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17/07/2006
-
19h02
LIGIA BRASLAUSKAS
editora de Mundo da Folha Online
A brasileira Kátia Nassib Timani, 39, representante de vendas de uma empresa de calçados infantis de Birigüi (no interior de São Paulo), aproveitou uma viagem de trabalho para levar seus dois filhos adolescentes --Nader, 16, e Samir, 15-- para o Líbano. Ao chegar lá no último dia 28, não imagina que reviveria a mesma situação que marcou sua vida 31 atrás, durante a guerra civil libanesa (1975-1990).
"Eu já passei por isso, era pequena, escutei muita bomba no final de 1975 e início de 1976, e tento usar essa experiência para acalmar meus filhos", disse. Apesar da experiência, Timani disse que dessa vez o conflito a pegou de surpresa, e que os libaneses não esperavam por uma "guerra".
Hospedada na casa de seus familiares [pais e irmã vivem em Aley, cidade montanhosa que fica a 20 minutos de Beirute e é muito conhecida por sua vida noturna, com grande variedade de bares, restaurantes e discotecas], Timani disse que os mísseis israelenses, por enquanto, ainda não atingiram Aley, apenas as redondezas, mas explicou que o efeito das explosões podem ser sentidos de qualquer maneira.
"Nós não apenas escutamos como sentimos. Ontem nós [ela e os filhos] estávamos no centro de Aley por volta das 20h30 (14h30 de Brasília) quando explosões atingiram a cidade vizinha [Soufar], que fica a cinco minutos. Tudo tremeu, as lojas tremeram. Foi uma sensação muito ruim. Nessa hora deu um medo muito grande. Foram duas ou três bombas que caíram, uma depois da outra. Pessoas começaram a sair correndo assustadas e os comerciantes fecharam seus estabelecimentos", disse.
A região é uma dos principais acessos à Síria.
A exemplo de outros brasileiros, a moradora da zona norte de São Paulo disse estar ansiosa para voltar ao Brasil e que todos os seus amigos estão muito preocupados. Ela afirmou que pretende deixar o Líbano o mais rápido possível, mas que o retorno ao Brasil, agora, não depende dela, e sim da embaixada brasileira.
Timani criticou o atendimento da embaixada brasileira devido ao pequeno número de funcionários. "Não há informação para os brasileiros. Eu estive lá hoje [no consulado]. Havia cerca de 70 pessoas. Os que estão no país apenas de passagem têm preferência para voltar. Mesmo assim não tenho a menor previsão de quando isso vai ocorrer. Eles nos separaram em duas filas: uma de turistas e outra de moradores. A nossa, que tem preferência na partida, tinha só dez pessoas", relatou a brasileira.
Segundo ela, a documentação irregular é o maior problema para os que querem deixar o país, com o agravante de que muitos estabelecimentos permanecem fechados, dificultando a aquisição de determinados papéis necessários para regularizar o passaporte.
"Rota do medo"
Sem perspectiva de volta, Timani diz que tem medo do que ainda pode vir pela frente, referindo-se à viagem necessária para deixar o Líbano. Ela explica que o trajeto é uma verdadeira "rota do medo".
"O avião que pode nos levar de volta para o Brasil está na Turquia, mas, para chegar lá, é necessário viajar cerca de 20 horas por toda a área-alvo de ataques de Israel [que tem destruído pontes e estradas que levam à Síria]. Temos de chegar a Damasco e atravessar a Síria em direção à Turquia. Isso não será fácil. Tenho muito receio de fazer essa viagem."
Outro problema, de acordo com Timani, é a falta de motoristas. Segundo ela, as empresas estão com dificuldade para conseguir motoristas que aceitem levar os brasileiros até a Turquia, pois sentem medo de morrer durante os bombardeios de Israel.
Mas ela também teme o grupo terrorista Hizbollah e sua migração para Aley, porque esse movimento pode levar ataques israelenses para a cidade onde ela está hospedada. "Eles estão ocupando as casa de pessoas que fugiram com a roupa do corpo com medo dos ataques. Isso é muito ruim.
Sobre o apoio da população ao Hizbollah, devido à ajuda humanitária que o grupo presta a comunidades pobres, Tamani diz que, aparentemente, é muito menor do que parece. "Esse perfil humanitário é limitado. Para recebê-lo, é necessário ser muçulmano, comprovar necessidade de ajuda e se filiar ao Hizbollah --firmando um compromisso de apoio ao grupo. Após a filiação, os mais necessitados recebem cerca de US$ 200 por mês", conta.
A brasileira lamenta que o conflito entre os dois países esteja afastando turistas e gerando um estigma de medo a uma região como o Líbano. Segundo ela, O Líbano esperava receber, neste ano, cerca de 3,5 milhões de turistas de todo o mundo.
"Quando cheguei, contei oito aeronaves que desembarcavam visitantes. Fiquei duas horas para passar pela Polícia Federal da Turquia devido à quantidade de turistas. Agora isso. É uma pena."
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editora de Mundo da Folha Online
A brasileira Kátia Nassib Timani, 39, representante de vendas de uma empresa de calçados infantis de Birigüi (no interior de São Paulo), aproveitou uma viagem de trabalho para levar seus dois filhos adolescentes --Nader, 16, e Samir, 15-- para o Líbano. Ao chegar lá no último dia 28, não imagina que reviveria a mesma situação que marcou sua vida 31 atrás, durante a guerra civil libanesa (1975-1990).
"Eu já passei por isso, era pequena, escutei muita bomba no final de 1975 e início de 1976, e tento usar essa experiência para acalmar meus filhos", disse. Apesar da experiência, Timani disse que dessa vez o conflito a pegou de surpresa, e que os libaneses não esperavam por uma "guerra".
Arquivo pessoal |
Katia Tamani e seus dois filhos, no Líbano. Brasileira quer voltar o mais rápido possível |
"Nós não apenas escutamos como sentimos. Ontem nós [ela e os filhos] estávamos no centro de Aley por volta das 20h30 (14h30 de Brasília) quando explosões atingiram a cidade vizinha [Soufar], que fica a cinco minutos. Tudo tremeu, as lojas tremeram. Foi uma sensação muito ruim. Nessa hora deu um medo muito grande. Foram duas ou três bombas que caíram, uma depois da outra. Pessoas começaram a sair correndo assustadas e os comerciantes fecharam seus estabelecimentos", disse.
A região é uma dos principais acessos à Síria.
A exemplo de outros brasileiros, a moradora da zona norte de São Paulo disse estar ansiosa para voltar ao Brasil e que todos os seus amigos estão muito preocupados. Ela afirmou que pretende deixar o Líbano o mais rápido possível, mas que o retorno ao Brasil, agora, não depende dela, e sim da embaixada brasileira.
Timani criticou o atendimento da embaixada brasileira devido ao pequeno número de funcionários. "Não há informação para os brasileiros. Eu estive lá hoje [no consulado]. Havia cerca de 70 pessoas. Os que estão no país apenas de passagem têm preferência para voltar. Mesmo assim não tenho a menor previsão de quando isso vai ocorrer. Eles nos separaram em duas filas: uma de turistas e outra de moradores. A nossa, que tem preferência na partida, tinha só dez pessoas", relatou a brasileira.
Segundo ela, a documentação irregular é o maior problema para os que querem deixar o país, com o agravante de que muitos estabelecimentos permanecem fechados, dificultando a aquisição de determinados papéis necessários para regularizar o passaporte.
"Rota do medo"
Sem perspectiva de volta, Timani diz que tem medo do que ainda pode vir pela frente, referindo-se à viagem necessária para deixar o Líbano. Ela explica que o trajeto é uma verdadeira "rota do medo".
"O avião que pode nos levar de volta para o Brasil está na Turquia, mas, para chegar lá, é necessário viajar cerca de 20 horas por toda a área-alvo de ataques de Israel [que tem destruído pontes e estradas que levam à Síria]. Temos de chegar a Damasco e atravessar a Síria em direção à Turquia. Isso não será fácil. Tenho muito receio de fazer essa viagem."
Outro problema, de acordo com Timani, é a falta de motoristas. Segundo ela, as empresas estão com dificuldade para conseguir motoristas que aceitem levar os brasileiros até a Turquia, pois sentem medo de morrer durante os bombardeios de Israel.
Mas ela também teme o grupo terrorista Hizbollah e sua migração para Aley, porque esse movimento pode levar ataques israelenses para a cidade onde ela está hospedada. "Eles estão ocupando as casa de pessoas que fugiram com a roupa do corpo com medo dos ataques. Isso é muito ruim.
Sobre o apoio da população ao Hizbollah, devido à ajuda humanitária que o grupo presta a comunidades pobres, Tamani diz que, aparentemente, é muito menor do que parece. "Esse perfil humanitário é limitado. Para recebê-lo, é necessário ser muçulmano, comprovar necessidade de ajuda e se filiar ao Hizbollah --firmando um compromisso de apoio ao grupo. Após a filiação, os mais necessitados recebem cerca de US$ 200 por mês", conta.
A brasileira lamenta que o conflito entre os dois países esteja afastando turistas e gerando um estigma de medo a uma região como o Líbano. Segundo ela, O Líbano esperava receber, neste ano, cerca de 3,5 milhões de turistas de todo o mundo.
"Quando cheguei, contei oito aeronaves que desembarcavam visitantes. Fiquei duas horas para passar pela Polícia Federal da Turquia devido à quantidade de turistas. Agora isso. É uma pena."
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