Pensata

Eliane Cantanhêde

11/11/2009

Onde é que nós estamos?

Junto aqui duas manchetes, uma do "Valor Econômico", que compara os salários dos servidores estatutários e da iniciativa privada em 2008, e outra da Folha, sobre o rombo da previdência pública.

Resumindo, o servidor público estatutário ganha o dobro do salário do trabalhador da iniciativa privada e depois se aposenta ganhando múltiplas vezes mais, porque vai para a casa, viver mais uns 20, 30 anos, com o povo lhe pagando salário integral.

Sem contar que os trabalhadores privados podem ser demitidos a qualquer momento, sob pretexto de qualquer crise, mas os estatutários têm estabilidade no emprego, com crise, sem crise, faça chuva ou faça sol. Só saem se aprontarem daquelas da pesada.

Então, como ficamos? A média ( m é d i a ! ) das aposentadorias do serviço público é de R$ 5.355, e a da iniciativa privada é de R$ 707. A média de um é, repetindo, de R$ 5.355, e a máxima do outro, de R$ 3.219.

Isso sem falar nas médias ( m é d i a ! ) das aposentadorias do Judiciário, de R$ 15.107, e do Legislativo, de R$ 15.107.

Onde é que nós estamos?! Que país é este?!

É assustador, principalmente sabendo-se que chegamos a isso depois das reformas da Previdência de FHC e do início do governo Lula. Ou as reformas não serviram para nada, ou seria ainda bem pior sem elas.

Isso explica, com a transparência de lagos suíços, por que os engenheiros, arquitetos, jornalistas e físicos, entre tantos outros, saem das universidades direto para concursos públicos para virarem burocratas. A garotada só pensa nisso: concurso.

E é exatamente essa a alavanca da multiplicação das faculdades de Direito. Na verdade, muitas, senão a maioria, deveriam se chamar faculdades de... concurso.

Há um círculo vicioso, que só aumenta de ano para ano, com os empregos e os salários do setor privado incompatíveis com a garotada de nível superior e um avanço esfomeado por vagas nas várias esferas de governo. É um processo preocupante, porque em boa coisa, e em boa conta, não vai dar. E é a maioria que arca com essa "coisa" e paga essa conta.

Governantes vêm e vão, mas os problemas que eles criam, relevam ou aumentam, ficam. Um dia, a casa cai.

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.

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