Pensata

Eliane Cantanhêde

10/03/2010

Os reis entram na dança

Em rara entrevista à imprensa, o rei da Suécia, Carl Gustaf, que visita o Brasil no final do mês, disse a jornalistas brasileiros, em Estocolmo, que "os suecos ficarão muito orgulhosos e felizes" caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva opte pelo caça Gripen para renovar a frota da Aeronáutica. Aproveitou para fazer uma espécie de apelo.

"Espero que o Brasil faça a escolha certa. Qual é? It's up to you [depende de vocês]", disse ele no Palácio Real, ao lado da rainha Sílvia, que tem origem brasileira e o acompanha na viagem oficial ao Brasil, a primeira depois de 25 anos.

Na entrevista, a própria rainha fez uma defesa do Gripen, caça da sueca Saab, que ficou em primeiro lugar no relatório técnico da Aeronáutica, mas vem sendo preterido pela área política do governo, que já deu inúmeras manifestações de que prefere o Rafale, da francesa Dassault.

"O que a Suécia está oferecendo é qualidade, e seria maravilhoso que houvesse mais essa cooperação entre as duas companhias [Saab e a brasileira Embraer], porque a Embraer é reconhecidamente excelente", disse ela.

O rei admitiu que está bem informado, mas principalmente pela imprensa, sobre as divergências entre a posição da FAB (Força Aérea Brasileira) e as do Planalto e do Ministério da Defesa para a compra de 36 caças. Tentou, porém, ser diplomático.

Disse que os suecos "estão orgulhosos" de participar de uma disputa entre grandes países e grandes empresas e acrescentou: "Esse é um processo que vem desde muito tempo, e sei que é sempre um problema ter de optar entre coisas boas".

Os reis chegam no dia 21 a Recife mas só iniciam a visita oficial no dia 23, em Brasília, com um jantar com Lula e com a sua mulher, Marisa Letícia. A agenda inclui dois itens diretamente ligados à venda dos aviões supersônicos: eles vão a São José dos Campos (SP), sede da Embraer, e depois à Amazônia, com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, peça-chave na decisão sobre os caças.

"Não planejávamos ir à Amazônia, pois já fomos lá inúmeras vezes, mas o ministro nos convidou para ver o trabalho das Forças Armadas junto às populações locais e aos indígenas", disse o rei.

A comitiva de Carl Gustaf e Sílvia inclui uma delegação de empresários suecos, interessados nas áreas de alta tecnologia, agricultura, meio ambiente e projetos comuns com a Vale do Rio Doce na área de combustíveis alternativos --como o chamado VSE (Vale Solução em Energia), envolvendo US$ 720 milhões até 2012.

A sustentabilidade é um dos orgulhos suecos, que tenta exportar para os vários continentes o sistema de coleta a vácuo de lixo, o mais moderno do mundo, pois é todo automatizado, sem a necessidade de caminhões e de garis.

Os reis irão também a São Paulo. Ele terá contatos na Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo, enquanto a rainha terá uma agenda à parte, pois é ligada a projetos sociais e principalmente de prevenção e tratamento de abuso sexual contra meninas.

O governo da Suécia estima que existam mais de 200 empresas suecas atuando no Brasil, gerando mais de 50.000 empregos para brasileiros, o que o rei comparou "a quase uma cidade inteira da Suécia".

PS - Viajei a Estocolmo a convite do Ministério das Relações Exteriores da Suécia e da embaixada do país em Brasília.

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.

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