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27/07/2006 - 16h16

Para correspondentes da Folha, conflito no Líbano vai longe

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da Folha Online

A crise de violência entre Israel e Líbano teve início no último dia 12, após o grupo terrorista libanês Hizbollah seqüestrar dois soldados israelenses. Desde então, a violência já deixou 400 mortos no Líbano, a maioria civis, e cerca de 50 mortos em Israel [18 delas civis]. Entre os mortos no Líbano, há sete cidadãos brasileiros [três deles crianças].

Exaustivamente questionados sobre a possibilidade de um cessar-fogo, os jornalistas Marcelo Ninio, 39, enviado especial ao Líbano, e Michel Gawendo, 33, colaborador em Israel, sinalizaram que o conflito vai longe.

"Entendo que um dos elementos desta guerra é o conflito entre ocidente e terrorismo", diz Gawendo.

Ninio diz que a idéia de um processo de paz amplo foi levantada algumas vezes nas últimas semanas, mas ele não vê possibilidade de isso ocorrer agora. "Líbano e Israel talvez possam viver em paz fria." Mas ele acrescenta que, apesar de considerar desproporcional e injustificada a ação israelense, há muita gente que culpa o Hizbollah por deflagrar essa guerra.

O internauta Estudante perguntou se uma "zona-tampão" neutra controlada por agentes internacionais seria uma boa solução para o conflito, ou se isso seria apenas uma medida paliativa, visando fim imediato dos ataques e protelando a paz. Ninio respondeu que sim, seria uma solução paliativa, mas que, neste momento, também seria a melhor que existe para interromper os combates.

Segundo o UOL, 735 pessoas participaram do bate-papo com os jornalistas.

Brasileiros

A respeito das inúmeras reclamações de brasileiros ao atendimento prestado pelo governo para tirá-los do Líbano, Ninio disse que a julgar pelas queixas de brasileiros que buscaram a ajuda da Embaixada do Brasil, a ação não foi tão satisfatória, acrescentando que é bom lembrar as dificuldades em montar uma operação como essa.

Segundo ele, entre os problemas encontrados, estava a falta de ônibus e o seu alto preço, já que muitos outros países tentaram retirar seus cidadãos do país.

Sobre a classificação do grupo Hizbollah como terrorista, os dois jornalistas discordaram. "O Hizbollah cometeu ataques contra civis nos anos 80, mas hoje sua atuação tem características de uma guerrilha", diz Ninio. Já Gawendo afirma que o grupo é movido pelo ódio religioso, e suas afirmações não são pacifistas. "Acho que o Hizbollah é, sim, uma organização terrorista, com braços sociais e políticos."

Questionado por um internauta se é verdade que o Hizbollah proibiu libaneses de abandonarem cidades do sul do Líbano para usá-los como escudos humanos, o enviado da Folha de S.Paulo ao Líbano, disse que essa afirmação é do Exército israelense.

"Não há informação confirmada aqui no Líbano de que isso seja verdade. O Hizbollah argumenta que Israel ataca deliberadamente áreas civis. Um dos motivos de haver tantas baixas civis é certamente o caráter do grupo xiita, que mistura atividades militares com civis."

Questionado pelo internauta de apelido Jornalista PUC se Hizbollah e o palestino Hamas [grupo terrorista e partido político eleito democraticamente] fizeram ataques coordenados e manteriam uma união dos árabes extremistas da região pelo fim de Israel, Gawendo disse que Hamas e Hizbollah têm agendas conjuntas, mas também interesses regionais e particulares. "Israel afirma que o Hizbollah ajuda no treinamento e no financiamento do Hamas, mas não há provas."

Mortes na ONU

O internauta de codinome Sharon perguntou a Gawendo se a morte dos soldados israelenses e o ataque à ONU estão abalando a rejeição à guerra que classifica como natural dos israelenses. Em resposta, Gawendo disse que o consenso em Israel ainda é grande, mas 250 mil pessoas saíram de casa para fugir das bombas. "As críticas vêm dos problemas internos, e não das ações exteriores."

Ninio também afirmou que a repercussão [pela morte dos observadores da ONU] no Líbano foi enorme, assim como no resto mundo. "A diferença é que aqui a maioria acha que Israel agiu de forma deliberada, enquanto no resto do mundo, suponho, as opiniões estão mais divididas."

Sobre o dia-a-dia sob o conflito, Ninio disse que quem pode deixa as áreas atingidas pelos ataques [israelense], cujo principal foco é o sul do Líbano. Mas a integração das atividades militares do Hizbollah à sua ação civil tem tornado a vida dessas pessoas muito arriscada.

"A vida em Beirute não está normal, mas também não está paralisada. Nos primeiros dias a capital era uma cidade deserta, mas hoje já há muitas lojas abertas e as pessoas já saem mais. No sul de Beirute, no entanto, a situação é muito mais grave."

Jornalistas

De acordo com Ninio, não há nenhuma garantia [segurança] para os jornalistas que estão nas áreas de combate mais intenso, como o sul do Líbano. "Em Beirute, onde estou no momento, os ataques têm se restringido ao sul da capital, onde ficam os redutos do Hizbollah. Mas é óbvio que os jornalistas evitam os horários de ataques, que geralmente acontecem de madrugada e nas manhã cedo", explica.

Sobre estar muito perto de uma artilharia em ação, Gawendo foi direto: "é barulhento e é melhor usar protetores nos ouvidos".

Carioca de nascimento, Ninio, 39, trabalha há 15 anos com jornalismo internacional. No ano passado, foi enviado pela Folha para cobrir a retirada dos colonos judeus da faixa de Gaza e da Cisjordânia.

Antes da Folha, Ninio foi repórter de "O Globo", correspondente e e editor de internacional do "Jornal do Brasil" e editor-chefe do serviço em português da agência de notícias espanhola Efe.

Jornalista de formação, Ninio fez mestrado em relações internacionais na Universidade de Jerusalém. Participou como enviado especial de coberturas internacionais em vários países, como Israel, Iraque, EUA, Argentina, Chile e México.

Gawendo, 33, mora em Israel desde 2002. Atualmente trabalha como colaborador da Folha e da Bandnews no Oriente Médio.

No Brasil, trabalhou na "Folha da Tarde", no "Diário do Grande ABC", na "Veja", além da agência Reuters. Formado em jornalismo pela Universidade Metodista, fez o curso Impacto Global do Terrorismo, em 2005, do Centro Interdisciplinar de Hertzeliyah, em Israel.

Os bate-papos são abertos ao público em geral, mesmo para quem não é assinante da Folha ou do UOL.

Especial
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