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Erro estratégico condena Brasil ao fracasso olímpico
04/10/2000 - 17h21
da Folha de S.Paulo
Uma radiografia nos resultados da Olimpíada de Sydney mostra que o fracasso brasileiro na competição tem suas raízes na formação da delegação.
Ao contrário da impressão causada pelo quadro de medalhas, em que ficou no 52º lugar, o Brasil teve um aproveitamento de conquistas não muito distante do registrado por nações que ficaram entre as mais premiadas, como Cuba, Romênia e Bulgária.
Por incrível que pareça, o Brasil teve em Sydney uma das delegações com o maior número de atletas com uma medalha no peito.
Dos 205 integrantes da equipe formada pelo COB, 47 voltaram para casa depois de uma escala no pódio, o que significa um índice de 23%, superior ao de várias nações com melhores posições no quadro de premiações.
É o caso, por exemplo, da Romênia. Mesmo ganhando mais do que o dobro de medalhas brasileiras (26), os europeus tiveram uma proporção de atletas premiados bem menor -só 18% da delegação foram ao pódio.
Até entre as maiores potências esportivas do planeta a proporção de premiados na equipe fica próxima da registrada pelo Brasil -a Austrália só teve 25% da sua delegação recebendo uma medalha nos Jogos que hospedou.
O que era para ser motivo de orgulho mostra, na verdade, o quanto o projeto olímpico brasileiro não beneficia a conquista de um grande número de medalhas.
Apostando em esportes coletivos e provas de revezamento, o país teve na Olimpíada de Sydney um dos menores índices de medalhas disputadas. Mesmo levando 205 atletas para Sydney, o Brasil só tinha condições de ganhar 108 medalhas. Com apenas 95 inscritos, a Bulgária participou de 97 provas.
O México, que também ficou na frente do Brasil no quadro de medalhas, disputou 81 medalhas com 79 competidores.
Dessa forma, o que parece um resultado desastroso do Brasil se torna muito mais ameno quando se compara o índice de medalhas conquistadas por provas disputadas pelos atletas do país.
Como foi ao pódio 12 vezes, a delegação brasileira teve um aproveitamento de uma medalha para nove provas disputadas.
Se tivesse o mesmo desempenho que a Romênia (uma medalha para cada sete provas disputadas), o Brasil teria mais quatro medalhas nos Jogos de Sydney, o que ainda o deixaria longe do total de premiações de nações com delegações de tamanho parecido, como Holanda e Cuba.
Além do baixo número de provas disputadas por inscritos, o Brasil sofre uma falta de atletas com bom desempenho em provas individuais. Das 12 medalhas do país em Sydney, só três, ou 25%, foram em disputas em que os medalhistas concorreram sozinhos.
Na composição das premiações da Austrália, a participação das provas individuais chega a 55%, número que salta para 75% no caso da Coréia do Sul.
O Brasil também não conseguiu produzir em Sydney um atleta que conseguisse conquistar mais de uma medalha, como aconteceu com a Holanda, em que apenas três competidores, na natação e no ciclismo, ganharam 12 medalhas, o mesmo que o obtido pelos 205 brasileiros.
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