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25/04/2006
-
17h48
JULIANA CARPANEZ
da Folha Online
O acidente nuclear em Tchernobil, em 26 de abril de 1986, formou uma nuvem carregada de substâncias radioativas que, devido às condições climáticas, espalharam-se pelo ar e penetraram o solo. O contato com estas substâncias teve conseqüências sérias para a saúde das pessoas --muitas delas desenvolveram câncer, problemas circulatórios e catarata.
Nos casos mais graves, a radiação altera o DNA das células, fazendo com que elas percam seu ritmo normal de divisão e se comportem como células cancerosas. Isso tudo identificado a longo prazo --a leucemia, que se manifesta mais rápido que outros tipos de câncer, só aparece nas pessoas irradiadas depois de pelo menos seis anos.
"Quanto maior a exposição à radiação, maior a probabilidade de as vítimas desenvolverem câncer", explica Sandra Bellintani, pesquisadora da área de radioproteção do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares). "Além disso, existe a possibilidade de os danos serem transmitidos entre gerações", diz , acrescentando que pesquisas ainda não identificaram essa "herança".
Contaminação
Entre 1992 e 2002, foram registrados 4.000 casos de câncer de tireóide em pessoas que, na época do acidente, tinham até 18 anos e moravam em Belarus, Rússia ou Ucrânia. Como esse tipo de doença é raro entre jovens, estima-se que ele tenha sido causado pela grande incidência de iodo-131, liberado com o vazamento de Tchernobil.
No caso específico das vítimas de Tchernobil, a tireóide --que tradicionalmente retém iodo da corrente sangüínea-- passou a acumular uma quantidade maior deste elemento do que deveria. Daí o surgimento do câncer nas pessoas que moravam (ou ainda moram) nas regiões afetadas.
Além de contaminar os seres humanos pelo ar, os elementos radioativos podem entrar no corpo levados por água, leite e alimentos. O consumo de verduras plantadas em solo irradiado apresenta riscos, assim como carne e leite produzidos [animais que se alimentam de vegetação com radioatividade, têm seu leite contaminado].
"Efeitos probabilísticos"
Quando indivíduos não são afetados por altas doses de radiação, as conseqüências para sua saúde são chamadas de "efeitos probabilísticos", uma espécie de estado de atenção. "As pessoas que se encaixam neste grupo não sofrem os danos mais graves. No entanto, este quadro pode sofrer mudanças, caso elas continuem se expondo à radiação", afirma a pesquisadora do Ipen.
Apesar de não haver estudos que comprovem a transmissão dos danos da radioatividade pelos genes --incluindo daqueles que se encaixam no "efeito probabilístico"--, existe a chance de estas evidências aparecerem daqui a algumas gerações. Da mesma forma, serão necessários centenas de anos para que elementos da antiga usina deixem de contaminar os habitantes daquela região. O césio 137, por exemplo, leva cerca de 300 anos para perder sua radioatividade.
Algumas alternativas agilizam o processo de descontaminação [para cada substância radioativa, há um tipo de medicamento que acelera sua excreção via suor, urina e fezes], mas aparentemente elas não são utilizadas nas áreas afetadas pela usina de Tchernobil.
Anatoli Lebedko, líder da oposição ao governo bielo-russo, afirma que o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, "engana" a população para aliviar o peso no Orçamento nacional dos programas de combate às seqüelas da radioatividade. Em entrevista à agência de notícias Efe, Lebedko afirmou que o presidente recusa assistência do Ocidente, especialmente aos programas médicos e de repouso em sanatórios dirigidos às crianças bielo-russas.
Diversas ONGs (organizações não-governamentais) acusam os países da ex-União Soviética de rejeitar ajuda estrangeira e permitir que sua população continue vivendo nas áreas contaminadas.
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da Folha Online
O acidente nuclear em Tchernobil, em 26 de abril de 1986, formou uma nuvem carregada de substâncias radioativas que, devido às condições climáticas, espalharam-se pelo ar e penetraram o solo. O contato com estas substâncias teve conseqüências sérias para a saúde das pessoas --muitas delas desenvolveram câncer, problemas circulatórios e catarata.
Nos casos mais graves, a radiação altera o DNA das células, fazendo com que elas percam seu ritmo normal de divisão e se comportem como células cancerosas. Isso tudo identificado a longo prazo --a leucemia, que se manifesta mais rápido que outros tipos de câncer, só aparece nas pessoas irradiadas depois de pelo menos seis anos.
Marcello Vitorino/Fullpress |
Sandra Bellintani, pesquisadora do Ipen |
Contaminação
Entre 1992 e 2002, foram registrados 4.000 casos de câncer de tireóide em pessoas que, na época do acidente, tinham até 18 anos e moravam em Belarus, Rússia ou Ucrânia. Como esse tipo de doença é raro entre jovens, estima-se que ele tenha sido causado pela grande incidência de iodo-131, liberado com o vazamento de Tchernobil.
No caso específico das vítimas de Tchernobil, a tireóide --que tradicionalmente retém iodo da corrente sangüínea-- passou a acumular uma quantidade maior deste elemento do que deveria. Daí o surgimento do câncer nas pessoas que moravam (ou ainda moram) nas regiões afetadas.
Além de contaminar os seres humanos pelo ar, os elementos radioativos podem entrar no corpo levados por água, leite e alimentos. O consumo de verduras plantadas em solo irradiado apresenta riscos, assim como carne e leite produzidos [animais que se alimentam de vegetação com radioatividade, têm seu leite contaminado].
"Efeitos probabilísticos"
Quando indivíduos não são afetados por altas doses de radiação, as conseqüências para sua saúde são chamadas de "efeitos probabilísticos", uma espécie de estado de atenção. "As pessoas que se encaixam neste grupo não sofrem os danos mais graves. No entanto, este quadro pode sofrer mudanças, caso elas continuem se expondo à radiação", afirma a pesquisadora do Ipen.
Apesar de não haver estudos que comprovem a transmissão dos danos da radioatividade pelos genes --incluindo daqueles que se encaixam no "efeito probabilístico"--, existe a chance de estas evidências aparecerem daqui a algumas gerações. Da mesma forma, serão necessários centenas de anos para que elementos da antiga usina deixem de contaminar os habitantes daquela região. O césio 137, por exemplo, leva cerca de 300 anos para perder sua radioatividade.
Algumas alternativas agilizam o processo de descontaminação [para cada substância radioativa, há um tipo de medicamento que acelera sua excreção via suor, urina e fezes], mas aparentemente elas não são utilizadas nas áreas afetadas pela usina de Tchernobil.
Anatoli Lebedko, líder da oposição ao governo bielo-russo, afirma que o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, "engana" a população para aliviar o peso no Orçamento nacional dos programas de combate às seqüelas da radioatividade. Em entrevista à agência de notícias Efe, Lebedko afirmou que o presidente recusa assistência do Ocidente, especialmente aos programas médicos e de repouso em sanatórios dirigidos às crianças bielo-russas.
Diversas ONGs (organizações não-governamentais) acusam os países da ex-União Soviética de rejeitar ajuda estrangeira e permitir que sua população continue vivendo nas áreas contaminadas.
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