Pensata

Gilberto Dimenstein

08/10/2007

Rolex de Huck dá lição de jornalismo

Está gerando interesse na mídia a monumental repercussão, verificada pelo número de cartas enviadas à Folha, sobre o artigo do apresentador Luciano Huck, no qual relatou como foi vítima de assalto em que levaram seu Rolex. Raras vezes um artigo, publicado neste espaço nobre da página 3, produziu tanto barulho. Existe aí uma dica sobre jornalismo.

Tirando o fato de Huck ser uma celebridade, há uma tendência, visível em todo o mundo, de maior valorização do local, do cotidiano, do que está mais próximo do consumidor de notícias. Talvez, quem sabe, seja até uma reação à impessoalidade da globalização. No caso do Brasil, ainda temos uma agravante: o noticiário de política está insuportável, limitado, essencialmente, a denúncias de corrupção e articulações sucessórias distantes. É como se fosse uma mesma novela sem fim, na qual já confundimos todos os personagens.

O relógio de Huck é, neste caso, mais do que um relógio. Traduz a insegurança, o caos urbano, a desigualdade social, o desemprego, a impunidade, a educação, a falta de democracia e a miséria. Os leitores estão sedentos para discutir esses temas, mas menos pelo que vem embolado de Brasília e mais pelo que sai das ruas.

Tenho visto jovens, muitas vezes acusados de alienados, despertarem rapidamente para o debate sobre coisas públicas quando a política se traduz em seu cotidiano, trazida de forma apropriada para sala de aula.

Um dos problemas de nós, jornalistas, é que vivemos muito no meio de jornalistas.

*

Em nada me interessa o trabalho televisivo de Luciano Huck, acho mais uma daquelas bobagens midiáticas para os jovens. Sobre seu projeto de inclusão de jovens, promovida pelo Instituto Criar, é de ótima qualidade --e um exemplo de responsabilidade individual.

De resto, a lei é feita para proteger ricos e pobres. Não se pode roubar um Rolex de um milionário nem o leite de uma mulher que sai da padaria nem a moto de um motoboy.

Gilberto Dimenstein é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às segundas-feiras.

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