Pensata

Eliane Cantanhêde

22/07/2009

Socorro!

O maior número de mortes (46%) de adolescentes no Brasil é por... homicídio! Bem mais do que por causas naturais (25%) e por acidentes (23%). E dois a cada mil brasileiros deverão morrer antes dos... 19 anos!

É assustador, o que nos faz automaticamente refletir: por que a gente gasta tanto papel, tanta tinta, tanto espaço e tantos neurônios para escrever sobre a avalanche de desmandos do Senado, dos Sarney, dos Jader, dos Renan, dos ACM, dos mensaleiros, dos aloprados, em vez de escrever sobre a barbaridade dos assassinatos dos nossos jovens?

A resposta é simples: porque há uma relação profunda de causa e efeito entre as duas coisas, entre corrupção e violência na sociedade. Qualquer estudo mostra isso: quanto mais transparente e honesto o país, melhor distribuição de renda e menor violência; quanto mais corrupto, pior distribuição de renda e maior violência. Ainda mais num país onde as armas de fogo circulam como balinhas de hortelã por toda a parte.

Descrever as minúcias do empreguismo, dos salários desproporcionais, dos atos secretos, dos desvios dos três Poderes e dos nossos governantes cumpre, assim, vários papéis que, somados, desaguam num só: a tentativa de construir um país mais transparente e honesto, mais justo e com maior segurança.

Primeiro, as pessoas se informam e se indignam. Depois, a tendência é que todos ponham as barbas de molho e velhas práticas sejam trocadas por novas e limpas. E, enfim, com menos dinheiro público desviado para poucos, sobra mais para a maioria. Além de aumentar a confiança internacional e, com ela, os investimentos. Isso é desenvolvimento. Desenvolvimento também pode ser sinônimo de paz.

PS - O estudo sobre a mortalidade dos jovens é do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, com Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, a ONG Observatório de Favelas e o Unicef (braço da ONU para a infância).

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.

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