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Viva Camarões

JOSÉ GERALDO COUTO
colunista da Folha Online e da Folha de S.Paulo

Torcedores e jornalistas brasileiros presentes ao estádio olímpico vibraram muito com a conquista da medalha de ouro no futebol... pela seleção de Camarões.

Tudo aquilo que o time de Luxemburgo nos havia sonegado _a ousadia, o prazer de jogar, a fantasia_ estava sendo proporcionado na final pelos camaroneses, liderados pelo fantástico Patrick Mboma, autor do primeiro gol de seu país e iniciador da jogada do segundo.

Com exceção da pequena torcida espanhola presente, o público multinacional que lotou o estádio olímpico torceu francamente por Camarões. Menos pela tendência natural de optar pelo país mais pobre do que pelo prazer de ver um futebol jogado com coragem e alegria.

Pela segunda Olimpíada consecutiva, um time africano atropela europeus e sul-americanos na conquista do ouro (em 96 foi a Nigéria). Será que isso não quer dizer algo, especialmente a nós, brasileiros?

Afinal, até alguns anos atrás, ganhando ou perdendo, era o nosso futebol que encantava o resto do mundo. Hoje, com muita frequência, somos vaiados.

Perdemos a inocência, a espontaneidade, a alegria de jogar. Só ficou a máscara. Acreditamos ser muito espertos e superiores.

Ao ver os leões indomáveis festejando em campo, depois 120 minutos de luta incessante, todos nos lembramos com ironia da frase arrogante de Luxemburgo, antes da partida que nos desclassificou: "O time de Camarões cansa no segundo tempo".

O ensinamento a tirar dessa história é simples e evidente. Faz muito tempo que a camisa brasileira não ganha jogo sozinha. Se quisermos continuar entre os melhores do mundo, teremos de trabalhar com afinco. Antes de mais nada, é preciso conhecer e respeitar os adversários.

Engana-se quem pensa que a espontaneidade é suficiente para vencer. Camarões não é um time de peladeiros. É uma equipe muito bem montada, com uma tática inteligente de impedimento e uma boa variação de jogadas ofensivas.

Mas a "ciência" tampouco basta. Um time burocrático e sem imaginação não vai muito longe. Sem a fantasia de um Mboma, de um Geremi e de um Eto'o Fils, Camarões não venceria nem encantaria.

O que empolgou ontem os brasileiros que amam o futebol foi ver, numa final olímpica, chapéus, dribles e passes de calcanhar que não estamos mais acostumados a ver em jogos decisivos.

É lindo ver um estádio de cem mil pessoas vibrar com uma jogada inspirada. A alegria do futebol não morreu. Obrigado, Camarões.

E-mail jgcouto@uol.com.br

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