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Alguns
leitores andam me estranhando na mesma medida em que os estranho.
Julio Mairena, em e-mail
que me enviou, confessa que o rock é a sua vida e me aconselha a
ficar longe dele, rock. Já que não o aprecio, devia me abster de
me preocupar com ele, rock. Eu também não aprecio Hitler, a Aids,
os assassinatos e os terremotos, mas eventualmente sou obrigado
a falar neles.
Já o leitor Marcelo de Freitas, me
aconselha a ir morar em Cuba, naquela base muito em voga durante
o regime militar, "Brasil, ame-o ou deixe-o!")
Tudo porque, em crônica recente na Folha, contei que, a caminho
do México, fui comprar charutos cubanos no free shop de Miami e
o vendedor pensou que eu fosse algum milionário membro do governo
brasileiro.
Por acaso, no dia seguinte, em outra crônica no mesmo espaço, elogiaria
a medicina massiva de Cuba, fato consensual no universo médico.
Acontece que elogiar os charutos de Havana e a medicina massiva
de Cuba não significa que eu seja um apóstolo do regime de lá.
Vivi algum tempo na ilha de Fidel, perseguido pelo regime militar
brasileiro, mas comprei uma briga séria com a diretora da Casa de
las Americas, Haydê Santamaria, para poder voltar, pois a ditadura
cubana não podia compreender que eu detestasse igualmente os militares
de lá - que eram inclusive civís mas vestiam fardas e portavam metralhadores
dia e noite.
É duro escrever para pessoas simples, geralmente simplistas, que
ignoram o elementar em qualquer tipo de controvérsia: "afirmatio
unius non est negatio alterius". A afirmação de uma coisa (não gosto
de quiabo) não é negação de outra, de que não gosto de jiló.
Leia colunas anteriores
30/01/2001 - O lixeiro e o rock
23/01/2001- O diabo perderá o emprego
16/01/2001
- O
anticristo
09/01/2001
- Secretárias
02/01/2001
- Erros
fatais
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