Pensata

Gilberto Dimenstein

05/05/2008

Déficit de QI baiano é verdade

Criou-se uma imensa polêmica em torno do suposto "déficit de inteligência" do baiano para explicar por que os alunos da Faculdade de Medicina da UFBA foram tão mal nas provas nacionais. A polêmica foi tão grande que o autor da frase e então coordenador do curso, Antônio Dantas, renunciou ao cargo. Há mesmo um déficit de inteligência baiano. Mas muito longe daquele citado pelo professor.

O déficit de inteligência da Bahia é, na verdade, a avassalodora perda de cérebros que, por falta de alternativa, se mudam para outras cidades do Brasil e do exterior.

Há uma leva crescente de empresários, executivos, médicos, publicitários, engenheiros, designers ou produtores culturais. Uma série de ícones da publicidade paulistana é baiana. Nizan Guanaes é apenas a estrela mais reluzente de uma crescente constelação de migrantes.

É gente formada, em geral, nas boas escolas e, como é normal entre os imigrantes, são empreendedores e esforçados. Alguns montam seus próprios negócios e ajudam a inovar e gerar empregos. Vejo como muitos deles prosperam rapidamente, beneficiados pela criatividade baiana combinada com a disciplina paulistana.

Quando se estuda por que determinada empresa, cidade ou país prospera e se destaca sempre vamos encontrar os inovadores. Os inovadores gostam de estar com outros inovadores pela simples razão de que detestam a repetição e a mediocridade.

Quando estudamos porque uma empresa, cidade ou país entra em decadência, vamos encontrar também a fuga ou o sufocamento de seus inovadores esse é o custo do déficit de inteligência.

O que é um superávit extraordinário para São Paulo é um tenebroso déficit para quem exporta essa mão-de-obra.

O que me deixa perplexo é que, na Bahia, quase ninguém parece perplexo com esse déficit de inteligência, o que acaba estimulando um círculo vicioso do baixo capital humano. Isso vai a tal ponto que um professor, baiano, chega dizer que seus conterrâneos são burros o que, além do estúpido preconceito, simboliza uma autodepreciação.

Gilberto Dimenstein é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às segundas-feiras.

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