Pensata

Gilberto Dimenstein

09/09/2007

Qual é a maior estupidez brasileira?

Começa nesta semana um programa gerido por médicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para diminuir o espantoso número de estudantes que, por causa de doenças simples de serem tratadas, têm dificuldades nas escolas. O programa é patrocinado pela prefeitura de São Paulo, previsto para atingir todos os alunos da rede municipal.

Faz dois meses que os médicos da Unifesp (antiga Escola Paulista de Medicina) desenvolvem um piloto numa escola e encontraram uma galeria de horrores. É como se crianças estivessem apodrecendo por falta de tratamento médico. Algumas doenças são de fácil resolução como baixa acuidade visual e de audição. A taxa de sobrepeso é de 30%; 60% têm cáries.

O que os médicos estão constatando ocorre em todas as escolas brasileiras --e ocorre porque não se consegue um melhor entrosamento entre as áreas de educação e saúde. Estamos falando aqui de um problema que, segundo as estatísticas, atinge 40% dos alunos da rede pública. Ou seja, algo como 25 milhões de estudantes. Sei de meninos tratados como surdos, mas que não limpavam o ouvido. E de outros considerados retardados pelos professores, mas que tinham distúrbios psicológicos provocados pela violência doméstica. Há disléxicos considerados burros. Ou anêmicos chamados de preguiçosos.

Não é fácil eleger a maior imbecilidade brasileira, tamanha a oferta de candidaturas. Pelo impacto social, meu voto vai pela falta ou precariedade de programas de saúde escolar. Só um estúpido completo é capaz de imaginar que vamos melhorar nossos indicadores educacionais com crianças que não ouvem e não enxergam direito.

PS- Se Gilberto Kassab conseguir tocar esse projeto, terá realizado sua maior contribuição à cidade de São Paulo. Muito maior do que a Cidade Limpa que, apesar de seus méritos, é uma obra de fachada. Não existe pior poluição do que a falta de saúde e a falta de educação. Se bem sucedido (o que, em se tratando de poder público, é sempre uma dúvida), a Unifesp poderá disseminar esse modelo em todas as grandes cidades, onde, em geral, a saúde escolar é, quando existe, pífia.

Gilberto Dimenstein é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às segundas-feiras.

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