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05/10/2000
-
20h27
HÉLIO SCHWARTSMAN
Colunista da Folha Online
Ao que parece, é uma questão de horas até o presidente iugoslavo Slobodan Milosevic ser deposto. Mais de cem mil sérvios saíram às ruas de Belgrado hoje, como parte da campanha de desobediência civil para retirar Milosevic do poder.
Tomaram a sede do Parlamento e da TV estatal. A intervenção da polícia, que já começara tíbia, logo se transformou em adesão aos protestos. Não há como não lembrar das revoluções democráticas que varreram os países do Leste europeu em 1989.
Para eu não correr o risco de quebrar a cara, faço uma ressalva. Há sempre algum perigo em considerar desde já Milosevic uma peça fora do tabuleiro. Ele ainda pode ter a lealdade de algumas unidades do Exército e tentar uma estripulia.
Mas as Forças Armadas, de um modo geral, vão-se inclinando para o lado da população e de Vojislav Kostunica, o homem que derrotou Milosevic na disputa presidencial do último dia 24.
É claro que Milosevic não aceitou o resultado. Insistiu na realização de um segundo turno. Aí foi a vez de Kostunica recusar-se a participar. Convocou a campanha de desobediência civil que agora chegou ao apogeu.
O Ocidente está doido para consagrar o líder de oposição como presidente. Falam em levantar as sanções internacionais contra a Sérvia já nos próximo dias, se Milosevic for de fato defenestrado.
Aqui, convém alguma cautela. Kostunica não está, como Milosevic, diretamente envolvido nos últimos conflitos nos Bálcãs (as guerras da Eslovênia, da Croácia, e, principalmente, da Bósnia e de Kosovo), mas também é um nacionalista.
Aliás, todo mundo por aquelas bandas o é. Parece ser mais moderado, se é que o conceito de nacionalista moderado faz algum sentido.
A eventual deposição de Milosevic, para muitos o último tirano da Europa, será sem sombra de dúvida um notável avanço no campo da democracia. Isso não significa, porém, que a paz chegará à região.
O motor dos conflitos nos Bálcãs são, desde tempos quase imemoriais, as intricadas disputas interétnicas, que não são alteradas pela provável substituição de Milosevic por Kostunica.
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Análise: Saída de Milosevic não significa paz na região
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Ao que parece, é uma questão de horas até o presidente iugoslavo Slobodan Milosevic ser deposto. Mais de cem mil sérvios saíram às ruas de Belgrado hoje, como parte da campanha de desobediência civil para retirar Milosevic do poder.
Tomaram a sede do Parlamento e da TV estatal. A intervenção da polícia, que já começara tíbia, logo se transformou em adesão aos protestos. Não há como não lembrar das revoluções democráticas que varreram os países do Leste europeu em 1989.
Para eu não correr o risco de quebrar a cara, faço uma ressalva. Há sempre algum perigo em considerar desde já Milosevic uma peça fora do tabuleiro. Ele ainda pode ter a lealdade de algumas unidades do Exército e tentar uma estripulia.
Mas as Forças Armadas, de um modo geral, vão-se inclinando para o lado da população e de Vojislav Kostunica, o homem que derrotou Milosevic na disputa presidencial do último dia 24.
É claro que Milosevic não aceitou o resultado. Insistiu na realização de um segundo turno. Aí foi a vez de Kostunica recusar-se a participar. Convocou a campanha de desobediência civil que agora chegou ao apogeu.
O Ocidente está doido para consagrar o líder de oposição como presidente. Falam em levantar as sanções internacionais contra a Sérvia já nos próximo dias, se Milosevic for de fato defenestrado.
Aqui, convém alguma cautela. Kostunica não está, como Milosevic, diretamente envolvido nos últimos conflitos nos Bálcãs (as guerras da Eslovênia, da Croácia, e, principalmente, da Bósnia e de Kosovo), mas também é um nacionalista.
Aliás, todo mundo por aquelas bandas o é. Parece ser mais moderado, se é que o conceito de nacionalista moderado faz algum sentido.
A eventual deposição de Milosevic, para muitos o último tirano da Europa, será sem sombra de dúvida um notável avanço no campo da democracia. Isso não significa, porém, que a paz chegará à região.
O motor dos conflitos nos Bálcãs são, desde tempos quase imemoriais, as intricadas disputas interétnicas, que não são alteradas pela provável substituição de Milosevic por Kostunica.
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