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18/07/2006 - 16h50

Viagem de férias vira pesadelo para família brasileira no Líbano

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DANIELA LORETO
da Folha Online

Uma viagem de férias ao Líbano acabou se transformando em pesadelo para uma família de origem libanesa de São Paulo, que se viu cercada pelos freqüentes ataques de Israel após o início do conflito com o grupo terrorista libanês Hizbollah, iniciado na quarta-feira passada (12).

"Larguei minha vida no Líbano em 1979, não quero mais ver guerra nem mortos na minha frente, eu tenho trauma de guerra. Quero sair daqui. Estou pedindo socorro", afirmou a libanesa naturalizada brasileira Yvette Zarmik Achkharian, 57, por telefone à Folha Online.

Arquivo pessoal
A brasileira Yvette Achkharian, ao lado do marido e da neta; família quer voltar ao Brasil
A nova onda de violência na região já deixou um saldo de mais de 250 mortos --25 deles do lado israelense-- e cerca de 700 feridos. Dos mortos no Líbano, cinco eram cidadãos brasileiros que estavam em férias, entre eles duas crianças de oito anos e uma de quatro.

"Sou libanesa, mas me naturalizei brasileira há muitos anos e não quero voltar para o Líbano. Já passei por uma guerra, não quero ver essa guerra à minha frente de novo. Fugi do Líbano em 1979, não quero fugir de novo. Sou brasileira agora", diz Achkharian.

Ela conta que chegou ao país ao lado do marido, Zarmik Aram Achkharian, 63, e da neta de 7 anos em 30 de junho, para passar as férias de julho com parentes que vivem em Beirute. O casal viajou ao lado de um casal de amigos com um filho de 14 anos, que também não conseguem deixar o país.

"Estou desesperada, vejo muita gente indo embora e eu e minha família ainda estamos aqui. Daqui a pouco, não terei mais dinheiro. Quero ir embora o quanto antes, mas ninguém nos ajuda", diz.

Ouça relato da brasileira que tenta escapar de violência no Líbano

Comboio

A brasileira afirma que telefonou várias vezes para a Embaixada do Brasil em Beirute, mas não obteve auxílio. "Eles dizem que não há previsão para deixarmos o país", diz Achkharian, que chegou a buscar ajuda em embaixadas de outros países, como a França e a Itália. "Eles foram muito gentis, mas nos disseram que vão privilegiar a retirada de seus cidadãos do Líbano".

Ela se queixa do tratamento dado pela Embaixada do Brasil em Beirute. "Os brasileiros não estão obtendo ajuda. Europeus e americanos estão saindo do país aos milhares, todos os países estão tirando seus cidadãos, mas os brasileiros estão sendo tratados com desdém", diz.

Achkharian diz ter entrado em contato com a embaixada brasileira em Beirute ontem, que teria lhe dito que ela poderia deixar o Líbano no comboio que partiu nesta segunda-feira. Quatro ônibus levaram 122 brasileiros até Adana, na Turquia, de onde 98 deles embarcaram para o Brasil em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira). O grupo chegou ao Recife no início da tarde desta terça-feira.

No entanto, ela afirma que não pôde embarcar no comboio com a família porque não havia mais lugar. "Quando vi os ônibus indo embora com as bandeiras do Brasil, eu quis morrer", lamenta.

Família

As filhas do casal, Natalie Zarmik Achkharian, 33, e Cristine Zarmik Achkharian, 28, ambas libanesas naturalizadas brasileiras, estão em São Paulo e acompanham de longe o drama vivido pelos pais no Líbano.

"A gente não dorme, não come, não trabalha. O descaso com os brasileiros é muito grande", diz Natalie. "Há milhares de brasileiros desesperados para deixar o país. Europeus e americanos estão saindo. A embaixada brasileira em Beirute está agindo com muita lentidão."

Segundo ela, a família --que deixou o Líbano fugindo do conflito de 1979-- se preocupa com as proporções que o conflito pode tomar. "Saímos fugidos da guerra, estamos muito preocupados."

Ela diz tem se comunicado com muitas famílias do Brasil de origem libanesa que vivem a mesma situação. "Estamos recebendo apelo de muitos brasileiros. A comunidade libanesa está se mobilizando, falo com pessoas que nem conheço. É a única saída, já que o governo não age".

Contato

A outra filha do casal, Christine, também se preocupa com a filha de 7 anos que está com os avós no Líbano. "Estou com muito medo, não só pelos meus pais como pela minha filha", diz.

Ela conta que teme perder o contato com a família no Líbano. "Esse é um dos meus grandes medos. Telefono para eles sete ou oito vezes ao dia e peço o tempo todo para que me liguem caso eu não consiga fazer contato com eles."

De acordo com Christine, a região onde a família está em Beirute, uma área cristã ao norte da capital, ainda não foi atingida por ataques. No entanto, a família, cujo retorno ao Brasil estava previsto para o dia 26 de julho, teme tentar deixar o Líbano por conta própria.

"É arriscado eles saírem sozinhos. Quando se trata de um comboio oficial, como esse que saiu ontem, o governo brasileiro avisa o governo de Israel, para que a rota seja feita com segurança. Sair sozinho é perigoso, é um trajeto de 16 horas até a Turquia, passando pela Síria."

Navio

Ela questiona por que o governo brasileiro não envia uma embarcação para retirar mais brasileiros de uma só vez do país. "Um navio ou uma balsa poderia retirar milhares em segurança. Há muitos de brasileiros tentando voltar, organizar apenas um comboio por semana, levando cem pessoas por vez, e sem segurança, não parece a melhor opção", critica.

Segundo Christine, a maior parte dos brasileiros já possui passagem de volta e deseja apenas ser levado até outro país da região, de onde possam seguir para o Brasil. "Eles não precisam de um avião da FAB, mas chegar até a Síria ou outro destino da região com segurança", afirma.

De acordo com ela, a companhia aérea estendeu o prazo das passagens de seus pais e de sua filha para três meses depois da data marcada.

Fuga bem-sucedida

O empresário Mahmud Abdo Rahal, 32, que iniciou uma arriscada viagem de carro do Líbano até a Síria ontem, a fim de fugir dos ataques, chegou em segurança a Damasco. Rahal entrou em contato com a Folha Online nesta terça-feira para comunicar sua chegada à Síria.

Ele o irmão, Mohammed, estavam no vale do Bekaa em férias desde o último dia 8, onde a família mantém um apartamento.

"Graças a Deus eu já me encontro em Damasco, com meu irmão e uma família de 18 pessoas, na casa de meus tios, que são de Goiânia e também têm residência aqui na Síria."

Colaborou: LIGIA BRASLAUSKAS

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