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31/07/2006
-
10h15
DANIELA LORETO
da Folha Online
A eclosão de um conflito de grandes proporções entre Israel e o Líbano já era esperado no Oriente Médio desde 2000, segundo o jornalista e escritor Ariel Finguerman, 40, que acaba de retornar da região, onde cobre o conflito entre israelenses e palestinos na faixa de Gaza.
Desde o início dos confrontos, em 12 de julho, a violência deixou cerca de 500 mortos no Líbano [entre eles mais de 440 civis, 20 soldados libaneses e 35 terroristas] e mais de 52 mortos em Israel [19 civis]. Entre os mortos no Líbano, há sete cidadãos brasileiros [três deles crianças].
"Logo que cheguei ao Oriente Médio, há seis anos, eu já ouvia que, a qualquer momento, a fronteira [entre Israel e o Líbano] iria explodir. Fiz várias reportagens no sul do Líbano e, o que chama a atenção, é a proximidade entre as casas libanesas e israelenses. Parece até mesmo um só país, tamanha a proximidade", afirma Finguerman, autor do livro "Retratos de uma Guerra - Histórias do Conflito entre Israelenses e Palestinos" (Editora Globo).
Segundo ele, há possibilidade de o conflito se estender por um longo período, a exemplo do que acontece em Gaza. "Em 1982, Israel atacou o Líbano e declarou que a ação militar seria curta, mas acabou durando quase 20 anos. Mas o conflito também pode levar a uma separação física entre Israel e o Hizbollah, o que pode diminuir bastante a tensão", afirma.
No entanto, Finguerman rejeita a idéia de que os confrontos se estendam para outros países da região. "Acho pouco provável, ninguém quer que isso aconteça", diz.
Em relação ao agravamento da crise em Gaza, o escritor lamenta que os esforços de paz feitos na década de 90 estejam sendo "eliminados". "O que diferencia o conflito entre israelenses e palestinos de outros que acontecem no mundo é que os dois lados estão condenados a viver juntos em um pequeno território. Nunca haverá uma total separação entre as populações, por isso, o diálogo é essencial para a vida funcionar", diz.
Segundo Finguerman, mais cedo ou mais tarde, os dois lados terão de retornar à mesa de negociações para discutir questões cotidianas, como água compartilhada e sistemas de esgoto comuns. "Por isso, a violência é inútil", diz.
Vítimas
O jornalista lamenta o grande número de vítimas palestinas na ação militar de Israel em Gaza. A ofensiva teve início em 28 de julho, três dias após o seqüestro do soldado Gilad Shalit, e, desde então, mais de cem palestinos foram mortos em ataques de Israel na região.
"A morte de civis sempre é uma coisa lamentável, seja onde for, e nunca haverá uma justificativa moral ou estratégica para isso", diz. "Israel optou por pressionar as populações palestina e libanesa através de cercos e bombardeios, para que exerçam uma pressão interna contra o Hamas e o Hizbollah, mas não há garantias de que esta estratégia dê certo", afirma.
Para ele, a tática israelense pode até mesmo surtir efeito contrário, aumentando o apoio aos grupos radicais. "As organizações extremistas já estão mudando seus discursos para obterem maior apelo perante as populações e a união nacional", diz.
Retirada
De acordo com Finguerman, a retirada das tropas de Israel do norte de Gaza, efetuada na sexta-feira (28) é reflexo da forte pressão da população, que é contra a reocupação de Gaza e do sul do Líbano.
"Durante décadas, centenas de soldados morreram nestas regiões, e o seu retorno a estes territórios árabes é visto como um cenário de pesadelo em Israel", diz.
No entanto, segundo ele, isso não significa que a violência diminuirá. "A pressão militar poderá ser exercida de outros modos, como por meio de incursões rápidas", explica.
"Mensagem"
Questionado a respeito da ligação entre as ações do grupo armado palestino Hamas e o grupo terrorista libanês Hizbollah, o escritor afirmou que existe uma ligação "estratégica".
Ambas as crises --em Gaza e no sul do Líbano-- tiveram início após seqüestros de soldados israelenses. O primeiro foi o de Shalit, que ocorreu em 25 de junho e foi reivindicado por três grupos palestinos --entre eles, o braço armado do Hamas. O segundo, de outros dois soldados, foi reivindicado pelo Hizbollah e deflagrou os confrontos que começaram em 12 de julho.
Como exemplo da ligação entre os grupos, Finguerman lembra que um dos motivos da explosão da Intifada [revolta palestina contra a ocupação israelense], no ano 2000, foi a retirada do Exército israelense do Líbano, ocorrida quatro meses antes.
"Os palestinos interpretaram a ação como fraqueza de Israel e acharam que poderiam conseguir o mesmo", diz. "Neste sentido, o bombardeio israelense no Líbano é uma mensagem aos palestinos, algo como 'Tomem cuidado, isto pode acontecer com vocês também'", afirma.
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Conflito entre Israel e Líbano já era esperado, diz especialista
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da Folha Online
A eclosão de um conflito de grandes proporções entre Israel e o Líbano já era esperado no Oriente Médio desde 2000, segundo o jornalista e escritor Ariel Finguerman, 40, que acaba de retornar da região, onde cobre o conflito entre israelenses e palestinos na faixa de Gaza.
Desde o início dos confrontos, em 12 de julho, a violência deixou cerca de 500 mortos no Líbano [entre eles mais de 440 civis, 20 soldados libaneses e 35 terroristas] e mais de 52 mortos em Israel [19 civis]. Entre os mortos no Líbano, há sete cidadãos brasileiros [três deles crianças].
"Logo que cheguei ao Oriente Médio, há seis anos, eu já ouvia que, a qualquer momento, a fronteira [entre Israel e o Líbano] iria explodir. Fiz várias reportagens no sul do Líbano e, o que chama a atenção, é a proximidade entre as casas libanesas e israelenses. Parece até mesmo um só país, tamanha a proximidade", afirma Finguerman, autor do livro "Retratos de uma Guerra - Histórias do Conflito entre Israelenses e Palestinos" (Editora Globo).
Segundo ele, há possibilidade de o conflito se estender por um longo período, a exemplo do que acontece em Gaza. "Em 1982, Israel atacou o Líbano e declarou que a ação militar seria curta, mas acabou durando quase 20 anos. Mas o conflito também pode levar a uma separação física entre Israel e o Hizbollah, o que pode diminuir bastante a tensão", afirma.
No entanto, Finguerman rejeita a idéia de que os confrontos se estendam para outros países da região. "Acho pouco provável, ninguém quer que isso aconteça", diz.
Em relação ao agravamento da crise em Gaza, o escritor lamenta que os esforços de paz feitos na década de 90 estejam sendo "eliminados". "O que diferencia o conflito entre israelenses e palestinos de outros que acontecem no mundo é que os dois lados estão condenados a viver juntos em um pequeno território. Nunca haverá uma total separação entre as populações, por isso, o diálogo é essencial para a vida funcionar", diz.
Segundo Finguerman, mais cedo ou mais tarde, os dois lados terão de retornar à mesa de negociações para discutir questões cotidianas, como água compartilhada e sistemas de esgoto comuns. "Por isso, a violência é inútil", diz.
Vítimas
O jornalista lamenta o grande número de vítimas palestinas na ação militar de Israel em Gaza. A ofensiva teve início em 28 de julho, três dias após o seqüestro do soldado Gilad Shalit, e, desde então, mais de cem palestinos foram mortos em ataques de Israel na região.
"A morte de civis sempre é uma coisa lamentável, seja onde for, e nunca haverá uma justificativa moral ou estratégica para isso", diz. "Israel optou por pressionar as populações palestina e libanesa através de cercos e bombardeios, para que exerçam uma pressão interna contra o Hamas e o Hizbollah, mas não há garantias de que esta estratégia dê certo", afirma.
Para ele, a tática israelense pode até mesmo surtir efeito contrário, aumentando o apoio aos grupos radicais. "As organizações extremistas já estão mudando seus discursos para obterem maior apelo perante as populações e a união nacional", diz.
Retirada
De acordo com Finguerman, a retirada das tropas de Israel do norte de Gaza, efetuada na sexta-feira (28) é reflexo da forte pressão da população, que é contra a reocupação de Gaza e do sul do Líbano.
"Durante décadas, centenas de soldados morreram nestas regiões, e o seu retorno a estes territórios árabes é visto como um cenário de pesadelo em Israel", diz.
No entanto, segundo ele, isso não significa que a violência diminuirá. "A pressão militar poderá ser exercida de outros modos, como por meio de incursões rápidas", explica.
"Mensagem"
Questionado a respeito da ligação entre as ações do grupo armado palestino Hamas e o grupo terrorista libanês Hizbollah, o escritor afirmou que existe uma ligação "estratégica".
Ambas as crises --em Gaza e no sul do Líbano-- tiveram início após seqüestros de soldados israelenses. O primeiro foi o de Shalit, que ocorreu em 25 de junho e foi reivindicado por três grupos palestinos --entre eles, o braço armado do Hamas. O segundo, de outros dois soldados, foi reivindicado pelo Hizbollah e deflagrou os confrontos que começaram em 12 de julho.
Como exemplo da ligação entre os grupos, Finguerman lembra que um dos motivos da explosão da Intifada [revolta palestina contra a ocupação israelense], no ano 2000, foi a retirada do Exército israelense do Líbano, ocorrida quatro meses antes.
"Os palestinos interpretaram a ação como fraqueza de Israel e acharam que poderiam conseguir o mesmo", diz. "Neste sentido, o bombardeio israelense no Líbano é uma mensagem aos palestinos, algo como 'Tomem cuidado, isto pode acontecer com vocês também'", afirma.
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