Pensata

Fernando Canzian

13/08/2009

Heil Obama!

NOVA YORK O presidente Barack Obama pôs novamente o pé na estrada nesta semana para tentar convencer os norte-americanos e o Congresso a passarem seu ambicioso plano de saúde.

O objetivo é universalizar a cobertura nos EUA, onde 50 milhões de norte-americanos simplesmente não têm planos de saúde e não podem contar com o sistema público. Os mais pobres literalmente morrem por falta de atendimento ou por atrasos em tratamentos e cirurgias.

Os conservadores no campo Republicano e Democrata, assim como os mais ricos no país (que têm cobertura privada) estão pegando pesado contra Obama.

O presidente já é comparado a Hitler, Lenin e Che Guevara por tentar o que o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) também não conseguiu. Na sua luta pela reforma do sistema, Clinton acabou dizimando boa parte do apoio que tinha no início de seu mandato entre os parlamentares.

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Cartaz contra o plano de Barack Obama para a saúde compara o presidente norte-americano ao nazista Hitler e ao comunista Lenin
Cartaz contra o plano de Barack Obama para a saúde compara o presidente norte-americano ao nazista Hitler e ao comunista Lenin

O escritório de um parlamentar negro que apoia o plano amanheceu pichado com uma suástica. Outros são acusados inveridicamente de apoiar a eutanásia de idosos doentes como parte do programa.

Já lidando com a maior recessão em seu país desde os anos 1930, a agenda de Obama na saúde é tão ambiciosa quanto cara. O plano custaria cerca de US$ 120 bilhões ao ano em um momento em que os EUA rumam para o maior endividamento público do pós Segunda Guerra.

A grande contrariedade e dor dos que se mostram contra o programa vêm, como sempre, do órgão mais sensível do corpo humano: o bolso.

Obama prometeu que não aumentaria os impostos sobre os americanos que ganham até US$ 250 mil ao ano (cerca de R$ 38,5 mil ao mês). Mas ninguém acredita. Mesmo entre os que têm remunerações anuais entre US$ 60 mil e US$ 90 mil (e que têm planos de saúde), o apoio às mudanças (e ao presidente) cai rapidamente.

O Partido Democrata de Obama tem a maioria nas duas Casas do Congresso. Mas não no caso da saúde.

Ocorre que os oito anos da administração Bush deixaram os norte-americanos mais ricos e conservadores tão decepcionados com o partido Republicano do ex-presidente que acabaram elegendo candidatos democratas mais conservadores e ricos.

Um grupo deles, os democratas "Blue Dogs" (cachorros azuis) fazem o papel de fiscalistas e são extremamente conservadores em relação a gastos (o nome "Blue Dogs" é uma referência ao fato de ficarem azuis de tão engasgados e sem ar com as atitudes da esquerda democrata).

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Charge do "Politico" mostra que o Congresso não se importou com gastos militares, cortes de impostos feitos por Bush ou com o financiamento à Guerra do Iraque. Mas que late contra o plano de saúde para integrar 50 milhões de pessoas
Charge do "Politico" mostra que o Congresso não se importou com gastos militares, cortes de impostos feitos por Bush ou com o financiamento à Guerra do Iraque. Mas que late contra o plano de saúde para integrar 50 milhões de pessoas

Obama ainda está apenas no primeiro ano de sua Presidência. E tem uma agenda digna de quem gostaria de resolver tudo muito rapidamente. Mas sua aprovação caiu para 50% em agosto pela primeira vez desde que assumiu.

A chave do sucesso dessa e de outras empreitadas de Obama parece continuar centrada na economia.

Enquanto ela não embicar para cima de uma vez, mais gente de todos os lados passará a latir cada vez mais forte contra o presidente.

Fernando Canzian é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006 e é autor do livro "Desastre Global - Um ano na pior crise desde 1929". Escreve às segundas-feiras na Folha Online.

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