Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
24/07/2006 - 18h27

Rice visita o Oriente Médio e discute pontos de uma possível trégua

Publicidade

da Folha Online

A secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, apresentou propostas nesta segunda-feira ao Líbano e a Israel com o objetivo de pôr fim ao conflito entre o Estado israelense e o grupo terrorista libanês Hizbollah, mas sustentou que um cessar-fogo somente poderá ser alcançado como parte de um plano mais amplo, informaram políticos libaneses.

Durante a visita de surpresa a Beirute --cidade atacada diariamente pela artilharia israelense desde o início da escalada, há 13 dias--, Rice manifestou sua simpatia ao governo do Líbano, mas deu poucos sinais de que uma trégua imediata possa ser obtida.

Logo após a chegada, Rice se reuniu com o primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora. "Obrigado por sua coragem e firmeza", disse ela ao premiê, que pediu por um cessar-fogo imediato.

Reuters
Helicóptero sobrevoa local de queda de Apache, matando 2 pilotos israelenses no norte de Israel
A secretária dos EUA, no entanto, afirmou ao presidente do Parlamento do Líbano, Nabih Berri --aliado do Hizbollah e que tem relações políticas muito próximas com a Síria--, que uma trégua deve ser parte de um acordo que inclua a retirada do Hizbollah para além do rio Litani, cerca de 20 km ao norte de Israel, e o envio de uma força internacional para a região da fronteira, informou uma fonte política libanesa à agência Reuters.

De acordo com a fonte, que pediu para não ter seu nome divulgado, Rice disse que a situação na fronteira não pode retornar àquela existente antes de 12 de julho, referindo-se ao dia em que o Hizbollah seqüestrou dois soldados israelenses na fronteira durante uma ação no solo israelense. O ataque foi o estopim do conflito que já matou mais de 380 pessoas no Líbano e 36 em Israel.

Berri não recusou a oferta de Rice, mas explicou que deve haver uma seqüência de eventos: cessar-fogo, troca de prisioneiros e somente então seriam negociados os outros pontos, segundo a fonte da Reuters.

O gabinete do primeiro-ministro sugeriu que Siniora foi mais aberto à proposta de Rice, alegando que ele discutiu as idéias apresentadas pela secretária americana e os "meios de desenvolvê-las".

Israel, onde Rice chegou após a visita ao Líbano, exigiu a libertação de seus soldados e a retirada do Hizbollah antes do fim dos bombardeios.

Dificuldades

Condoleezza Rice defendeu nesta segunda-feira, em Jerusalém, uma "paz baseada em princípios sólidos" e na resolução 1559 das Nações Unidas.

Em declarações à margem do encontro que manteve hoje com a ministra das Relações Exteriores israelense, Tzipi Livni, Rice disse que "a comunidade internacional pode progredir" rumo à resolução do atual conflito seguindo a resolução 1559 da ONU, que pede a mobilização do Exército libanês na fronteira com Israel e a retirada e desarmamento do Hizbollah.

A secretária americana afirmou que "toda paz deve se basear em princípios sólidos", seguindo a linha dos EUA de que um cessar-fogo que não resolva a situação de instabilidade causada pelo grupo libanês não serviria de nada.

Além disso, Rice disse que os EUA estão preocupados com a situação humanitária, e afirmou que "tanto para o povo de Israel, como para o do Líbano ou para os palestinos, estes são tempos difíceis".

Em última instância, disse Rice, "a paz só poderá ser duradoura em um Oriente Médio pacífico e democrático".

Reuters
A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, ao lado do premiê Fouad Siniora
Rice deve se reunir na manhã desta terça-feira com o premiê de Israel, Ehud Olmert, e em seguida com o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, para conversar sobre a crise no Oriente Médio.

Livni, por sua vez, afirmou que "o mundo livre enfrenta uma ameaça". "O objetivo do Hizbollah é incendiar e ensangüentar o mundo, e nós não vamos deixar que isso aconteça", declarou a chanceler.

"Não há conflito entre os povos israelense e libanês, mas a maior responsabilidade do Estado de Israel é proteger seus habitantes", prosseguiu a ministra.

Auxílio humanitário

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que vem se recusando a pedir um cessar-fogo entre Israel e o Hizbollah, ordenou hoje o envio urgente de ajuda humanitária às vítimas dos conflitos no Líbano.

"Por ordem do presidente, as provisões humanitárias começarão a chegar no Líbano amanhã por helicóptero e por navio", anunciou em entrevista coletiva o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow.

O porta-voz explicou que esta operação humanitária não pretende, em absoluto, minimizar as crescentes críticas à posição dos EUA na crise, mas tem como único objetivo ajudar a população civil inocente.

Embora não tenha dado detalhes sobre o conteúdo da ajuda que Washington enviará ao país, argumentando que será Condoleezza Rice quem divulgará a operação, o porta-voz adiantou que o compromisso dos EUA é "significativo".

O porta-voz do Pentágono, Bryan Whitman, afirmou que a ajuda americana incluirá toneladas de equipamentos médicos e outras provisões que a Agência para o Desenvolvimento Internacional dos EUA (Usaid) fornecerá às ONGs para que as distribuam entre os milhares de civis deslocados pelo conflito.

Whitman disse que os pacotes médicos são suficientes para abastecer dez mil pessoas durante três meses, e que o Pentágono já transferiu essas provisões por avião até o Chipre, de onde serão enviadas a Beirute.

A Casa Branca confirmou que Washington está trabalhando com as autoridades libanesas e israelenses para "abrir corredores humanitários", de modo que a ajuda possa chegar sem problemas a seus beneficiários.

Outro assunto que vem sendo abordado pela chefe da diplomacia americana na região é o pedido de cessar-fogo da comunidade internacional, que os EUA se negam a reforçar.

O tema esteve presente nas declarações de hoje da própria Rice e também do porta-voz da Casa Branca, que voltou a afirmar que um cessar-fogo "não poderia ser cumprido" neste momento, e que não há razões para crer que essa seria a solução para pôr fim à violência.

"Continuamos sem acreditar que o Hizbollah vá acatar um acordo" nesse sentido, prosseguiu Snow, antes de reiterar que os esforços da comunidade internacional deveriam se concentrar em desestabilizar as forças do grupo terrorista e suas práticas de utilizar a população libanesa como "escudos humanos".

Isso não quer dizer, segundo o porta-voz, que Bush e seu governo não queiram o fim da violência. O que pretendem, afirma ele, é garantir que uma crise como a atual não se repita nas próximas semanas ou meses. "Gostaríamos de um cessar-fogo imediato, mas deve ser um cessar-fogo que resista ao tempo", afirmou.

A única forma de consegui-lo é fazer com que "não haja mais uma ameaça interna como a que vimos nas últimas semanas", disse o porta-voz da Casa Branca em alusão ao Hizbollah, que Washington considera única responsável pela crise desatada há 13 dias.

Ataques

Dois pilotos da força aérea israelense morreram após a queda de um helicóptero Apache nesta segunda-feira na região da Alta Galiléia, no norte de Israel. Foi o segundo acidente envolvendo helicópteros de Israel em apenas uma semana.

Ao menos 384 pessoas morreram no Líbano [a maioria civis vítimas de ataques israelenses]. Ao menos 600 mil libaneses tiveram que deixar suas casas. O número de vítimas em Israel é de 36 -- das quais 19 são soldados e 17 são civis mortos por foguetes do Hizbollah.

O Apache Longbow --um modelo avançado de helicóptero de ataque-- voava alto quando caiu em circunstâncias que não foram totalmente esclarecidas. o Exército israelense não exclui a possibilidade de que o helicóptero --que estava a caminho de Bint Jbeil, para dar apoio a forças terrestres --tenha sido atingido por foguetes do Hizbollah.

Na semana passada, dois helicópteros Apache colidiram no norte de Israel, perto da fronteira com o Líbano, matando um membro da força aérea e ferindo outros três.

Soldados israelenses cercaram a cidade de Bint Jbeil, a cerca de 4 km da fronteira, nesta segunda-feira, mas Israel negou que o Exército tenha tomado o controle da cidade. Ao menos dez soldados ficaram feridos na ação.

Bint Jbeil é considerada um bastião do Hizbollah. Um dia depois que Israel deu fim à ocupação do sul do Líbano, e 2000, o líder do grupo, Hassan Nasrallah, realizou a primeira celebração em Bint Jbeil. Grande parte dos cerca de 200 mil moradores da cidade deixaram a região. Segundo a Cruz Vermelha, os poucos que permaneceram estão abrigados em escolas ou mesquitas.

Durante a madrugada, os confrontos na região aparentemente se acalmaram, com um total de seis civis mortos neste domingo. Durante a madrugada, nenhum foguete foi lançado contra o norte de Israel e houve relato de poucos ataques aéreos de Israel no Líbano.

No entanto, pela manhã, os ataques foram intensificados e vários foguetes atingiram Haifa e outras cidades do norte de Israel, ferindo várias pessoas. Três pessoas ficaram feridas na cidade de Tiberias, ao norte de Israel, onde oito foguetes caíram, segundo a polícia.

Outros foguetes atingiram Acre, Safed, a Alta Galiléia e a vila drusa de Kisra. Ao menos uma pessoa ficou ferida na cidade de Shlomi, na região da fronteira.

O ministro da Defesa israelense, Amir Peretz, afirmou que o Exército não irá lançar uma ampla ofensiva, mas irá manter uma série de pequenas incursões no sul do país. Segundo ele, depois que membros do Hizbollah forem afastados da fronteira, forças internacionais podem ser enviadas para a região para auxiliar o Exército libanês.

O líder do Hizbollah, Hassan Nasrallah, afirmou nesta segunda-feira que uma invasão terrestre não irá proteger Israel dos foguetes lançados pelo grupo. Ele disse ainda que a prioridade é um acordo de cessar-fogo, e disse estar aberto a discussões para dar fim à crise.

Estrangeiros

Milhares de estrangeiros continuam a deixar o Líbano por meio do porto de Beirute. A União Européia (UE) enviou uma navio para o porto de Tiro nesta segunda-feira. O Canadá também enviou um segundo navio para retirar estrangeiros detidos na região.

Grande parte das estradas e pontes do sul do Líbano foram destruídas por ataques de Israel.

Cerca de 4.500 britânicos e 12 mil americanos já deixaram a região por via marítima. Segundo autoridades britânicas, todos os cidadãos do Reino Unido já foram retirados do Líbano.

Dois comboios levando geradores de energia elétrica, alimentos e outros itens de necessidade básica foram enviados de Beirute a Tiro nesta segunda-feira, segundo o CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha). Um navio italiano chegou trazendo remédios, barracas, cobertores, água e geradores. Uma embarcação de ajuda da França também chegou à região.

Com agências internacionais

Leia mais
  • Rice faz visita ao Líbano; confrontos diminuem
  • Fuga do Líbano inclui perigo, oração e propina, diz brasileira
  • Opinião: Estratégia do conflito pode gerar revés a Israel e Líbano

    Especial
  • Enquete: que governo ou órgão pode barrar ou ajudar a minimizar os conflitos?
  • Veja fotos da atual onda de violência entre Israel e Líbano
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página