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Clovis Rossi
06/10/2009

Diário de Viagem: Estocolmo

É muito simpático um país em que o rei e a rainha recebem o visitante no aeroporto. Mais simpático ainda se o visitante for brasileiro, porque a rainha, Silvia Renate Sommerlath, é filha de brasileira.

Claro que o casal não vai ao aeroporto ao vivo e em cores. Aparece sorridente num grande "pôster" na parede de um corredor de passagem obrigatória para quem desembarca em Arlanda, a cidade em que fica o aeroporto.

Além de simpático, democrático. Ao lado do rei e da rainha, aparecem, entre outros, o tenista Björn Borg e até um "rapper" local.

País tão simpático que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou hoje da cúpula Brasil/União Europeia, disse que a Suécia lhe servia de "inspiração" tanto no tempo em que trabalhava "no chão de fábrica" como agora que se hospeda no mais luxuoso hotel de Estocolmo, o Grand Hotel.

Aliás, o hotel parece ter levado a sério aquela história dos velhos leitores de jornais que gostam de folheá-lo no banheiro. Em um deles, na parede, há um reprodução da capa do dia dos jornais "Financial Times" e "International Herald Tribune", além de dois diários suecos.

Mas ficam em cima dos mictórios, não em frente ao vaso sanitário, o que leva ao risco de errar a mira.

Um aviso para você que eventualmente tem viagem programada para Estocolmo: não pegue o táxi ou o ônibus no aeroporto. Pegue o "Arlanda Express", o trem que te deposita em 20 minutos na estação central, quase no centro da cidade.

Custa para um velhinho simpático como eu apenas 120 coroas suecas, o que não dá R$ 30. Melhor ainda: nem precisei pedir o desconto para a terceira idade. A mocinha que atendia o balcão de informações, meio constrangida, é que perguntou se eu tinha mais de 60 anos, o que daria direito a desconto.

Brinquei que tinha 80 para ver se pegava desconto maior, mas não colou.

Simpatia à parte, aqui no Norte da Europa é que dá para entender melhor o banzo que muito brasileiro sente quando está longe da terra e do seu sol quase permanente.

O verão terminou por aqui faz pouco mais de 15 dias, alguns restaurantes ainda se fazem de otimistas e mantêm mesas postas na calçada ou nos pátios internos ao ar livre. Não adianta fingir: a temperatura de outono ficou o dia todo entre 8 e 11 graus. No fim de semana, choveu uma barbaridade e molhou mesas e cadeiras dos restaurante otimistas.

Estocolmo não é apenas simpática; é belíssima, principalmente para quem se cansou das cidades grandes, ruidosas, engarrafadas, perigosas, quase fora da escala humana. Aqui, bem ao lado do Rosenbad, o palácio do governo, um prédio discreto e austero bem no centro, pesca-se em um dos braços do lago Mälaren. Estocolmo na verdade são 14 ilhas em torno do lago.

Há até um cartaz com as regras para a pesca, mas, como sueco não é exatamente minha língua natal, não entendi nada. Nem sei pescar.

A Suécia tem, além da rainha Silvia, mais duas imbricações com o Brasil: a Copa e Lula, Luiz Inácio Lula da Silva, sim senhor.

A Copa, todo mundo lembra: foi na Suécia que o Brasil ganhou seu primeiro título mundial, já faz 51 anos.

E Lula só é presidente hoje, segundo ele próprio, por causa da sua liderança na famosa greve dos anos 70, na "nossa querida Scania Vabis", firme sueca. "Só sou presidente graças à greve", diz o ex-operário.

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às quintas e domingos na página 2 da Folha e, aos sábados, no caderno Mundo. É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e "O Que é Jornalismo".

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