Pensata

Eliane Cantanhêde

02/10/2009

Lula: "alegria e preocupação"

A sexta-feira, 02/10/2009, marca duas comemorações para o Brasil: o dia em que o Rio bateu Madri, Tóquio e Chicago para hospedar as Olimpíadas de 2016 e também o dia em que o Lulinha brasileiro venceu Barack Obama, presidente da maior potência mundial, o primeiro negro a presidir os EUA, ainda envolto numa estupenda aura internacional.

Lula foi de Brasília, e Obama se despencou de Washington para defender Chicago, onde tem forte base eleitoral. E deu Lula, com o Rio, com o samba, com o futebol, com as mulatas, com a feijoada, com o Maracanã, com a Bossa Nova, com o Cristo Redentor.

A sensação de que Lula é "o cara", e ainda por cima um cara de sorte, passou de mente em mente no Brasil e deve ter corrido o mundo. É impossível não fazer uma projeção, ou pelo menos uma indagação política: o quanto as Olimpíadas em 2016 vão pesar na volta dele, já tão falada desde hoje, à presidência em 2014?

Só não custa, em meio a tanta festa, lembrar que o Rio é o Rio. Além de "Cidade Maravilhosa de encantos mil", é também considerada um dos centros urbanos mais violentos do planeta.

Crimes são cometidos às pencas, todos os dias, em grandes cidades como Nova York, Madri, Roma, Paris, Cidade do México. Mas em nenhuma delas, como no Rio, homens, mulheres e até pivetes assaltam à mão armada, atingem inocentes com balas perdidas, dispõem de metralhadoras e já usam até granadas. Só faltam bandidos com tanques. Raiando a guerra civil.

É por isso que Lula, apesar da grande vitória, disse com todas as letras no seu discurso de comemoração que recebia o resultado com "alegria e preocupação". Um ato falho, que ele deixou passar batido, sem explicações, mas cheio de enormes significados.

Alegria, porque foi um grande feito brasileiro. Preocupação, porque agora vem o mais complicado: limpar a área e combater a violência, as quadrilhas, as armas e os policiais corruptos até as Olimpíadas. Sem contar que todo cuidado é pouco para evitar obras superfaturadas e outras barbaridades tão comuns na rotina do país.

Faltam sete anos para todas essas suas façanhas. Façam suas apostas.

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.

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