Pensata

Eliane Cantanhêde

30/01/2008

Pacotaço

Brasil está acertando com a França um pacote de bom tamanho e em diferentes áreas, a começar da mais sensível, que é a de defesa.

Para resumir:

1 - compra do submarino convencional (diesel-elétrico) Scorpene por US$ 600 milhões, em 20 anos;

2 - transferência da tecnologia francesa para que o Brasil desenvolva seu submarino de propulsão nuclear. A Marinha brasileira já detém a tecnologia do combustível nuclear, mas não a de produção do casco e do "recheio cibernético" de um submarino assim;

3 - compra de 50 helicópteros Super Cougar, de transporte de carga, para Aeronáutica, Marinha e Exército e uma extensão da aliança da brasileira Helibrás com a Eurocopter para a produção de novos helicópteros. Pode gerar uma nova fábrica binacional;

4 - a discussão sobre a compra de aviões de caça Rafale para reconstituir a depauperada frota de caças da FAB. Trata-se do projeto F-X, que nunca sai do papel. Ou não saía, porque agora tem alguma chance;

5 - acordo já assinado para facilitar a vida dos oficiais e suas famílias que forem fazer curso no outro país -- os brasileiros que forem para a França e vice-versa;

6 - acordos de proteção da fronteira entre o Brasil e a Guiana, a serem selados entre os presidentes Lula e Sarkozy, num encontro lá no dia 12 de fevereiro.

E vem mais por aí, porque o Brasil vem diversificando seus parceiros comerciais em todas as áreas e praticamente escolheu a França como parceiro preferencial na área de defesa. O pretexto é bom: o de que os franceses transferem tecnologia, enquanto os EUA só querem vender, não querem transferir nada.

O pretexto é bom, mas não é a única coisa em jogo. No fundo, no fundo, o Brasil vem dando todos os sinais (inclusive passos concretos) de que quer reduzir o máximo que puder a tradicional dependência de Washington nos campos político, econômico, comercial e militar. Ainda mais agora, cá entre nós, que a grande potência já não está toda essa cocada preta...

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.

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