Pensata

Eliane Cantanhêde

10/10/2007

Degringolou

da Folha Online

Depois da vitória na votação do primeiro processo de cassação, Renan Calheiros tinha tudo para ir levando... e ficando. Mas a vitória subiu-lhe à cabeça e ele passou não apenas a constranger, mas também a provocar os colegas senadores. Foi assim que se inviabilizou definitivamente na presidência do Senado. Se não vai ser cassado, Renan vai ser obrigado a renunciar.

Atolado em quatro processos, o senador ainda se deu ao luxo de tirar, ou permitir que o PMDB tirasse, os colegas Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS) da Comissão de Constituição e Justiça, para trocá-los por sabe-se lá que desconhecidos peemedebistas. Foi um erro primário dos renanzistas. Jarbas e Simon, tenham lá que defeitos tenham, são símbolos do velho MDB e do velho PMDB que lutavam contra a ditadura militar. Mexer com eles foi atiçar toda uma discussão ética. Logo Renan! Logo o PMDB renanzista! O tiro saiu pela culatra. Em vez de ganharem votos na CCJ, perderam ainda mais no plenário.

Seja verdade ou não, a denúncia de que o presidente do Senado usava um assessor para espionar adversários internos, como os senadores de Goiás Demóstenes Torres e Marcone Perillo, fez o resto: a sensação do Senado contra Renan é mais ou menos como 'assim já é demais'. O PSDB e o DEM lideram um movimento sem volta contra Renan, ao qual aderiram parcelas governistas e até representantes do PT, partido que até aqui vinha sendo decisivo para mantê-lo no cargo. Ou seja: Renan vem perdendo apoios, um a um. Não tem condições de resistir.

É nesse clima que o Senado vai receber o projeto de prorrogação da CPMF até 2011, que foi aprovado nesta madrugada em segundo turno pela Câmara. É álcool na fogueira. O governo defendia Renan na suposição de que ele seria fundamental para arregimentar votos a favor da CPMF. Agora, vê-se que Renan não tem condições de arregimentar nem votos a favor dele próprio.

O clima no Senado é de guerra, com insultos, desdém, puxação de tapete, acusações mis e muita desconfiança. Renan não tem como ficar, mas a CPMF até pode passar. O governo decidiu lavar as mãos para um, Renan, mas joga todo o seu peso a favor do outro, o imposto. E a gente bem sabe qual é o peso do governo, qualquer governo.

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.

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