Pensata

Eliane Cantanhêde

19/12/2007

Que país é esse?

Segundo o Banco Mundial, o Brasil é a 10ª maior economia do planeta, com um PIB de US$ 1,585 trilhão, que corresponde a 2,88% das riquezas produzidas no mundo em 2005 e a praticamente metade de tudo o que América do Sul produziu no ano. Parabéns governo FHC! Parabéns governo Lula!

Só que... mesmo assim o Brasil foi o único país do Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) que não avançou. E o que mais interessa não é a competição pela economia, mas o que ela assegura para os cidadãos.

O Brasil é a 10ª economia, mas é também o último lugar no ranking dos países com melhor desenvolvimento humano, além de estar entre os últimos em educação (leitura, ciências e matemática).

Ou seja: o Brasil vai bem, mas os brasileiros, nem tanto. O maior problema continua sendo o da distribuição macabra de renda, com uma minoria nadando em dinheiro e a maioria sem educação, sem saúde, muitas vezes sem comida. E todos sem segurança.

O Bolsa Família é necessário e bem vindo, mas é apenas emergencial, um estágio. O fundamental é garantir a inclusão social sistemática e sustentável.

Além disso, o Brasil é a 10ª economia, mas ainda capaz das maiores atrocidades contra seus cidadãos, e justamente contra os mais desassistidos, os mais frágeis.

O ano de 2007 chega ao fim com o fantasma de duas crianças trucidadas pelo próprio Estado brasileiro: a menina que foi jogada por uma delegada e mantida por uma juíza numa cela com dezenas de homens no Pará e o menino suspeito de roubar uma moto, preso pela Polícia Militar dentro da própria casa e assassinado numa cadeia em Bauru, próspera cidade de São Paulo, o mais desenvolvido Estado do país.

Foram 30 choques elétricos. Na face, nas orelhas, no tórax, no saco escrotal, nas mãos, no coração...

Às vésperas do Natal, a gente fica aqui matutando como deve ser a dor, incurável, eterna, dos pais, dos irmãos, dos amigos e de todos nós, brasileiros, diante desse tipo de tragédia.

Há uma doença neste país. Essa doença se chama "desigualdade social", que contamina os agentes do Estado, a Justiça, o Legislativo, o Executivo, as ruas e as nossas próprias casas e tem como principal efeito o abuso contra as pessoas. Como se houvesse dois, três, quatro tipos de "gente". Não existe. Nós somos todos iguais.

Falta um encontro de contas entre o "Brasil 10ª economia" e o "Brasil dos brasileiros".

Bom Natal, excelente Ano Novo! E vamos continuar gritando, reclamando, cobrando. É assim que o mundo gira, e a gente constrói um país melhor.

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.

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