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23/04/2006
-
09h29
UIRÁ MACHADO
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Baku
Intelectuais reunidos no Azerbaijão por ocasião da 13ª Conferência da Academia da Latinidade concluíram que, para existir um avanço no diálogo entre o Ocidente e o "mundo islâmico", é preciso haver uma nova abordagem que rejeite generalizações e a idéia de que ambos os mundos são homogêneos.
"Chega-se à conclusão de que não podemos falar em duas civilizações --o encontro que existe é entre pessoas inseridas nesta ou naquela realidade. A generalização impede a existência de um verdadeiro diálogo", afirma o cientista político Sergio Paulo Rouanet.
A observação de Rouanet é compartilhada pela maioria dos intelectuais que estiveram em Baku, capital do Azerbaijão, entre os dias 19 e 21 de abril. Participaram do encontro 23 intelectuais --alguns de expressão internacional, como o sociólogo Alain Touraine e o filósofo Jean Baudrillard, ambos franceses, e outros locais, como a analista política Leila Alieva, do Azerbaijão. O tema da conferência foi "Cultura da Diferença na Eurásia".
Segundo o sociólogo brasileiro Candido Mendes, secretário-geral da academia, a proposta da conferência "é criar uma interlocução sem envolver interferência política. A academia quer defender o multiculturalismo, daí por que viemos ao Azerbaijão, país muçulmano, mas secular, e no qual convivem diversas religiões diferentes". A República secular do Azerbaijão, país muçulmano com maioria xiita, tem mais de 25 religiões reconhecidas --é, por isso mesmo, diz Mendes, um exemplo de convivência pacífica na região.
Mendes insiste na busca pela diferença e na sua aceitação como caminho e garantia para uma convivência pacífica. "O Ocidente é sofisticado, não se pode continuar achando que o Ocidente são os Estados Unidos, da mesma forma que não podemos achar que todo país muçulmano é teocrático, retrógado ou de ultradireita".
Essa visão esteve presente na apresentação de Alain Touraine, quando defendeu a importância da noção de latinidade. Segundo o sociólogo francês, esse termo, por ser artificial e não significar algo concreto e facilmente identificável, representa exatamente aquilo que a Academia da Latinidade busca: o pluralismo, o multiculturalismo.
A rejeição à idéia de um "mundo islâmico" homogêneo apareceu também na exposição de Susan Buck-Morss, professora da filosofia política na Universidade Cornell, nos EUA, onde dá aulas sobre islamismo. "O mundo islâmico é tão heterogêneo que pode inclusive contemplar uma esquerda global, progressiva. E não digo que isso possa acontecer apenas como uma dissidência do governo de um país muçulmano, mas mesmo no governo".
Embora a maior parte das discussões tenha se dado no nível puramente teórico, a conferência não passou ao largo dos debates concretos da região, como o conflito entre EUA e Irã. Cesario Melantonio Neto, embaixador do Brasil em Ancara (Turquia), disse que o evento demonstrou que, se houver um ataque, "ele virá do Ocidente". Em sua exposição, a respeito do oleoduto Baku-Tbilis-Ceyhan, ele descreveu os esforços americanos para levar petróleo do Mar Cáspio ao Mediterrâneo e conseguir, assim, multiplicar suas fontes de recursos energéticos e evitar uma possível dependência de poucos fornecedores.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre a latinidade
Intelectuais defendem diálogo islã-Ocidente
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Enviado especial da Folha de S.Paulo a Baku
Intelectuais reunidos no Azerbaijão por ocasião da 13ª Conferência da Academia da Latinidade concluíram que, para existir um avanço no diálogo entre o Ocidente e o "mundo islâmico", é preciso haver uma nova abordagem que rejeite generalizações e a idéia de que ambos os mundos são homogêneos.
"Chega-se à conclusão de que não podemos falar em duas civilizações --o encontro que existe é entre pessoas inseridas nesta ou naquela realidade. A generalização impede a existência de um verdadeiro diálogo", afirma o cientista político Sergio Paulo Rouanet.
A observação de Rouanet é compartilhada pela maioria dos intelectuais que estiveram em Baku, capital do Azerbaijão, entre os dias 19 e 21 de abril. Participaram do encontro 23 intelectuais --alguns de expressão internacional, como o sociólogo Alain Touraine e o filósofo Jean Baudrillard, ambos franceses, e outros locais, como a analista política Leila Alieva, do Azerbaijão. O tema da conferência foi "Cultura da Diferença na Eurásia".
Segundo o sociólogo brasileiro Candido Mendes, secretário-geral da academia, a proposta da conferência "é criar uma interlocução sem envolver interferência política. A academia quer defender o multiculturalismo, daí por que viemos ao Azerbaijão, país muçulmano, mas secular, e no qual convivem diversas religiões diferentes". A República secular do Azerbaijão, país muçulmano com maioria xiita, tem mais de 25 religiões reconhecidas --é, por isso mesmo, diz Mendes, um exemplo de convivência pacífica na região.
Mendes insiste na busca pela diferença e na sua aceitação como caminho e garantia para uma convivência pacífica. "O Ocidente é sofisticado, não se pode continuar achando que o Ocidente são os Estados Unidos, da mesma forma que não podemos achar que todo país muçulmano é teocrático, retrógado ou de ultradireita".
Essa visão esteve presente na apresentação de Alain Touraine, quando defendeu a importância da noção de latinidade. Segundo o sociólogo francês, esse termo, por ser artificial e não significar algo concreto e facilmente identificável, representa exatamente aquilo que a Academia da Latinidade busca: o pluralismo, o multiculturalismo.
A rejeição à idéia de um "mundo islâmico" homogêneo apareceu também na exposição de Susan Buck-Morss, professora da filosofia política na Universidade Cornell, nos EUA, onde dá aulas sobre islamismo. "O mundo islâmico é tão heterogêneo que pode inclusive contemplar uma esquerda global, progressiva. E não digo que isso possa acontecer apenas como uma dissidência do governo de um país muçulmano, mas mesmo no governo".
Embora a maior parte das discussões tenha se dado no nível puramente teórico, a conferência não passou ao largo dos debates concretos da região, como o conflito entre EUA e Irã. Cesario Melantonio Neto, embaixador do Brasil em Ancara (Turquia), disse que o evento demonstrou que, se houver um ataque, "ele virá do Ocidente". Em sua exposição, a respeito do oleoduto Baku-Tbilis-Ceyhan, ele descreveu os esforços americanos para levar petróleo do Mar Cáspio ao Mediterrâneo e conseguir, assim, multiplicar suas fontes de recursos energéticos e evitar uma possível dependência de poucos fornecedores.
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