002, o novo rei demite o primeiro-ministro e seu gabinete por "incompetência", depois de eles terem dissolvido o Parlamento e não conseguiram realizar eleições devido à insurgência.

Em junho de 2004, Gyanendra reinstala o primeiro-ministro, que forma um governo de coalizão com outros quatro partidos.

Em 1º de fevereiro de 2005, dizendo-se "insatisfeito" e "preocupado com a segurança" do Nepal, Gyanendra dissolve o governo e assume a chefia do governo.

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