Pensata

Eliane Cantanhêde

07/11/2007

Bonitinhos e ordinários

Soda Cáustica no leite. Fraude nas verbas da Cultura. Esquemas fraudulentos em bancos estrangeiros no Brasil.

E aí, o Brasil está piorando? Há quem diga que sim, há quem diga que não. A verdade é que bandidagem sempre houve, e a diferença é que a Polícia Federal veio se especializando na última década, agora não perdoa. Quem tem rabo preso que ponha as barbas de molho.

Mais grave do que isso é o que era ruim, continua ruim e não tem perspectiva de melhorar. Exemplo 1: a dengue, que pode piorar muito no final do ano, com a combinação chuva e calor. Exemplo 2: a impunidade dos poderosos e a incompetência da justiça, que, aliás, andam juntas e empurram a política para o buraco.

Quer ver? Apesar das pilhas de cheques, documentos e provas de desvio de dinheiro para o exterior, Paulo Maluf se candidatou, se elegeu e vai direto para os holofotes do Congresso. Ele é relator na Câmara do projeto de entrada da Venezuela no Mercosul.

É o caso de alguém aí perguntar: o que é mais espetacular, a Venezuela que dá superpoderes e eterniza Chávez, ou o Brasil que mantém e prestigia "representantes do povo" cheios de processos nas costas?

Bem, mas ainda mais grave é o que parecia bem e agora vai de mal a pior: o setor aéreo. Um acidente atrás do outro, com Boeing, com Airbus, com jatinhos, com helicópteros. Os aeroportos bem bonitinhos, mas com pistas ordinárias. Os atrasos, a bagunça, o desrespeito. Sem falar nas panes do sistema de controle aéreo. A sensação é de que virou rotina e nada acontece.

Congonhas foi "desafogado" para inglês ver. Digamos que o governo tentou desafogar Congonhas e afogou o resto. Guarulhos não é nenhuma Brastemp, Viracopos é fora de mão e o Campo de Marte é vetado até para meros Learjet do GTE (o Grupo de Transporte Especial da FAB, que voa ministros para lá e para cá).

Aliás, os Learjet 35 dos ministros não podem operar no Campo de Marte, por questão de zelo e segurança com as autoridades, mas os Learjet 35 particulares podem. Podem e até caem por lá, como ocorreu no domingo passado. Morreram o piloto, o co-piloto e seis pessoas da mesma família. Não eram autoridades.

Já falamos do que era ruim e pelo menos está aparecendo, do que era ruim e continua ruim, sem perspectiva de melhorar, e do que parecia bom e vai de mal a pior. E o que é uma grande ameaça? Pois é. A falta de energia é como um fantasma que ronda as nossas empresas, as nossas casas, a nossa vida.

É aí que entra o reinvestimento do Brasil na exploração de gás da Bolívia, apesar de todas a falta de educação do presidente Evo Morales, que desapropriou refinarias da Petrobras, com o requinte de botar o Exército dentro delas.

Nesse caso, o governo brasileiro está engolindo em seco, pelo princípio de que "é melhor prevenir do que remediar". Porque remediar, definitivamente, não é o forte dele. Vide o caos aéreo.

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.

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