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Num romance mais ou menos autobiográfico, contei o episódio que aconteceu comigo por ocasião de um Congresso Eucarístico em São Paulo. No encerramento, perante um milhão de pessoas reunidas no Vale do Anhangabaú, o entusiasmo da multidão dava vivas a Jesus Sacramentado. E o representante do papa proclamava pelos alto-falantes que o triunfo da Fé só teria igual quando todos estivéssemos no céu, gozando a beatitude divina por toda a eternidade.
Fui encarregado de sair, antes de se encerrar a cerimônia, para ir buscar o bonde especial que nos levaria de volta ao seminário. De batina e sobrepeliz, corrri pelas ruas laterais e desertas, para desencavar o tal bonde que estava à nossa espera. De repente, esbarrei com um lixeiro da Limpeza Pública que varria o chão atapetado de flores por onde passara a procissão triunfal de um milhão de crentes.
Ele estranhou o rapaz de batina correndo pela rua como se fosse um ladrão, um batedor de carteira. Decidi parar e comentar o que estava acontecendo. O triunfo de Jesus Sacramentado. Agora, só no céu teríamos espetáculo igual.
O lixeiro não tomara conhecimento de nada. Estranhava muita flor esmagada nas ruas, o silêncio nas ruas desertas. A menos de 200 metros, um milhão de fiéis aclamavam e reclamavam o Reino dos Céus.
O mesmo se deu comigo, agora, por ocasião do Rock in Rio. Foi um triunfo dos metaleiros, dos disso e daquilo, nem no céu dos entendidos teremos espetáculo igual.
Segurando minha vassoura, faço meu ofício tentando limpar um lixo que, honestamente, não me incomoda.
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